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Palhaços do La Mínima criam Ordinários

 

Filipe Bregantin, Fernando Sampaio e Fernando Paz em Ordinários / Asa Campos

 

Mônica Rodrigues da Costa, especial para Panis & Circus*

A Companhia LaMínima comemora 21 anos de ilustre trajetória e criou o espetáculo “Ordinários” que se apresentou nessa sexta-feira, 14/6, e no sábado, 15/6, e domingo, 16/6, às 18 horas, no Sesc Bom Retiro, durante CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo.   

Por meio de palhaçadas, é mostrada a violência do uso das armas, o autoritarismo, a selvageria do ódio e revelam o significado da paz. No enredo, três soldados (Fernando Sampaio, Fernando Paz e Filipe Bregantim) integram um pelotão no campo de guerra e recebem a missão de salvar o major da companhia, no momento liderada por um tenente que só se comunica com a tropa por meio de mensagens com sinais em Código Morse — que troca as letras do alfabeto por pontos e traços.

 

Ordinários e o aparelho de Código Morse / Asa Campos

 

Esses personagens formam um trio de velhacos sem nenhum caráter, que se movimentam entre o acampamento e a trincheira, portam metralhadoras, espadas e todo tipo de faca e facão e atiram para todos os lados sem dó. Estão famintos, com sono e exaustos. Abatem aves a tiros para servir de alimento e brincam de apontar suas armas a todo momento. 

Na peça, com concepção de Alvaro Assad, Paz, Sampaio e Bregantim e roteiro de Newton Moreno, Assad e LaMínima, os palhaços fazem treinamentos em que precisam matar e morrer, e convivem com bombas e minas que são detonadas ao mínimo contato humano. Aprendem o que é medo, perseguição e a odiar o inimigo, sempre à espreita.

Será que tal apologia à violência e ao uso de armamentos representa, por coincidência, o embate travado na sociedade brasileira pela ameaça – real, sem comédia – da liberação do uso de armas? O decreto do presidente Jair Bolsonaro que flexibiliza o porte e posse de armas entrou em vigor, em 8 de maio. O Senado derrubou esse decreto em 18 de junho, terça-feira, que agora será debatido na Câmara dos Deputados.  

 

Trio se alimenta antes de ir para a batalha / Asa Campos

 

Os três palhaços ordinários provocam risos o tempo todo quando dão ordens militares estapafúrdias ou se estapeiam até enfrentar o exército inimigo. O soldado (Filipe Bregantim) é mandão, que organiza o acampamento e ordena que o sol se ponha ou que amanheça e dispara orientações que recebe em forma de comandos.

O soldado, chamado de senhor pelos outros dois palhaços, vive em embate com seus subordinados, dois trapaceiros desorganizados, que erram tiros e engabelam o chefe tirânico – representados por Fernando Sampaio e Fernando Paz. Os três compõem a Cia. LaMínima e se valem de mímica, interpretação de ator dramático, palhaçaria, música, que executam ao vivo, e teatro físico na composição de “Os Ordinários”. 

 

 

Com o passar dos dias o mapa encolhe / Asa Campos

 

Os treinamentos bélicos consistem em exercícios que eles afirmam serem conhecidos como ADMs – Armas Letais de Destruição em Massa. O personagem de Fernando Paz pergunta onde está o “L” na sigla, mas o soldado desconversa, no estilo das não-explicações da palhaçaria, e também dos dias atuais.

Quando o pelotão – integrado pelo soldado autoritário e pelos dois palhaços – exagera na desobediência, um deles (Paz) tem sempre uma carta, literalmente, na manga para mudar o foco da piada.

Uma das missivas provoca saudades dos tiroteios na cidade natal do soldado-chefe, que recebe a feliz notícia de que sua sobrinha de dez anos ganhou um fuzil de presente de aniversário!

Cada cena é calculada no espetáculo, com diálogos fluentes e a direção como sempre exata de Alvaro Assad.

 

Soldado Paz tem sempre literalmente uma carta na manga / Asa Campos

 

 

Mentiras e falsificações

“Ordinários” é construído a partir de mentiras e falsificações, sons de explosão, fuzilamentos, sangue derramado, risadas e cantos de pássaros, o que impõe um ângulo paradoxal aos diálogos.

Na relação da ficção circense com a vida real não é mera coincidência. Não é à toa que se popularizou a frase que diz que os artistas são as antenas da raça. Atores, poetas, músicos, dançarinos, palhaços treinam a percepção e anteveem no presente problemas que a sociedade só se dará conta de que existem meses ou anos depois de serem apontados na arte.

 

Saiba mais sobre a Companhia LaMínima nos links abaixo.

 

Montagner e a linha do tempo

 

Filme destaca palhaços Montagner e Sampaio

 

 

Ficha técnica:

Ordinários

Concepção: Alvaro Assad, Fernando Paz, Fernando Sampaio e Filipe Bregantim

Direção e preparação mímica: Alvaro Assad

Roteiro: Newton Moreno, Alvaro Assad e La Mínima Circo e Teatro

Elenco: Fernando Paz, Fernando Sampaio e Filipe Bregantim

Direção de produção: Luciana Lima

Produção executiva: Priscila Chá

 

Local: Sesc Bom Retiro/Teatro – alameda Nothmann, 185, Campos Elíseos, fone: 3332-3600

Dias e horário: sexta (14/06), às 21 horas; sábado (15/06) e domingo (16/6), às 18 horas

 

 

*Colaborou a Redação  

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