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O galã cômico
Cena imaginada: Café/interior/dia: Sentada à mesa do café, a mulher toma um cappuccino e faz anotações em seu bonito moleskine. Vez ou outra, ergue a vista para os pedestres que passam lá fora, no dia ensolarado. Ao perceber, pelo canto dos olhos, a sombra do homem alto que acaba de entrar apressado, ela acena. Ele sorri tímido e vai cumprimenta-lá. Pergunta se está muito atrasado. Ela responde que não, está tudo bem. Ela é autora de telenovelas. Ele, um galã que fez sucesso numa novela que ela escreveu recentemente. A autora pergunta se pode ligar o gravador. O ator confirma. E começam a entrevista.
Foi assim que eu -a autora – imaginei o encontro com Domingos Montagner- o ator. Como numa comédia, a realidade estragou minha cena perfeita. O dia amanheceu chuvoso. E eu me atrapalhei toda para sair de casa. Embora more do lado do café, acabei me atrasando. Quando cheguei, era ele quem estava tomando um chá e lendo um livro. Quem chegou esbaforida fui eu. Quem sorriu tranquilo e dono da situação foi ele. Ao tirar meu moleskine da bolsa, estava todo amarfanhado. Demorei séculos para saber como ligar o gravador. Só consegui porque o próprio Domingos me ajudou. No final acionei um comando que apagou quase tudo, deixando registrado apenas 15 minutos das quase três horas de papo.
Quando contei a ele o infortúnio, Domingos riu e disse: “Melhor assim! Normalmente só fica na cabeça o que presta”. Ele tem razão. Talvez por isso eu me lembre de tudo que ele me disse naquela tarde chuvosa e fria.
Iniciar o texto por uma entrada em cena toda errada e desengonçada (ainda que a entrada seja minha) tem tudo a ver com Domingos Montagner. A cena é engraçada e, guardadas as devidas proporções, lembra uma entrada de palhaço.
Mais que tudo, é a menção à sua atuação como palhaço que faz os olhos de Domingos Montagner brilharem. É com paixão que ele discorre sobre os temas do palhaço, do circo, da comédia.
Para quem ainda não sabe: este homem alto, bonitão, que fez furor entre mulheres de todas as idades, cantos e recantos do país como capitão Herculano, da novela Cordel Encantado, atua como palhaço há mais de 20 anos.
Mas sua visão do palhaço não tem nada a ver com a do palhaço melancólico e poético. Não, nada disso. Para ele, “o palhaço não é melancólico coisa nenhuma, ele é engraçado. Ele pode até ter mensagens para dar, mas a função dramática dele é fazer rir”.
Quando pergunto se tem algo a dizer que nunca lhe perguntaram, Domingos mais uma vez me surpreende e volta a seu assunto favorito: diz que não gosta do desprezo com que, às vezes, tratam a velha e boa comédia, ou seja, o jeito que se fazia rir no Brasil tempo atrás. Como se fosse humor inferior, ultrapassado e sem inteligência. “Os grandes comediantes da nossa história não devem ser vistos como velhos, mas como mestres”. Com um sorriso largo, menciona Golias, Renato Corte Real e Jô Soares na Família Trapo, programa que ele assistia e adorava quando era criança.
Mas, diferentemente de outros atores, não foi na infância que nasceu seu desejo de atuar. Tudo aconteceu por acaso.
Neto de italianos, Domingos Montagner nasceu na zona leste de São Paulo, no Tatuapé. O pai era dono de um bar e restaurante. A mãe, dona de casa. Ele teve uma infância feliz, num tempo em que criança podia passar o dia na rua, subindo em árvores, jogando futebol e soltando pipa. Sempre estudou em escola pública e nunca repetiu de ano.
O único trauma de infância, se é que podemos chamar assim, foi não ganhar dos pais a tão sonhada bicicleta. A mãe tinha medo de que ele caísse e se machucasse.
Ele e o irmão ajudavam o pai no bar. Aos 15 anos, porém, Domingos foi trabalhar num escritório. Mas o que ele gostava mesmo de fazer eram as entregas. Encantava-se com o movimento das ruas. Adorava andar de ônibus elétrico!
Quando chegou o vestibular, a hora de escolher que profissão seguir, contra as expectativas dos pais, optou pela faculdade de educação física. Como professor da matéria, Domingos sempre gostou de trabalhar com educação. Entre outras disciplinas lançava mão de dinâmicas de grupo usadas no teatro. Por indicação de uma amiga, foi fazer aulas de teatro com Myriam Muniz. Quando fala de sua primeira mestra no teatro, Domingos exulta! Foi ali, com ela, que tudo começou!
Logo outro mestre é lembrado com carinho: Roger Avanzi, o palhaço Picolino. No Circo Escola Picadeiro, de Picolino, Domingos aprendeu a ser palhaço. Com Fernando Sampaio, montou uma dupla. Em 1997, juntos criaram a Cia. La Mínima. Desde então, os dois vêm montando uma série de espetáculos que são sucesso de público e crítica.
A televisão chegou mais tarde na vida de Montagner. Após participações, o primeiro papel que lhe deu mais visibilidade foi na série da Globo Divã. Mas foi como o temido capitão Herculano que ficou conhecido no Brasil todo.
Talvez por ter demorado, a fama veio para um homem maduro, com carreira sólida e cabeça no lugar. Dá para perceber que Domingos não se deslumbra com o “canto das sereias”.
Confessa que hesitou para aceitar o convite de fazer novela. Receava não ter tempo para seu trabalho no teatro. Só aceitou por ver a televisão como um veículo popular. Algo que ele valoriza muito.
Quanto ao atual trabalho, Domingos fala, muito empolgado, sobre seu personagem na novela de Glória Perez. Está feliz com Zyah, um guia turístico turco, encantador de cavalos que, segundo ele, lhe dá margem à comicidade.
Ele não se importa de representar galã. Embora pareça sincero ao dizer que não se acha bonito, sabe que seu perfil contribui para que ocupe esse papel. Afirma, no entanto, que existe uma figura de galã que lhe é muito simpática: o galã cômico. Cita Tarcísio Meira como um “genial” galã cômico: “É tão difícil de fazer! Um desafio, porque é outro tipo de humor”.
Por isso, as cenas que ele mais gostou de fazer em Cordel foi quando Herculano conheceu um automóvel e passou a ter aulas de direção. De fato, eu e minha parceira de autoria, Duca Rachid, quisemos lhe dar um presente com essa sequência. E Domingos deu um verdadeiro show. As cenas ficaram hilárias e tocantes. Vimos por trás de um homem cruel a alma de um menino.
Domingos é do signo de peixes. Brinco com ele: “Que tipo de peixe é você?”. Ele responde rindo: “Peixe-Palhaço!” Claro! Alguma dúvida?
Apesar de ter os pés no chão, entre emoção e razão, ele fica com a primeira: “Dois a um pra emoção!”. Casado com a produtora Luciana Lima, pai de três meninos, Montagner define o amor com a palavra: “Conforto”. Acho que isso quer dizer que é no amor que este ator-palhaço aquieta seu coração.
Para terminar, peço a ele para me revelar um segredo. Algo que nunca tenha dito em público. Depois de um tempinho, declara: “Eu queria ser o Rolando Boldrin! Outro dia, vi o Rolando no cinema. Eu queria tanto falar com ele mas não tive coragem”.
A confissão me deixa boquiaberta. Só faz aumentar minha admiração por este galã incomum, que é gente de verdade, tão simples, sem máscaras nem mistérios.
(Thelma Guedes)
Fotos:Raquel Espírito Santo
O Domingos Montagner realmente eu o vejo como um ser humanos sem igual, ele tem um lado humano um sorriso que encanta.
Gostaria muito um dia ter o prazer de conhece-lo.
Em relação a família dá pra ver que eu é apaixonado pela família ele é o que toda mulher gostaria de ter por perto, como homem, amigo, companheiro, marido, namorado, pai dos seus filhos e a Luciana tem ele com tudo isso, ela deve ser muito feliz, por ter essa pessoa maravilhosa como marido.
Parabéns para família Montagner que eu amo.
Salete.