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Circos deve atrair em torno de 40 mil a 50 mil pessoas, o que corresponde a 10% dos quase 500 mil pessoas envolvidas em ações circenses durante o ano no Sesc, diz Lucas Molina, coordenador do festival
Bell Bacampos, da Redação
Hoje tem espetáculo. Começa nessa sexta-feira, dia 9 de junho, e vai até domingo 18, Circos – Festival Internacional Sesc de Circo em 13 unidades do Sesc em São Paulo. O público poderá ver 13 atrações internacionais inéditas e 18 nacionais, das quais oito serão apresentadas pela primeira vez.
Nesta edição do festival, o Sesc aumentou o número de sessões. Serão 130 – em 2015, agora o festival é bienal, foram 105 – e de 13 países: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Espanha, França, Itália, Suécia e Suíça, além da Alemanha, Finlândia, Holanda e Vietnã, que participam pela primeira vez do evento.
Em entrevista ao Panis & Circus, um dos coordenadores do festival Lucas Molina, do Sesc São Paulo, afirma que o evento reflete o crescimento da produção circense no País. Ele estima que o público deva girar em torno de 40 a 50 mil pessoas, o que corresponde, em média, a 10% das quase 500 mil pessoas envolvidas em ações artísticas circenses durante o ano nas unidades da instituição.
Na seleção das apresentações nacionais, Molina destaca a importância de espetáculos que reflitam a diversidade de um país com dimensões continentais como o nosso. Entre as estreias está “Balbúrdia”, da cia. Artinerant´s. O ensaio foi acompanhado pelo Panis & Circus. Em cena os artistas expõem os amores e humores dos relacionamentos. O mote é sintetizado em: “Desculpem a Balbúrdia. Estamos em construção.”
Na seleção dos projetos internacionais, o Sesc se valeu da ajuda de “olheiros”. Um dos espetáculos que atraíram a atenção de Molina foi “Knee Deep” (Pisando em ovos), produção canadense centrada em metáforas contemporâneas do dia-a-dia.
A seguir os principais pontos da entrevista de Lucas Molina para o Panis & Circus.
Panis & Circus: Qual foi o grande desafio na preparação do festival deste ano?
Lucas Molina: O grande desafio, quando a gente pensa em fazer um festival, é que ele cresça na mesma proporção da programação regular de circo dentro do Sesc. Desde 2010, nota-se um avanço na programação de circo na instituição. Em 2016, o Sesc promoveu 2.400 ações circenses nas unidades da instituição como um todo. Isso se reflete diretamente no festival de 2017. A gente está trazendo 27 espetáculos, 4 intervenções, o que dá um total de 31 ações artísticas, e 130 sessões entre as pagas e não pagas em comparação com as 105 sessões de 2015.
Panis & Circus: Qual a expectativa de público? E quantas pessoas assistiram aos festivais de circo em 2013, 2014 e 2015?
Molina: Estamos sempre de olho nos números. Em 2013, 23 mil pessoas assistiram à primeira edição de Circos. Em 2014, 35 mil, e, em 2015, 37 mil. A expectativa este ano é de que cheguemos a um público entre 40 e 50 mil pessoas – o que representa algo como 10% do que é atendido, anualmente, na área de circo, que oscila entre 450 e 500 mil pessoas no Sesc como um todo.
Panis & Circus: Qual o tema que define o festival neste ano e como compará-lo com as edições anteriores?
Molina: Se você pegar as três últimas edições do festival vai verificar que o Sesc lança um olhar diferenciado sobre o circo. Nós não tentamos fazer uma separação entre o que é circo itinerante e o que é trupe, o que é nacional e internacional. Entende-se o circo com diferentes perspectivas de espetáculos: infantis, familiares, dentro da sala de espetáculos ou dentro da lona. Essa é a perspectiva de ver o circo sob um novo olhar. Até o logotipo do festival é “Circos” no plural que sintetiza as diversas capacidades utilizadas pelo circo – desde a linguagem oral até a carregada de metáforas com a expressão do risco e riso.
Panis & Circus: O circo continua sob o novo olhar?
Molina: O Sesc incorporou esse novo olhar sobre o circo. Temos dentro da programação regular, mensalmente, espetáculos contemporâneos, tradicionais, em salas de teatro, fora de salas e muitas técnicas listadas. E aí resolvemos nos debruçar sobre o que se discute atualmente no circo. Neste ano, queremos discutir os trânsitos. O circo, historicamente, sempre foi uma arte de muito trânsito. Se você olhar dentro da composição artística de companhias nacionais ou até de circos itinerantes vai ver muitos estrangeiros envolvidos – sejam latino-americanos ou não. Investigar como esses trânsitos interferem na criação do País é um dos objetivos do festival. Queremos saber, por exemplo, como se traduz em sua arte o que um brasileiro apreendeu em uma grande escola europeia de circo.
Além disso, duas pesquisas, “Hábitos de Leitura” e “Públicos da Cultura”, feitas em parceria com o Sesc, mostram que o circo é a única linguagem que quando sai da capital (centro) tem maior número de oferta e mais público no interior (borda). Nesse festival queremos discutir centro e borda, identificar como o circo pode acessar essas bordas e investigar como os trânsitos determinam processos criativos de quem foi estudar fora do País.
Panis & Circus: Os artistas brasileiros foram buscar seu desenvolvimento artístico circense em escolas fora do País?
Molina: A partir da década de 80 surgiram escolas de circo no mundo inteiro e o Brasil ficou na borda, porque a gente não tem escola com graduação e não tem universidades. Ou se tem o circo social ou se tem as trupes. Não se consegue ter um local específico para residências e desenvolvimento artístico.
Nossos artistas então começaram a procurar escolas fora do País. A perspectiva de integrantes do Sesc e de outros lugares é de que circo é uma linguagem. É, nesse ponto, começamos a nos perguntar: o fato de se aprender circo fora do País, muda a forma como se enxerga o circo? O circo francês, por exemplo, tem técnicas que não são habituais nem no nosso circo das lonas itinerantes e nem em companhias que estão estabelecidas. A partir daí começaram a surgir novos elementos na nossa escrita do circo.
Panis & Circus: O público brasileiro entende as criações circenses contemporâneas?
Molina: O nosso público, às vezes, tem até dificuldade de entender o que está assistindo: “Ah, então isso é circo? Isso é teatro? O que que é isso? Que dramaturgia é essa que está sendo escrita?”. Desde 2014, a gente vem verificado o retorno dos artistas brasileiros que foram estudar no exterior, em países como Bélgica, Canadá e França. Eles retornam ao Brasil, com uma linguagem constituída, que não está na memória afetiva do circo que nós temos por aqui, ela está em outro espaço. E que espaço é este? O da memória ou do aprendizado na escola?
Na perspectiva do Sesc e do festival, a pesquisa do ano é saber que circo é esse que está aí em cartaz. Do centro, das bordas e as diferenças entre aprender a fazer circo em grandes escolas europeias e no Brasil e seus reflexos.
Panis & Circus: Como foi feita a escolha dos espetáculos internacionais?
Molina: A pesquisa é um dos grandes pilares que o Sesc realiza em todas as linguagens. E a gente tem diversos técnicos distribuídos pelo Estado que trabalham diretamente com a linguagem do circo, programando espetáculos em suas unidades. Esse pessoal, às vezes, participa de intercâmbios, de residências em outros países e aí começamos a construir uma pesquisa sobre os espetáculos que possam integrar as nossas programações regulares ou se encaixar dentro dos grandes festivais.
A gente acompanha, desde 2015, espetáculos e festivais na França, na Suécia, na Bélgica, em Portugal e na Bienal de Marselha, entre outros. E aí, com a ajuda de técnicos do Sesc, durante os dois últimos anos, foi selecionado um repertório de quase 200 espetáculos para pesquisa – o festival teve três anos consecutivos 2013, 2014 e 2015 e aí passou a ser bienal. É óbvio que não dá para falar de circo, até dá, mas é difícil falar de circo sem ter a França com algum espetáculo representativo, porque é uma grande escola e tem quase que 100 espetáculos sendo lançados anualmente. Procuramos, nos grandes centros, capturar as melhores produções, ampliar a pesquisa e chegamos até o Vietnã – é a primeira vez que a gente traz um espetáculo vietnamita de circo para o Sesc – e à Alemanha, à Finlândia e à Holanda, que também estreiam no evento. Essa foi a construção mais ou menos do festival – de tentar entender outras possibilidades de se fazer circo e justificar com o logo Circos essa pluralidade de escolas, de técnicas e também de formações diferenciadas de artistas.
Panis & Circus: E como foi feita a escolha dos nacionais?
Molina: No caso dos nacionais, levantamos a lista de todos os espetáculos, de 2013 a 2016, que haviam sido contemplados dentro do festival e já haviam estado ou estavam dentro da programação regular do Sesc. Com base nisso, tentamos, na medida do possível, não trazer companhias que já tinham participado do festival. Agora, é claro que trouxemos algumas que têm estreias nacionais porque, para a gente, é sempre importante e interessante trazer essas estreias que dão porte e corpo ao festival. Mas era preciso ampliar a pesquisa e oito Estados que nunca foram contemplados estão no festival. Ou seja, nós vamos apresentar um recorte de status da arte de circo no País de uma forma mais ampla.
Panis & Circus: Cresceu a produção circense no País?
Molina: A gente tem sentido um crescente movimento na produção circense e o Sesc está de alguma forma ligado a ele. Por exemplo, dentro do Sesc até bem pouco tempo, nós tínhamos dois festivais no Brasil como um todo: o Festclown – festival tradicional de palhaços, em Brasília, e Circos – Festival Internacional Sesc de Circo, que é o internacional daqui de São Paulo.
Nos últimos anos surgiram os festivais em Santa Maria (RS), o Pantanal (MT), e o Festival do Ceará, que começa a ter um desenvolvimento maior. Essa rede ampliada de festivais resulta de um maior processo de criação do circo também no País. Logo, a perspectiva da curadoria no campo dos nacionais é tentar contemplar as diversas possibilidades de fazer circo no Brasil, que é um país de dimensões continentais. As estéticas criadas são muito diferenciadas: um espetáculo que vem do Norte ou do Nordeste é diferente de um que vem do Sul ou do Sudeste. As diferenças estéticas estão ligadas principalmente à formação dos artistas. Podem estar ligadas ao palhaço, ao circo-teatro – que são duas fortes expressões artísticas do circo nacional – ou flertar com o circo contemporâneo e as novas técnicas trazidas pelos brasileiros que foram formados em escolas no exterior.
O fato é que o Sesc São Paulo entendia e estabeleceu como padrão que o circo é uma das três linguagens artísticas que compõem artes cênicas e isso passou a valer para o Brasil inteiro. Imagine, então, agora a gente tem cerca de 300 centros culturais no Brasil como um todo entendendo o circo como linguagem…
Panis & Circus: Essa maior movimentação circense está circunscrita ao Sesc?
Molina: Acho que não é só Sesc, não. O Rumo Vital Cultural do Itaú começa também a se voltar para um recorte específico, para a linguagem circense.
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