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Espetáculo conta a magia dos sonhos
Atores falam do ato de sonhar por meio da dança e de números circenses como contorcionismo, arame, bicicleta e corda
Bruna Galvão
De olhos bem abertos, crianças e adultos sonham juntos com a personagem da peça “Uma Trilha Para Sua História” que, no mais profundo sono, vive fantasias. Enquanto dorme, sua mente é povoada por animais selvagens, como macacos, lagartos e aves, mas também por bailarinas, seres sinistros, amigos que são príncipes e, até mesmo, sonhos mudos. O espetáculo está no Sesc Pompeia até 4/8 e depois, seguirá para o Sesc Santo Amaro, onde ficará em cartaz nos dias 11 e 18 de agosto e 1, 8, 15 e 22 de setembro.
A peça retrata a influência (e manifestação) dos sentimentos e experiências vividos no cotidiano através dos sonhos – este mundo mágico e infinito. Isto justifica o fato de se ter sonhos alegres e tristes, sonhos rebeldes, sonhos bonitos e feios, sonhos engraçados ou sonhos surreais, tal como uma pintura de Salvador Dali. A narradora, por ser criança, leva bem a sério o fato de sonhar (ao contrário de muito adultos): por isto, só vai para cama com sua galocha (vai que no sonho chove!), com uma maçã (e se ela tiver fome durante o sonho?) e também, com um despertador bem barulhento (caso tenha um pesadelo, é possível acordar a tempo!). Ela também comenta que seu irmão gosta de dormir ao lado de algum jogo, pois caso tenha um sonho chato, ele terá com que se distrair sem se entediar.
Porém, quando a menina acorda, vê que sobraram resquícios dos sonhos em seu quarto: companheiros imaginários, objetos, pedaços de ações. Como é estranho acordar e ter muito de seu sonho ainda fresco em sua mente! Isto sem contar nas coisas repetidas que ela sonha ou nos sonhos que continuam, mesmo depois de se acordar e dormir de novo. Na história, a garotinha é sobrinha de “Mario”, o famoso poeta Mário Quintana. Ela cita um verso de seu “tio”: “Sonhar é acordar-se para dentro”. Para justificar o nome da peça, a menina ainda explica: ” E ele [“tio Mario” (Quintana)] dizia também: ‘Faça você mesma uma trilha para sua história’. Eu achei que ele falava de um caminho. Mas hoje acho que ele também falava de uma música. Ou de um sonho”.
As imagens que norteiam o ato de sonhar são descritas por meio de técnicas de teatro, dança e circo. Os atores Thaís Pimpão (a narradora), Ana Luiza Leão, Cida Sena, Fernando Fecchio, Luli Guimarães, Mariza Virgolino, Mel Bamonte, Renato Stéfani, Thiago Freitas, Vítor Bassi e Vitor Vieira entram e saem de cena nas mais variadas coreografias, estripulias e sons. Cada sonho tem sua própria música, propícia àquele momento: assim, se a menina tem um sonho calmo e sereno, a trilha sonora também o será, mas se for um pesadelo, uma música forte sonará. Em determinado momento do espetáculo, a narradora lê um velho dicionário: “A palavra sonho vem do Latim somnium, que significa ilusão. Já no inglês, dream vem da palavra dreeme, que significa joy — alegria, curtição — e também music – música. Então os sonhos e a música devem vir do mesmo lugar!”, surpreende-se ela.
Ao todo, são doze músicas instrumentais nos mais variados ritmos (como eletrônica, hip-hop e clássica) e uma música cantada por Zeca Baleiro. Todas foram compostas pelo diretor da peça, Gustavo Kurlat.
Kurlat conta que inicialmente compôs as canções para o livro didático “Brincadeira Em Todo Canto” (Editora Peirópolis) de Daniela Girotto, mas que quando as ouviu, percebeu que cada faixa era, na verdade, uma história: “Primeiro, pensei nas músicas mais para dançar e desenhar, por exemplo. Depois vi que elas juntas eram um espetáculo completo”. Isto aconteceu há cerca de um ano e, de lá para cá, o diretor deu início ao projeto. “Fui rigoroso na busca pelo elenco, já que a peça requer pessoas com uma ótima expressão corporal, seja para dançar, interpretar animais ou fazer números circenses como o do arame [corda bamba], da bicicleta [manobras com a bike], da corda [número de força e equilíbrio] e o do contorcionismo [realizados dentro de uma mala],” recorda-se Kurlat.
Ainda segundo Kurlat, somente uma música (a última do espetáculo) tem letra de propósito: “Um menininho chegou a mim e comentou que gostou muito da cena em que havia barro [representação gestual e corporal do que seria o barro]. Porém, não é que havia barro naquela cena, mas foi assim que ele a viu. Esta é a questão do espetáculo: é não fechar a leitura para que cada um a interprete a sua maneira”, explica o diretor, que confessou ao Panis & Circus que algumas das cenas da peça foram baseadas em sonhos que ele próprio tivera. “A cena do pesadelo [da narradora] foi um sonho real: sonhei que cinco mulheres estavam em uma espécie de aquário borbulhante”, recorda-se, Kurlat.
A seguir, a letra da música “Com Tudo o que eu Ouço (Piruetas)” escrita por Kurlat e interpretada por Zeca Baleiro.
A canção é, por si só, um bom resumo dos sonhos da menina-narradora:
COM TUDO O QUE EU OUÇO (PIRUETAS)
(Letra: Gustavo Kurlat – Música: Gustavo Kurlat e Ruben Feffer)
Ouço com os olhos, ouço com as mãos
Ouço com a boca com a maior atenção
Ouço tanto cheiro, ouço até com os ouvidos
Com o corpo inteiro, com os cinco sentidos (2x)
Danço miúdo, danço grandão
Canto em segredo ou igual um trovão
Pulo na lua, minhoco no chão
Faço os meus medos virarem canção (2x)
E faço desenhos com os sons/Piruetas em todos os tons (2x)
Faço de uma poça, mar /De uma piscada, olhar
No telhado mora o céu/ E em Saturno meu anel
E faço desenhos com os sons/Piruetas em todos os tons (2x)
Ouço com a boca com a maior atenção
Ouço tanto cheiro, ouço até com os ouvidos
Com o corpo inteiro, com os cinco sentidos
Faço desenhos com os sons/Piruetas em todos os tons
E faço desenhos com os sons/Piruetas em todos os tons…
Ficha técnica:
Roteiro, direção musical e direção Geral: Gustavo Kurlat / Coreografia: Dafne Michellepis e Marina Caron / Cenografia e adereços: Marco Lima / Figurinos: Isabela Teles / Iluminação: Wagner Freire / Trilha Sonora Original: Ruben Feffer e Gustavo Kurlat (participação especial: Zeca Baleiro). Direção de Produção: Patrícia Galvão / Bailarinos/ atores/ circenses: Mel Bamonte, Ana Luiza Leão, Cida Sena, Mariza Virgolino, Luciana Faria, Fernando Fecchio, Vitor Vieira, Renato Stéfani, Thiago Freitas, Vítor Bassi / Atriz/narradora: Thaís Pimpão / Patrocínio: Mattel
Fotos: Divulgação
Postagem: Alyne Albuquerque
Tags: Gustavo Kurlat, Salvador Dali, Uma Trilha Para Sua História, Zeca Baleiro