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Irmãos Carreto diverte a plateia
Por Mônica Rodrigues da Costa*
O espetáculo “Irmãos Carreto” é o segundo da Trupe Dunavô, pesquisadora de teatro de rua e circo teatro, criada em 2015 e recebida com entusiasmo de público e de crítica em São Paulo.
Com texto da autoria de Nereu Afonso e Trupe Dunavô e dirigida por Gabi Zanola e Gis Pereira, a peça “Irmãos Carreto” estreou em 1º/9 ao ar livre, na praça do Sesc Pinheiros, na capital paulista, e estará em cartaz gratuitamente no feriado de 7/9 e no final de semana seguinte (veja abaixo).
Vale a pena conhecer o trabalho dessa trupe e dar boas risadas. “Irmãos Carreto” conta uma história bem parecida com a dos contos de fada, sobre dois irmãos que brigam entre si para ver quem é o mais apto a ficar com a herança do pai: um carreto para o negócio de lixo reciclável.
Trata-se de uma dupla de palhaços que transforma em arte circense os restos de objetos largados pelas ruas, são catadores de lixo. O figurino é bem sugestivo da trajetória dos personagens (Christiane Galvan).
O argumento da montagem dá motivos a disputas, malabarismo, acrobacias e comparações trocadilhescas, como saber qual irmão é mais rápido ou mais apto, qual tem mais habilidades ou qualidades. Vale até competição de ilusionismo, como a apresentação do número da carteira de dinheiro que pega fogo, entre outros.
Além de tratar com graça e delicadeza o tema da morte num ambiente em que tudo é motivo de confusão cômica, a peça chama a atenção para a necessidade da diminuição do lixo na Terra. Objetos recicláveis são a bola da vez em termos de matéria-prima para reconstruir o nosso planeta conforme especialistas em ambiente e sustentabilidade.
O cenário é a lona estendida no chão aproveitando a curva da praça do espaço, com bastante proximidade do público.
O carreto é um aparelho circense multifuncional, com rodas, bolsos, cortinas e minitrapézios, com o qual os personagens mostram suas habilidades de acrobatas e palhaços. O carreto se transforma até em aparelho de “Quick Change”, que é a troca de roupa instantânea dos atores.
Assim, os irmãos mostram o que sabem fazer. A interação deles com a plateia é eficaz e a dupla de palhaços encanta crianças e adultos. Elenco e plateia brincam até de cabo de guerra.
A cena da leitura do testamento do pai é hilária. Cada objeto herdado e cada ação vira um número circense. Ao emborcar a carroceria para se movimentar, os palhaços Clóvis (Vinicius Ramos) e Claudius (Renato Ribeiro) transformam o carreto em aparelho de equilíbrio e ginástica e dão cambalhotas, giram no ar e realizam saltos que encantam a plateia.
A dupla tem talento no papel de palhaços e apresenta números clássicos, como o de chorar de emoção de modo exagerado – no caso, pela morte do pai — por motivos aparentemente tolos, o número de errar ao cumprimentarem-se entre si e com pessoas do público e o de se estapear em gags que mostram trapalhadas físicas, com quedas e correrias.
Além da choradeira inicial e das trapalhadas físicas, que poderiam ficar mais curtas, a trupe encena boas piadas narrativas, como a inicial, sobre uma conta recebida pelo correio. Uma simples folha de papel vira nas mãos dos palhaços o mais duro fardo de carregar, adivinha por quê?
O bom espetáculo “Irmãos Carreto” deixa marcada a ausência em cena da premiada atriz Gabi Zanola, integrante da Trupe Dunavô ao lado de Renato Ribeiro, Gis Pereira e Vinicius Ramos.
Em 2015, Gabi foi indicada ao prêmio de melhor atriz pela encenação em “Refugo Urbano”, estreia do grupo com espetáculo de repertório, ou mais longo.
Essa mesma peça conquistou o Prêmio Sustentabilidade, do Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem, Coca‐ Cola FEMSA (2015), “pelo uso criativo de sucatas e material reciclado, retratando com sensibilidade o universo dos moradores de rua das grandes cidades”. Foi também selecionado pelo Guia da Folha entre os melhores daquele ano, e eleito pelos leitores do jornal como o melhor espetáculo de teatro infantil do ano de 2015.
Ficha técnica
Elenco: Renato Ribeiro e Vinicius Ramos. Direção: Gabi Zanola e Gis Pereira. Dramaturgia: Nereu Afonso e Trupe DuNavô. Figurino: Christiane Galvan. Adereços: Renato Ribeiro e Vinicius Ramos. Operação de áudio: Gabi Zanola. Sonoplastia: André Gynwask. Provocador cênico: Ronaldo Aguiar. Vozes Off: Rani Guerra e Val Pires. Assessoria de imprensa: Luciana Gandelini. Cenário: Bira Nogueira e Trupe DuNavô. Produção: Trupe DuNavô.
Serviço
Em cartaz na praça do Sesc Pinheiros até 9/9/18, sábados, domingos e feriados, às 16h. Duração do espetáculo: 50 minutos. Endereço: R. Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo (SP), tel. (11) 3095-9400. Classificação Livre. Entrada gratuita. Não é necessário retirar ingressos.
O espetáculo irmãos Carreto se apresentará depois da temporada do Sesc Pinheiros na Praça Cornélia, bairro de Água Branca (zona oeste de São Paulo), nos dias 15, 22 e 29 de setembro de 2018, às 11h. Na sequência, vai se apresentar no CEU Heliópolis, nos dias 24 e 31 de outubro de 2018, às 10h. Endereço: Estrada das Lágrimas, 2.385, bairro de São João Clímaco.
Outras apresentações: 25/10/18, às 20h, no Espaço Clariô (rua Santa Luzia, 96, Vila Santa Luzia, Taboão da Serra – SP)
Nos dias 2, 10, 15 e 17 de novembro de 2018, às 14h, no Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579, Santana, zona norte da cidade de São Paulo).
*A jornalista Mônica Rodrigues da Costa é professora da FAAP, crítica da Folha, de teatro para crianças e doutora em comunicação e semiótica pela PUC/SP.