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Espetáculo ‘Acesso Livre’ celebra primeira fase do projeto Mobilidade Artística, produção da Sabatino Bros, com apresentação nos dias 1/10 e 2/10, no Teatro João Caetano
Fernanda Araújo, especial para o Panis & Circus
Procura-se “pessoas com deficiência que possuam habilidades artísticas e queiram desenvolvê-las”. O convite a integrar o projeto Mobilidade Artística foi feito nas redes sociais, no mês de março, pela Sabatino Bros, produtora cultural dos irmãos Martin e André Sabatino. Veteranos do circo, em pouco tempo os rapazes articularam entidades especializadas, colegas do meio artístico, escolas e profissionais de saúde, beneficiando 130 deficientes, com oficinas em quatro cantos da cidade de São Paulo. A primeira parte desta ação será celebrada com o espetáculo gratuito Acesso Livre, nos dias 1 e 2 de outubro, às 20h, no Teatro João Caetano.
O espetáculo Acesso Livre traz à tona a questão da deficiência e, principalmente, da superação. A noite terá início com a apresentação da montagem ‘Se Fosse Fácil, Não Teria Graça’, do palhaço Nando Bolognesi (palhaço com esclerose múltipla), e seguirá com ‘Vida e Circo’, da Cia. Circodança Suzie Bianchie (com atores deficientes e não deficientes). O público atendido nas oficinas não estará no palco desta vez, mas terá a oportunidade de ver, na prática, que os limites podem ser superados.
“Nosso objetivo é incentivar e oferecer meios para que cada pessoa supere seu limite. E o limite é diferente de pessoa para pessoa. Mas todos têm potenciais. O projeto Mobilidade Artística se apropria da arte como forma a diminuir muros e barreiras”, explica Martin Sabatino.
Da cidade de Campinas, os irmãos Martin e André aprenderam ainda na família que ajudar os outros é fundamental. “Minha mãe é uma pessoa amorosa, atenciosa e faz um trabalho incrível de humanização do parto. Ela nos ensinou o quanto fortalecer a mulher é importante. Em nossos projetos, procuramos cuidar do entorno e contribuir com a comunidade. Valorizamos o empoderamento feminino, o cuidar do idoso, das minorias, da inclusão de pessoas com deficiência”, explicou Martin.
SAIBA MAIS…
Apoio financeiro
Realizadora do projeto, a Secretaria Municipal de Cultura acolheu a proposta de imediato e recebeu apoio fundamental do vereador Masataka Ota.
“No meu mandato, tenho como meta a palavra ‘Superação’. Tenho várias ações no sentido de incentivar o esporte e o paradesporto. Assim que soube do projeto Mobilidade Artística eu não pude ficar de fora, para fazer jus a minha história, que também é de superação”, disse senhor Ota, que também estimula os colegas políticos e a iniciativa privada a apoiarem ações deste porte.
Acesso Livre
Em Acesso Livre, a proposta é iniciar com o espetáculo ‘Se Fosse Fácil, Não Teria Graça’, do palhaço Nando Bolognesi, e seguir com ‘Vida e Circo’, da Cia. Circodança Suzie Bianchie.
O primeiro, mais denso, é uma espécie de palestra-espetáculo, inspirada no livro ‘Um Palhaço na Boca do Vulcão’ (Ed. Grua), de autoria do próprio artista. O roteiro narra, com humor, a trajetória do autor/intérprete que relata os desafios de conviver com as limitações impostas pela esclerose múltipla, doença degenerativa e incurável (até agora). A fala humana e comovente do palhaço veterano traz à tona reflexões sobre a vida, com as fragilidades que todos nós temos, a importância de curtir o momento e a certeza de nossa finitude.
Em ‘Vida de Circo’, circenses, atores e bailarinos contam a história da cigana Laura e o cotidiano do circo, como lavar roupa, as viagens e os imprevistos. A montagem utiliza linguagem poética, dança contemporânea, dança de salão, esquetes de clowns e acrobacias. A companhia de Suzie Bianchie é conhecida pelo primoroso trabalho de adaptação dos movimentos para usurários de cadeiras de rodas e outras deficiências. A companhia apresentou-se no último dia 19 de setembro, no ‘Festival Sem Barreira’, no Centro Cultural Tendal da Lapa.
Inscrições/Oficinas
No primeiro momento, Martin convocou, por meio das redes sociais, pessoas que desejassem expressar suas artes. Interessados preenchiam uma Ficha de Manifestação de Interesse e gravavam um pequeno vídeo de apresentação mostrando o potencial artístico. A ficha, porém, não tinha caráter eliminatório. O objetivo era conhecer o candidato, identificar seus potenciais, experiências, demandas específicas e encaminhá-lo para a oficina mais próxima de sua residência.
As aulas ocorreram entre os meses de março e julho, no Céu Aricanduva, na escola Amorim Lima (Vila Gomes/Butantã) e em duas unidades da ACDEM – Associação da Casa dos Deficientes de Ermelino Matarazzo (https://www.acdem.org.br/): Casa 1 e Parque Ermelino Matarazzo.
Algumas oficinas ainda estão ocorrendo e outras estão em fase de adaptação. Na escola Amorim Lima, por exemplo, a aula que ocorria aos sábados deve entrar na grade escolar semanal em breve.
As oficinas promovidas no projeto de Mobilidade Artística valorizam a diversidade, amplificando a consciência corporal e o desenvolvimento de habilidade físicas. “O mundo da minha filha girava em torno da televisão. Com as aulas, percebo que ela despertou o interesse nas outras pessoas e isso tem ajudado até a criar laços com os irmãos e participar de suas brincadeiras”, relatou Elenilda Maria dos Santos, mãe de Ana Luisa, aluna da ACDEM.
Enquanto isso, a Ficha de Manifestação de Interesse continua disponível para aqueles que desejarem participar do projeto:
://goo.gl/forms/5t7innpgOtKALKuJ3
Sabanito Bros
Em 2013, após uma lesão no joelho, e impossibilitado de alçar voos no trapézio, Martin Sabatino decidiu mudar o rumo da trupe. Fez uma pós-graduação em administração de pequenas e médias empresas e transformou a companhia em produtora.
“Longe do picadeiro, tinha ainda mais responsabilidade com a gestão do negócio. Queria fazer a empresa crescer, mas não sabia lidar direito com contas, tributos e todos os processos burocráticos. O curso foi um divisor de águas. Durante a aula mesmo eu aprendia uma coisa e mandada um WhatsApp com instruções para os meus produtores. Com o tempo, estruturamos um novo projeto de negócio, uma marca, uma identidade sólida”. Assim, mudaram de Companhia Irmãos Sabatino para Produtora Sabatino Bros.
No período de transição, os irmãos Sabatino realizaram alguns trabalhos com uma produtora belga que, de volta à Europa, articulou a participação do grupo em um festival de Gotemburgo, na Suécia. O evento custeio as passagens e os rapazes levaram só o básico. “No circo de lá reconstruímos tudo o que precisávamos para circular com a turnê de ‘VaiqueeuVoo’. Alugamos uma van e fizemos apresentações na Bélgica, Suécia e Holanda. Foi um momento maravilhoso e nos fez repensar sobre os nossos objetivos”, disse Martin visionando o potencial e o futuro da produtora.
Hoje os rapazes fazem a gestão de projetos sociais e buscam soluções em projetos ‘espetaculares’, que visam emocionar e surpreender. “O circo já é uma escola em que lidamos com logística, planejamento estratégico e gestão. Só precisei aprimorar”.
Serviço:
Acesso Livre (conclusão da primeira fase do projeto Mobilidade Artística)
Data: 1 e 2 de outubro
Horário: 20 horas
Local: Teatro Municipal João Caetano
Endereço: R. Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino
Duração: 90 minutos
Entrada gratuita
https://www.sabatinobros.com/