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Circo Fubanguinho embala o humor
Luciana Gandelini, especial para Panis & Circus
A Trupe Lona na Preta com seus instrumentos musicais e o humor que se equilibra entre o escracho e a sofisticação apresentou o Circo Fubanguinho, no FIC – Festival Internacional de Circo no Centro Esportivo Tietê, de 11 a 15 de abril. Logo no início da apresentação, no domingo, 15/4, às 15h30, a companhia ganhou o público que lotava as arquibancadas da lona Família Queirolo.
Os irmãos Sergio e Joel Carozzi, que dirigem o Circo Fubanguinho, se valem de charangas, bufanorias e músicas baseadas em tradições populares para divertir o público.
Na abertura do Circo Fubanguinho uma grande banda, composta por guitarra, bateria e instrumentos de sopro, como trompete, trombone, saxofone e trompa, logo convida o espectador a participar do espetáculo. As crianças, especialmente, são imediatamente seduzidas. No palco, surge o ‘dono do circo’, que mostra incômodo com o som da banda e a interferência de uma campainha. As ações do ‘dono do circo’ levam o público ao delírio.
Dando vazão a seu autoritarismo, o “dono do circo” expulsa dois palhaços. Os demitidos dão início então a uma série de ações para sobreviver. Tentam aplicar golpes nas pessoas, criam disfarces mirabolantes. Mas são sempre descobertos.
O público se diverte com as trapalhadas dos palhaços desempregados que escancaram as relações de produção de uma maneira leve, subliminar.
Sérgio Carozzi explica a narrativa a partir da busca de uma identificação de classe: “O opressor e o oprimido se definem pela relação que estabelecem e não é estranho que, por vezes, os papéis sejam trocados, que a consciência do dominado seja a do dominador. Nossas histórias pessoais nos colocam como parte daquela grande parcela da população que não tem outra coisa para vender a não ser a própria pele. Assim, não somos a favor da classe trabalhadora, somos a própria, ou parte dela, carregados das suas contradições, no esforço de se pensar e se fazer enquanto classe”, explica Sergio Carozzi.
Do elenco do Fubanguinho fazem parte Alexandre Matos, Elias Costa, Henrique Alonso, Wellington Bernado e os irmãos Joel e Sergio – artistas de diversas linguagens (música, teatro, artes plásticas e cinema) que se complementam e tornam o espetáculo uma pérola de comicidade, transitando entre as gagues clássicas e temas contemporâneos. A apresentação deixa clara a opção do grupo pela construção de uma sociedade mais justa.
O figurino e os objetos de cena dialogam com a temática do espetáculo. “É a elaboração da experiência na precariedade e na simplicidade. Precário, no sentido de não provir dos meios e condições adequados para a construção do trabalho. Essa contingência, entretanto, é combustível e material precioso das nossas elaborações estéticas, e das nossas ações (sem fazer aqui elogio da pobreza, na medida em que o grupo pensa que é a riqueza que deve ser dividida, distribuída e socializada). Simples, que se diferencia de simplório, por conter o esforço de elaborar o real, este entendido como síntese de múltiplas determinações. Simplicidade, não barateamento, nem simplificação de ideias. O empenho está em evidenciar os elementos que revelam as contradições sufocadas no mar das ideologias (permanentemente repostas pela ordem vigente)”, afirma Joel.
De acordo com os irmãos Carozzi, a construção do espetáculo parte do pressuposto de que o artista tem de agradar. “Se o público gostou, amanhã tem mais gente para assistir. Entretanto, nossa proposta é ir colocando contradições. Contradições que podem levar ao estranhamento, à reflexão ou ao desagrado. Fazer isso não é fácil, por isso levamos muito tempo para construir um espetáculo”, diz Joel.
O retorno do público não deixa dúvida de que eles trilham um caminho que agrada o espectador.
Shirlei Gandelini, 65 anos, aposentada comenta: “Quando eu vi o figurino fiquei prestando atenção. Queria entender porque eles estavam maltrapilhos, com cores meio obscuras, achei até ‘simples’. Mas ao ver a apresentação, entendi completamente. E achei muito legal! Eles falam desta relação do patrão com os funcionários que são demitidos, tentam voltar, passam dificuldades. E tem tantas coisas que nós vivemos na vida mesmo! É muito legal rir disso e voltar para casa pensando também! Eu amei a apresentação!”
Janaina Amaral, 28 anos, produtora cultural: “O Circo Fubanguinho é uma mistura interessante e bem equilibrada de música, habilidades circenses e muita lábia. Com um humor inteligente e debochado os elegantes maltrapilhos trazem à cena temas atuais e necessários como política, hierarquia, o poder da mídia e a pobreza de forma simples, direta e envolvente.” A estudante Mariana Santos, de 17 anos, diz ter achado o espetáculo maravilhoso. “Volto para casa pensando em tudo o que está ali, que está também na minha vida, no trabalho do meu pai, da minha mãe. E quando eles falam com as gírias é tão fácil de se identificar! Gostei muito!”