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Bate-papo com os artistas de “Confusion”
Eles brincam com a arte da palhaçaria
Da Redação
Após o espetáculo “Confusion”, Pierre Byland e Mareike Schnitker, da Cie. Les Fusains, da Suíça, conversaram com o público presente, com a ajuda do tradutor, no domingo 31/5, no Sesc Santana.
Pierre Byland conta que quando começou na escola de Jacques Lecoq – uma das escolas mais conceituadas na arte da palhaçaria – não existiam mulheres palhaças. “No início do trabalho de palhaço com Lecoq a gente falava para as mulheres ‘sinto muito, mas não é para vocês’. As mulheres estavam proibidas de fazer palhaçadas, elas tinham que ser bonitas mas nunca ridículas”. Um dia, ao ouvir essa mesma ladainha, relembra, elas saíram da escola batendo a porta. “Vinte minutos depois voltaram com um figurino de um ridículo extraordinário e rimos muito. Desde então, as mulheres recuperaram todo o tempo perdido e elas recuperaram muito bem”.
O novo palhaço, acrescenta Pierre, nasceu também por acidente. Não estava previsto. “Durante dois anos, na escola, a gente queria muito fazer cômico e o Lecoq dizia: ‘parem, está muito ruim’. E estava todo mundo muito frustrado com a situação.” Foi aí então que o Lecoq se dirigiu à classe, perguntando: ‘vocês querem fazer rir?.’ E todos responderam que sim. E ele disse: ‘Então vamos fazer um terceiro ano e uma pesquisa cujo tema será quem quer fazer rir.'”
Diante disso, “um nosso amigo, que era o mais frustrado da classe, resolveu fazer uma improvisação que se chamava o ‘fazendeiro cavalheiro’. E foi horrível. A gente nunca tinha visto uma improvisação tão ruim. E quando ele terminou ninguém riu.” Desolado, ele sentou em um banco e tirou o nariz de palhaço. “Olhamos para a cara dele e começamos a rir. Rimos 25 minutos sem parar. Ele não entendia porque estávamos rindo. Ele não tinha feito nada. Lecoq entendeu que o riso aconteceu depois e não durante a improvisação. Nascia assim a pedagogia do fracasso. Depois a gente treinou muito esse fracasso tentando aceitá-lo e se tornou a base para a pedagogia do palhaço”.
O palhaço tem a força da ingenuidade que tem que ser aprendida todos os dias, diz Mareike. Questionada se vê semelhanças em sua atuação com a de Lucielle Ball, atriz norte-americana da série televisiva “I Love Lucy”, dos anos 50, ela responde: “Não. Não a conheço. E espero que seja um elogio!”. Ao que Pierre Byland acrescenta que Mareike está mais para Giulietta Masina (atriz que estrelou entre outros filmes “Estrada da Vida”, de Fellini). “Mareike é uma versão holandesa de Giulietta Masina”.
Clique aqui para ler mais sobre Giulietta Masina no filme “Estrada da Vida”.
Pierre faz questão de saudar a Avner, o mestre norte-americano da arte da palhaçaria, que está na plateia, assistindo ao debate no Sesc Santana. Segundo Avner, “ao palhaço é permitido fazer coisas que nós não podemos fazer: nos dizem sempre para não fracassar nunca. Mas o palhaço deve fracassar e depois sobreviver”. De 1971 a 1974, Mareike estudou na escola de Lecoq com Avner. (Clique aqui para ler reportagem sobre ele).
Para Mareike, a pedagogia do Lecoq é moderna e atual. E a escola dele não para de evoluir porque os professores que estão lá foram alunos de Lecoq e continuam a aplicar seu método.
Ao que complementa Pierre: “Depois da escola cada um vai desenvolver seu estilo. Todo mundo pode e vai achar o seu. O que Avner faz, por exemplo, não tem quem possa fazer porque é muito pessoal. É único”.
Segundo ele, sua admiração vai também para atores do cinema mudo como Buster Keaton, e para Grock, palhaço suíço, e que fez muito sucesso na Itália. “Quando Grock queria tocar piano e o piano estava muito longe em lugar de puxar a cadeira, ele puxava o piano. É extraordinário. Provoca o riso.”
Clique aqui para ler mais sobre Grock e seu “Museu do Clown” inaugurado na Itália.
Postagem – Alyne Albuquerque