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Luto. De mãos dadas para enfrentar tempos brutos após as eleições. 15/05/2019
Terça-feira: 14 de maio de 2019
Folha de S.Paulo – De super-herói a lacaio
Moro precisa mais de Bolsonaro do que o contrário, e o presidente sabe disso
Joel Pinheiro da Fonseca
A passagem de Sergio Moro pelo Ministério da Justiça em sua caminhada para o Supremo prometia ser a marcha triunfal rumo à coroação.
Primeiro, institucionalizar o combate à corrupção tal como feito pela Operação Lava Jato. Na sequência, sentar-se na mais alta corte do país para não deixar os corruptos impunes. Agora, graças aos tropeços políticos, o trajeto parece mais um longo corredor polonês de humilhações. E de destino incerto.
Moro se apequena diariamente em sua relação com o governo do qual topou participar. Teve sua indicação de Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária vetada pelo presidente, pela qual teve de pedir desculpas públicas.
Aceitou o papelão de tirar foto com o ex-ministro Vélez Rodríguez e anunciar a “Lava Jato da Educação”. Mantém um silêncio constrangedor sobre as fortes evidências de corrupção que circundam a família Bolsonaro.
Tem sido sumariamente ignorado quando o assunto é liberar as armas de fogo (o decreto mais recente foi anunciado publicamente antes mesmo do parecer do Ministério da Justiça).
E agora observou o governo abrir mão da promessa de manter o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sob sua alçada para facilitar a aprovação da reforma administrativa junto ao Congresso.
Moro precisa mais de Bolsonaro do que o contrário. Para virar ministro, largou a magistratura. Se sair do governo sem uma cadeira do STF, fica sem nada e com a reputação manchada não só pelo fracasso de sua gestão como pela subserviência e parcialidade demonstradas. Bolsonaro sabe disso. E é por isso que em todas as ocasiões em que apoiar seu superministro lhe custa alguma coisa, opta por desautorizá-lo.
Dizer em público que indicará Moro para o STF é balançar na frente do ministro a recompensa prometida; lembrá-lo de que todas as humilhações terão valido a pena lá na frente. Mas 2020 está longe. Se Moro em cinco meses foi de superministro e herói nacional a uma figura apagada e diminuída, será que nesse ritmo ele dura mais um ano e meio?
E, se durar, será aceito pelo Senado? Rejeitar um indicado para o Supremo seria inédito, indicaria o estágio terminal da crise entre Executivo e Legislativo. Nos dias que correm, já não é impensável.
Assim, Moro vai engolindo todos os sapos que o governo lhe apresenta, e ainda tem que fazer cara de quem gostou. Tem que trilhar um caminho difícil entre a subserviência e a insubordinação. A cada passo em falso, perde estatura.
A outra possibilidade seria abraçar de vez a política e se lançar candidato. Mas se quiser manter sua força perante a opinião pública terá que demonstrar força e não servilismo.
Bolsonaro usou a bandeira anticorrupção para crescer politicamente sem jamais fazer nada pela causa. A realidade de seu gabinete (e de seus filhos) parece mostrar um político imerso na pequena corrupção da política brasileira e talvez com vínculos ainda mais sórdidos.
Moro continuará em silêncio, para não desagradar o chefe que não lhe concede o mesmo respeito e cujas propostas populistas dificultam seu trabalho?
Ou fará jus à reputação que construiu ao longo de anos de perseguição implacável –e de alto grau técnico– à corrupção no país? Melhor arriscar tudo e permanecer um herói do que aceitar tudo e se transformar no lacaio abjeto de um projeto de poder inescrupuloso.
Terça-feira: 14 de maio de 2019
Valor – Os trunfos do presidente e do superministro
Por Maria Cristina Fernandes | De São Paulo
Ao assumir o Ministério da Justiça debaixo de um bombardeio, Sergio Moro valeu-se do discurso de que iria para o governo porque sua pauta havia sido aceita pelo presidente. Acusado de ter aderido ao vencedor de uma disputa em que o principal concorrente era seu prisioneiro, Moro se defendeu dizendo que o presidente havia aderido à sua pauta, e não o contrário.
O ministro voltou a usar o mesmo argumento ao ser fritado em praça pública pelo presidente da República na entrevista à Rádio Bandeirantes. Ao dizer que assumira o compromisso de indicar Moro ao Supremo porque o ministro havia aberto mão de 22 anos de magistratura, Bolsonaro tentou colar a barganha no ministro.
Permitiu a livre interpretação de que Moro não foi para o governo em busca de realizar seu projeto de combate à corrupção mas de uma prebenda. Antecipa assim sua defesa contra futuras alegações de uma saída motivada pela frustração da pauta anticorrupção.
Não fez questão de defender os superpoderes de Moro. Ao contrário. Disse que se o conselho que controla atividades financeiras no país, o Coaf, voltar para o Ministério da Economia, não oferecerá problemas para o ministro da Justiça, que mantém boas relações com Paulo Guedes.
E foi além. O Coaf, disse, deve se manter independente. Só não pode vazar informações. Depois de deitar e rolar em cima dos vazamentos da Lava-Jato contra seus adversários na política, o presidente teve que amargar o expediente, desta vez, contra seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que teve sua movimentação bancária exposta antes da quebra oficial do sigilo autorizada ontem pela justiça federal no Rio.
Se Bolsonaro atraiu Moro para o governo para neutralizá-lo, com sucessivas derrotas, e uma promessa irrealizável, como a da vaga no Supremo, porque exposta a 18 meses de intempéries, o ministro da Justiça também tem seu trunfo na queda de braço com o presidente.
O principal são as relações da família Bolsonaro com as milícias. Com ou sem Coaf, Moro tem como avançar nas investigações que hoje cercam o senador Flávio. Se Fabrício Queiroz ainda não teve um mandado de prisão expedido contra si é pelas salvaguardas de um momento político ainda muito distante da sucessão presidencial.
A despeito dos desgastes enfrentados desde sua posse como ministro, Moro mantém popularidade capaz de rivalizar com o presidente da República no seu eleitorado. E poderá turbiná-la ainda mais se, ao prosseguir na sua pauta, como tem dito, cruzar com o caminho do filho e, por que não dizer, do próprio presidente.
As crescentes hostilidades de Bolsonaro contra os militares de seu governo ajudaram ainda a selar velha aliança da farda com o antigo togado. Agraciado pelo então comandante do Exército, o general Eduardo Villas-Boas, com a principal condecoração da arma, a Ordem do Mérito Militar, em 2017, Moro foi alvo, na semana passada, em pleno tiroteio entre o capitão e seus generais, de singela homenagem.
Villas-Boas compareceu à sessão da Comissão de Segurança da Câmara que ouviu o ministro sobre o pacote anticrime. Com o tuíte da véspera, contra o preferido do presidente, Olavo de Carvalho, demonstrara desencanto com seu escolhido em 2018. Com sua presença, sinalizou que seu encanto já tem nova guarida.