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Respeitável público: hoje tem noivos sob a lona
Por Carolina Ribeiro
RIO – Sob uma lona em azul e branco recheada de lâmpadas pendentes, o músico Matheus VK e a diretora de TV Daniela Gleiser festejaram seu casamento numa cerimônia ditada por tradições judaicas num cair de tarde de abril, no Alto da Boa Vista. No cenário com toque circense, os noivos trocaram declarações de amor e cederam o microfone a amigos e familiares. A postos nos bastidores do casório, o fotógrafo Stefano Aguiar cochichou:
— Há 11 anos fotografo casamentos, e nunca tinha visto uma cerimônia numa estrutura como esta, tão bonita.
A ideia foi dos próprios noivos, que queriam casar num jardim, o que os obrigou a providenciar uma área coberta.
— A lona de circo dá um clima lúdico. Foi engraçado porque, nos discursos, meu tio comentou que somos pessoas do palco. O picadeiro tem a ver com esta ideia. O Matheus brincou que ia pedalar um monociclo até o altar — lembra Daniela.
A chuva de arroz do casamento da designer Ana Dias e do professor Gustavo Prado, em novembro do ano passado, em Santa Teresa, foi despejada debaixo do mesmo “teto”: uma lona de circo nas cores prata e branca.
— As opções eram coloridíssimas, mas escolhi a mais neutra que pude. Como alugamos de última hora, fiquei com medo de serem escalafobéticas — brinca Ana.
Não apenas de noivos emocionados são povoadas as lonas de circo. Festas na rua e eventos de gastronomia também embarcaram no modismo. A ameaça de uma tempestade, em julho passado, não deu alternativa à Camila Felix, na época produtora da Tiradentes Cultural, ocupação da Praça Tiradentes com barraquinhas de comida e performances. O jeito foi pegar emprestada a ideia de armar um picadeiro — solução que chamou sua atenção numa roda de samba.
— Fizemos um evento com previsão de chuva fortíssima. Tinha visto uma estrutura dessas num samba na Glória e fui atrás do contato — conta a produtora.
Desde a primeira edição, o picadeiro foi adotado como marca registrada do evento: faça chuva, faça sol (a ocupação acontece de dia), a estrutura de seis metros de altura presa ao chão por três estacas de ferro está sempre lá. Hoje à frente de outro evento, a feira itinerante de gastronomia Coro Come, Camila repetiu a ideia. A tenda amarela e azul serve como marcação para delimitar a praça de alimentação. Do lado de fora, barraquinhas de comida e tenda com DJ tocando vinil envolvem a lona.
— As pessoas veem de longe, é um ótimo investimento — propõe.
Ainda mais colorida é a estrutura da festa Acarajazz, cujo picadeiro é preto, cinza, amarelo, branco e azul. O DJ Bruno Eppinghaus reforça que a lona é uma espécie de convite para o evento.
— A gente está na rua, a lona de circo ajuda a identificar a festa. Já tivemos diversas combinações de cores e tamanhos. É como se a estrutura acolhesse os frequentadores — opina Bruno.
A profusão de eventos em picadeiros é, digamos, proporcional ao crescimento do número de empresas que oferecem o serviço.
— Ano passado, apenas cinco empresas alugavam lonas. Hoje, são 15 — calcula Thiago Silva, dono da Mais que Tendas, que monta de cinco a dez lonas nos finais de semana.
No depósito, em Campo Grande, um time de costureiras fabrica as próprias lonas. São mais de 50. O aluguel, a partir de R$ 200, é por dia. Thiago vai ao local do evento com dois funcionários, instala e desarma o cenário 24 horas depois.