Clip Click
Dark Circus deve apresentar-se no Brasil em 2017
Ivy Fernandes, de Roma
“Stereoptik”, do Dark Circus, entusiasma o público presente no Teatro Macro de Testaccio, em Roma, no sábado 22/10, durante o Festival Roma-Europa 2016. Esse festival acontece durante 72 dias, de 21/9 a 3/12, e reúne 47 companhias artísticas europeias e 524 artistas da dança, teatro, circo contemporâneo, música e audiovisual.
Durante 60 minutos de sonho e magia, os espectadores de “Stereoptik”, entram num universo em que os protagonistas são a música, as sombras dos bonecos e paisagens projetadas na tela.
Em entrevista ao Panis & Circus, os criadores do Dark Circus, os franceses Romain Bermond, escultor e desenhista gráfico, e Jean-Baptiste Maillet, músico e percussionista, afirmam que “exatamente como num restaurante preparamos tudo na hora, não existe nada pronto quando entramos em cena”. Da música aos desenhos, passando pelos filmes, tudo é feito em cena aberta.
Os dois artistas preparam-se para vir se apresentar no Sesc São Paulo em 2017. “As conversas estão adiantadas”, afirmam Bermond e Maillet. Eles conquistaram as plateias da Europa com um espetáculo que é, às vezes, nostálgico, e, às vezes, surreal.
Panis & Circus assistiu ao espetáculo, em 22/10, gostou do que viu e o descreve para seus leitores. O público entra num túnel escuro – as paredes e teto pintados de preto – no teatro Macro de Testaccio, em Roma, e depara-se no palco com uma grande tela e nos espaços laterais duas mesas: uma delas, à esquerda, com vários instrumentos musicais, e outra, à direita, com bonecos e figuras de animais feitos de madeira. E mais, ao lado: uma moviola, espécie de câmara, com um rolo de filme usado na época do cinema mudo.
E aí verifica que Dark Circus é um circo com atrações tradicionais só que protagonizado por desenhos projetados na tela com acompanhamento musical. Bermond e Maillet uniram suas habilidades e a quatro mãos fazem um espetáculo criado diante dos olhos do público – uma mistura de teatro das sombras, marionetes, cinema mudo, concerto musical e desenho animado.
Comédia desastrada em tempo real
Eles unem o circo e o humor noirs e o resultado é uma comédia desastrada em tempo real: trapezistas caem do alto de seus voos, domadores de animais são engolidos pelos animais e a mulher projetada pelo canhão se perde no espaço e não volta mais à Terra.
Os números circenses desenhados abrem a porta da fantasia: personagens extravagantes entram por ela e dominam o espetáculo.
O primeiro quadro apresentado no espetáculo, em 22/10, foi a sombra da trapezista e suas piruetas projetada na lua. Após a trapezista, entra o clown – que diz algumas frases na língua do país em que o espetáculo se apresenta – e estabelece a conexão com o público local. Na hora do leão, ele dá uns rugidos fortes destinados a amedrontar seu domador e o público – mas, na realidade, se trata de um truque do animal que está com preguiça de trabalhar e quer ficar em paz no seu canto.
O número do “cavalo indomado” é um dos mais interessantes – nascido e criado em campo aberto, de repente, o animal se vê preso em um pasto cercado. O cavalo, após tentativas vãs, consegue fugir e encontrar novamente o caminho da liberdade. O dono vai atrás dele mas acaba por deixá-lo livre como o vento.
Linguagem universal
Dark Circus tem uma linguagem universal ancorada em sombras, música e pode ser apresentado no mundo inteiro já que as barreiras da língua inexistem e a carga para o transporte do circo é mínima. Em Dark Circus os personagens circenses são irônicos e escrevem na tela: “Come for the show, stay for the woe” (Venham ver o espetáculo e fiquem para o desastre).
Maillet e Bermond falam com Panis & Circus
No final do espetáculo, no sábado, 22/10, Maillet e Bermond, em conversa com Panis & Circus, destacam que fazem tudo em cena, na base do aqui e agora. “Os filmes de curta metragem são realizados, no momento, e diante da plateia. O acompanhamento musical também é de nossa autoria e o produzimos em cena aberta. Utilizamos instrumentos tradicionais: violão, tambores e piano. Os desenhos são feitos de carvão, tinta e elementos como areia e pedrinhas. A cenografia também é desenhada em um grande rolo que é projetado da mesma forma que acontecia no cinema mudo. Tudo isto depois é animado com marionetes de papelão e madeira fina. Não utilizamos nenhuma tecnologia e não existe nenhum computador em cena. Existe uma fusão cênica com vários tipos de espetáculo e uma relação estreita entre a música e as imagens criadas no momento”.
Dark Circus deve desembarcar por aqui em 2017: os artistas afirmam que estão adiantadas as conversas com o Sesc/São Paulo.
Ilustrador de livros infantis influencia Dark Circus
A partir das estórias de Pef (Pierre Elie Ferrier), autor e ilustrador de livros infantis, entre os mais conhecidos da França, é que nasceu o projeto do Dark Circus. Pef encontrou os dois artistas e discutiram um projeto que retomasse processos antigos de animação: fazer desenhos e projetá-los nas telas e criar movimentos por meio de marionetes. Quase todo espetáculo é em branco e preto e somente no final entram cores.
Festival Roma-Europa 2016
O Festival Roma-Europa acontece de 21/9 a 3/12, em Roma, e foi criado em 1986, nos mesmos moldes do Festival d’Automne, em Paris. Esse ano o Festival Roma-Europa reúne 47 companhias europeias e 524 artistas de diversas áreas: dança, música, circo contemporâneo, teatro, exibições de audiovisual, que são apresentados em sete teatros e outros locais espalhados por toda a cidade.
Dentro da programação do festival, em novembro, outro espetáculo circense de qualidade: “Les Sept Doigts de la Main”, que Panis & Circus vai cobrir e trazer para seus leitores.
Ficha técnica: “Stereoptik”
Com Romain Bermond e Jean-Baptiste Maillet
A partir de uma história original de Pef (Pierre Elie Ferrier)
Dark Circus tem o patrocínio do Mistério da Cultura e da Comunicação da França
Postagem – Alyne Albuquerque