Destaques
Luto. De mãos dadas para enfrentar tempos brutos após as eleiçoes. 21/03/2019
Quinta-feira: 21 de março de 2019
O Globo – Análise – É difícil governar só para convertidos
Paulo Celso Pereira
Uma das origens da crise que fulminou o segundo governo da ex-presidente Dilma Rousseff estava na incompreensão da petista em relação ao resultado de sua reeleição. Após derrotar o tucano Aécio Neves pela menor margem vista em nossa história republicana, Dilma entendeu que a população lhe dera um salvo conduto para dobrar a aposta em seu estilo. Tratava-se do oposto. Em vez de processar o mea-culpa pelos muitos erros cometidos até então, Dilma fechou-se ainda mais em torno de seus seguidores incondicionais. Deu no que deu.
Desde que foi eleito, o presidente Jair Bolsonaro adotou postura semelhante. Em nenhum momento fez acenos aos derrotados e seguiu com ataques a inimigos reais e imaginários — em suma, todos que não partilham integralmente de sua visão de mundo. De fato foi o discurso radical que o tirou do baixo clero do Congresso e o levou ao papel de principal representante da direita brasileira. Mas sua chegada ao Planalto não foi consequência de um alinhamento da sociedade com o discurso extremista. Pelo contrário.
A principal razão para sua eleição foi a rejeição da maioria da sociedade a dar mais um mandato presidencial ao PT. Durante a campanha, as pesquisas mostravam que qualquer adversário, que não Fernando Haddad, bateria o então candidato do PSL no segundo turno.
Em vez de olhar para o resultado com humildade e buscar um caminho que unisse o país após quatro longos anos de crise política, o presidente optou pelo oposto. Desde outubro, suas manifestações são direcionadas essencialmente para o núcleo que o tirou do ostracismo, os militantes mais aguerridos da direita brasileira. Nessa trilha, Bolsonaro abriu mão inclusive de organizar uma base parlamentar que dê sustentação efetiva às reformas imprescindíveis para a retomada econômica.
A pesquisa Ibope divulgada ontem mostra que a estratégia está dando errado. A queda de 15 pontos percentuais na avaliação positiva do governo em dois meses é de impressionar. Para efeito de comparação, quando a crise de popularidade de Dilma começou, pouco depois da reeleição, sua avaliação despencou19 pontos no Datafolha igualmente num período de dois meses, entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015.
O patamar atual de Bolsonaro ainda é significativamente melhor que aquele do início do segundo governo da petista, mas há um ditado que deve servir de alerta: em pesquisa, o que vale é o “filme”, não a “foto”.
Quinta-feira: 21 de março de 2019
O Estado de S. Paulo – Após sofrer cobrança, Maia ataca Moro
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu à cobrança de Sérgio Moro para colocar o pacote anticorrupção em tramitação. Chamou o ministro da Justiça de “funcionário” de Bolsonaro e o acusou de “copiar” proposta de Alexandre de Moraes, discutida no ano passado.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusou ontem o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, de desrespeitar um acordo do governo ao cobrar que o pacote anticorrupção seja discutido simultaneamente à reforma da Previdência. Maia afirmou que o ministro é “funcionário” de Bolsonaro e que se o governo quiser mudar a tramitação das propostas é só o presidente pedir. Sobre o pacote, disse ser uma “cópia” da proposta capitaneada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
“Funcionário do presidente Bolsonaro? Conversa com o presidente Bolsonaro e se o presidente Bolsonaro quiser, conversa comigo. Eu fiz aquilo que acho correto”, afirmou Maia. Mais cedo, Moro disse, no lançamento da Frente Parlamentar de Segurança, a chamada bancada da bala, que procuraria Maia para pedir celeridade ao pacote. “Vou conversar respeitosamente com o presidente da Casa.”
Moro reagia à decisão de Maia de criar um grupo de deputados que, por 90 dias, vai analisar o projeto antes de começar a discussão em uma comissão da Casa, o primeiro passo da tramitação. A medida, na prática, “trava” a discussão das propostas.
O presidente da Câmara afirmou que o ministro conhece “pouco a política”. “Acho que ele (Moro) conhece pouco a política. Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro, funcionário do presidente Bolsonaro. Então, o presidente Bolsonaro é quem tem que dialogar comigo. Ele está confundido as bolas. Ele não é presidente da República. Não foi eleito para isso. Está ficando uma situação ruim para ele”, disse.
As afirmações do presidente da Câmara representam um novo revés para Moro como ministro. O ex-juiz da Lava Jato disse em mais de uma ocasião que deixou a magistratura pela possibilidade de tornar a legislação mais rigorosa e implantar medidas que ajudassem o País a combater a corrupção. Ele tem esbarrado, porém, na rejeição de parte dos parlamentares, que o acusam de ter criminalizado a atividade política.
Cópia. Maia ainda acusou Moro de “copiar” uma outra proposta discutida no ano passado por uma comissão de juristas presidida por Alexandre de Moraes. “O projeto é importante. Aliás, ele (Moro) está copiando projeto do ministro Alexandre de Morais, copia e cola. Então tem poucas novidades no projeto dele”, disse. “Vamos apensar um ou outro projeto, mas o prioritário é o do ministro Alexandre de Moraes. No momento adequado, depois de votar a Previdência, vamos votar o projeto dele. O que precisamos é que o ministério da Justiça diga, com a estrutura que tem, como fará combate ao crime organizado”.
A reação de Maia também ocorre após ele virar alvo de apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais por críticas à proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo. Ele também causou indignação entre militares por ter afirmado, anteontem, que a categoria chegou no “fim da festa” ao propor a reestruturação das carreiras como contrapartida a mudanças nas regras de aposentadoria.
Em nota enviada pela assessoria do ministério da Justiça, Moro afirmou que apresentou em nome do governo Bolsonaro, “um projeto de lei inovador e amplo contra crime organizado, contra crimes violentos e corrupção, flagelos contra o povo brasileiro”. “A única expectativa que tenho, atendendo aos anseios da sociedade contra o crime, é que o projeto tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso Nacional com a urgência que o caso requer”, disse.
“Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”, afirmou o ministro. “Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialidade com o Presidente da Câmara, e espero que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs. Não por questões pessoais, mas por respeito ao cargo e ao amplo desejo do povo brasileiro de viver em um país menos corrupto e mais seguro”, completou.
Reunião governamental, segundo o chargista Dorinho