Arte em Movimento
Tortell Poltrona: um clássico do humor
Palhaço poeta revoluciona arte do riso
Bell Bacampos
“Todos somos palhaços, a diferença é que eu ganho a vida como um deles.” Disse o personagem. “Rir serve para que as pessoas se sintam felizes e tenham momentos de imortalidade. Quando uma pessoa ri, esquece que é mortal.” As duas frases são de Jaume Mateu Bullich, o palhaço catalão Tortell Poltrona: o poeta do riso.
Seu humor sofisticado e simples fascina. O espetáculo “Post-classic”, que reúne os melhores números de seu repertório, foi apresentado no sábado, em 27/7, às 19h, no Parque das Águas, e no domingo, em 28/7, às 15h, na escadaria da Igreja Santa Isabel, durante o Festival Mundial de Circo, em Caxambu.
A entrada em cena de Tortell Poltrona, no domingo ensolarado, é inusitada. Ele aparece no topo da escadaria da Igreja, de cara lavada, atrás da imagem de Jesus Cristo, e desce os degraus com uma fita adesiva nas mãos, que enrola em diferentes pessoas pelos locais que passa.
Ao chegar ao palco, instalado no pé da escadaria, o artista tira um bastão e pinta parte do rosto de branco, depois passa batom vermelho na boca e bochechas e lápis preto nos olhos, maquia-se e cria sua máscara de palhaço na frente do público. Na sequência, trava uma disputa com o microfone e fracassa várias vezes na tentativa de vestir o casaco xadrez.
Em dado momento, joga bolas prateadas na plateia, que as devolve para o palhaço. Depois, ele atira bolinhas que parecem ser de cortiça, que são remetidas de volta a ele no palco. Os olhares acompanham as idas e vindas das bolas.
O que parece ser uma brincadeira de criança muda num piscar de olhos. O público, pasmo, vê surgir nas mãos do palhaço uma caixa de ovos. Ele não tem dúvidas: começa a jogar os ovos na plateia, que, surpresa, devolve-os sem conseguir impedir que muitos se quebrem no chão.
O palhaço Tortell Poltrona faz parar a casca de um desses ovos na ponta do nariz, como num truque de mágico. A irreverência do palhaço subverte e transforma o esperado em surpresa: a cena comum é plateia jogar ovos em artistas que não lhe agradem. Tortell Poltrona joga ovos em um público que o aplaude e ri sem parar. Aliás, os intervalos entre as risadas são mínimos.
O palhaço escolhe um menino da plateia, coloca-o em cima de uma cadeira, dá em sua mão uma bomba com um pavio grande. Acende o pavio e sai de perto de fininho.
O menino fica lá no meio do palco com a bomba acesa nas mãos. Quem viu o palhaço jogar ovos na plateia teme o que há de vir por ali. Alívio. Tortell Poltrona vê que a bomba não explode, pede para o menino descer da cadeira e caminhar para a plateia.
Enquanto isso, chateado, joga a bomba para o local onde menino estava. A bomba explode e solta papéis picados no ar. O barulho assusta e a esquete provoca gritos e aplausos. Elogios para o tempo certo na provocação do riso.
É hora de o palhaço equilibrar uma flor no nariz. A delicadeza da imagem contrasta com a concretude do que vem a seguir: nove cadeiras de madeira, colocadas uma ao lado da outra, acabam no ar, equilibradas em seu queixo.
Não faltou a cena de pastelão do cinema mudo. Tortell Poltrona acaba com a cara enfiada em uma torta de suspiros graças a uma disputa com um voluntário da plateia, que contracena com ele no palco, os dois acompanhados da música “Ride Palhaço”, da ópera de “Paglaccci”, de Leoncavallo. Impossível não rir do palhaço.
Tortell Poltrona é um clássico do humor.
“O melhor palhaço”
“Tortell Poltrona é o melhor palhaço da atualidade”, afirma Fernanda Vidigal, gestora cultural e organizadora do Festival Mundial de Circo em Caxambu.
A história de Jaume Mateu, o palhaço Tortell Poltrona, mistura-se com a história política da Espanha. Sua carreira começou nos resquícios da ditadura de Francisco Franco, derrubada em 1976. “Eu sou catalão e naquela época a cultura catalã estava proibida. Comecei contando histórias e passando a cultura catalã para a frente porque ela poderia ser esquecida”, diz ao site “G1”. Ele é diretor do tradicional Circ Cric, localizado nos arredores de Barcelona. Acerca de seu codinome artístico, Tortell Poltrona, limita-se a dizer ao jornal “O Tempo” que não sabe a origem. Acrescenta que, para ele, “o palhaço não pertence ao mundo dos humanos. Pertence ao mundo das máscaras, das marionetes, está fora da realidade comum. Um palhaço pode falar da morte, um ser humano não”, compara.
Em 1998, Jaume Mateu fundou a ONG Palhaços sem Fronteiras, que leva o riso a campos de refugiados em diferentes partes do mundo. O ator disse que já realizou mais de 10 mil apresentações e passou por 98 países.
Para Jaume Mateu, ou Tortell Poltrona, a revolução das artes circenses resultou do encontro do circo com o teatro.
Postagem: Alyne Albuquerque
Tags: Festival Mundial de Circo de Caxambu, Tortell Poltrona
Relacionados
Circo apresenta números musicais cômicos e atrações aéreas com as artistas femininas Erica Stoppel, Maíra Campos, Bell Mucci e Lu Menin Mônica Rodrigues da Costa * O …