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Batalha erudita de palhaços na Paulista
Espetáculo “2 por4”, apresenta-se no domingo (13/2), às 13h, em frente ao prédio da Fiesp
LEANDRO NUNES – O ESTADO DE S. PAULO
Andar de skate, pedalar, fazer piquenique e caminhar. Desde o fim do ano passado, essa tem sido a rotina de quem frequenta a Avenida Paulista todos os domingos. Amanhã, 14, às 13h, o Grupo Esparrama leva seu espetáculo 2Por4para dividir a calçada com todo esse público.
A montagem apresenta um quarteto de cordas que é surpreendido por dois palhaços. As duas figuras passam a competir pelo posse da batuta e pela regência dos violinos, da viola e do violoncelo.
Essa aparente invasão de territórios foi justamente o objetivo da companhia. “Queríamos descobrir quais os limites e possibilidades de interação entre a música erudita e os palhaços”, conta o integrante do grupo Iarlei Rangel.
A peça foi então construída durante encontros do Esparrama com a maestrina Ester Freire. Na sala de ensaio, o elenco testou a mistura de canções com gargalhadas, conta o ator Rani Guerra. “O palhaço costuma provocar o riso em cima do erro e do grotesco”, diz. “Isso não existe na música erudita, que é baseada na disciplina e no acerto. Os atores tiveram que conhecer esses detalhes para então brincar com eles.” O quarteto não ficou apenas na execução das canções e todos criaram cenas. “Os músicos acabaram virando atores, eles têm falas e participam”, conta Guerra.
Para Rangel, a montagem pretende desconstruir um estigma e promover a aproximação do público com o estilo musical. “Existe uma falsa ideia de que música erudita tem lugar para acontecer. Apresentar na rua não a desqualifica. Para isso, mantivemos o respeito aos arranjos e as características da música instrumental.”
Destinada a crianças e adultos, a peça também é um convite para a descoberta dos timbres produzidos pelos instrumentos musicais. Na lista de canções, estão trechos de obras de compositores clássicos como Mozart, Beethoven e Vivaldi.
E a chance de apresentar um trabalho como esse na Paulista vem a calhar. “A avenida tem uma estrutura e rotina para os negócios. De segunda a sexta, a rua fica tomada pelo trânsito”, conta Guerra. “Isso reforçava, de alguma forma, a ideia de que a rua é só lugar de carros. Uma sensação de que é mais fácil e cômodo permanecer em casa, de que é perigoso ficar andando por aí.”
O ator afirma que a abertura da avenida pode criar um relação que é primordial para o acontecimento teatral. “Lá nós vamos encontrar negros, brancos, gays, héteros e todo tipo de gente. Pessoas que foram se encontrar e que, durante esse trajeto, vão se encontrar com o teatro e com seus artistas”, ressalta. “Por isso, é muito mais que emblemático levar nossa peça para a avenida mais importante da cidade”, completa Iarlei Rangel.
A experiência de apostar em espaços não convencionais como ruas e casas faz parte das criações do Esparrama. Apesar de ser criado para o palco, as recentes apresentações de 4Por2 foram em quadras esportivas e praças. “A peça acabou ganhando uma certa maleabilidade. Conseguimos adaptá-la para outros espaços”, explica Rangel. Outro espetáculo da companhia, Esparrama pela Janelaaproveita a estrutura do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, habitualmente fechado para automóveis de segunda a sábado à noite, e domingos e feriados o dia todo.
Na peça, o público pode acompanhar do viaduto o espetáculo que é realizado nas janelas do edifício São Benedito. Por meio de cenas curtas, conta-se a história de um morador que, mergulhado em tanta poluição e sufocado pelo barulho do dia a dia, aposta em formas criativas para fugir do caos da cidade. As apresentações retornam nos domingos de março às 16h, entre a alça de acesso do Metro Santa Cecília e da Rua da Consolação, na altura do número 158 da rua Amaral Gurgel.
2POR4.
Calçada do prédio da Fiesp/Sesi.
Avenida Paulista, 1.313
tel. 3528-2000.Domingo, 14, às 13h.
Grátis.