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“Rapunzel” tem pegada circense

 

 

E mostra a força e importância dos cabelos no decorrer da história 

Janaína Leite, especial para Panis & Circus

Quanto mais os elementos de uma história possuem capacidades caleidoscópicas de interpretação, maior a chance de o relato se tornar inesquecível. Tome-se como exemplo algumas narrativas que tratam dos cabelos, símbolos de força vital e de vínculo com o sagrado: Sansão perdeu os músculos quando bobeou na tesoura de Dalila, a “Moura Torta” fincou o pente na cabeça da princesa e enfeitiçou a moça quando esta última permitiu que a outra a penteasse, a Medusa aterrorizou os incautos com suas madeixas serpentinas.

No mundo real, os cabelos também possuem grande importância. Religiosos os escondem diante de estranhos, os vencedores da guerra raspam a cabeça dos adversários como um ritual de humilhação, as mulheres lotam os salões de beleza para copiar o corte da celebridade do momento. Talvez por isso um conto de fadas como “Rapunzel”, escrito pelos Irmãos Grimm há mais de dois séculos, tenha atravessado as décadas sem perder a capacidade de encantar adultos e crianças.

 

 

A companhia Le Plat du Jour, tradicional grupo de teatro infantil da capital paulista, é responsável pela mais recente versão de “Rapunzel”, que esteve, em cartaz, no Sesc Pompéia, aos sábados e domingos, às 12h, até o dia 4 de março.

A versão, escrita e dirigida por Alexandra Golik e Carla Candiotto, é recheada de bom humor e com uma levada circense, conta com Ziza Brisola e Adriana Telg. A trilha sonora do espetáculo coube ao compositor Toquinho, que coloca a voz no tema do príncipe. O cenário e o figurino são simples e bastante eficientes.

O texto de Golik e Candiotto é uma daquelas receitas que ficam no ponto exato. As duas souberam usar o recurso da repetição, à moda dos antigos números de palhaços. Aliado ao carisma de Brisola (ótima!) e Telg, “Rapunzel” se torna um ótimo programa para os pais e os pequenos. As atrizes, ágeis na fala e no humor físico, agradam facilmente à plateia, que se diverte com os bordões e trapalhadas de uma bruxa vaidosa, uma mocinha solitária, um príncipe dançarino e dois simpáticos rabanetes “radicais livres”, entre outros.

A trama mantém os ingredientes clássicos dos contos de fadas: a pureza da jovem contrasta com o egoísmo e o narcisismo da mulher mais velha, o príncipe que fica atraído por uma voz feminina que vem de longe, o animal de estimação que ajuda a heroína a enfrentar as agruras do cativeiro. Em pleno século 21, porém, a peça traz suaves matizes de contemporaneidade que servem à reflexão. Rapunzel, como tantas crianças da atualidade, é solitária e forçada a se tornar autônoma antes do tempo. Ela se ressente da falta de atenção da mãe postiça, não tem quem a oriente nas tarefas e vive fantasiando em encontrar alguém com quem possa se conectar.

 

 

Postagem: Alyne Albuquerque

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