Arte em Movimento
Recursos para circo são limitados, diz ministra
Ministério da Cultura lista projetos existentes, de fomento à produção, capacitação e qualificação de artistas e gestores do circo
Criar censo do circo, acervo de memória e implementar linhas de crédito especiais estão entre as ações previstas do Ministério. Em 2013, na comemoração do Ano do Brasil em Portugal, o circo terá grande destaque.
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, apresenta, nesta entrevista exclusiva ao Panis & Circus, as principais atividades do Ministério da Cultura relativas ao circo. Ela considera que os recursos destinados às artes circenses são muito limitados, mas garante que está empenhada em ampliá-los.
Ana de Hollanda conta quais projetos incluem a arte do picadeiro na pasta que dirige. Em funcionamento, há o Prêmio Carequinha, Oficinas de Capacitação e de Qualificação e o Prêmio Funarte Artes na Rua. Leia a seguir.
Panis & Circus – Como foi seu relacionamento pessoal com o circo na infância? Houve momentos de encantamento com palhaços, malabaristas e acrobatas?
Ministra Ana de Hollanda – Meu contato com o circo foi esporádico na infância. Vim a me apaixonar por essa atividade já adulta e, até pela ausência da arte circense em minha formação, me preocupei em levar regularmente meus filhos a circos, dos mais singelos aos de maior porte.
Circus – Hoje, como ministra da Cultura, como vê a atividade circense?
Ana de Hollanda – A atividade circense tem uma forma muito própria, que junta tradição com inovação. Os espetáculos contam com elementos de várias linguagens artísticas e se expressam de modo sempre criativo, lúdico, direto, simples e prazeroso para com o público.
Circus – Apesar das atividades listadas (abaixo), a senhora não acha que os incentivos às atividades circenses são limitados? Por que o circo tem tão pouco incentivo e apoio governamental?
Ana de Hollanda – Com certeza os recursos para incentivar atividades circenses ainda são limitados. Quando digo ainda é porque estamos trabalhando para ampliá-los.
Hoje, já temos o Prêmio Carequinha, Oficinas de Capacitação e de Qualificação, o Prêmio Funarte Artes na Rua, além de outros editais que têm a participação do circo, mas ainda sem recursos definidos para este ano, como o Prêmio Funarte Festivais, Prêmio Funarte Residências em Artes Cênicas e o Edital Funarte de Doação de Equipamentos de Iluminação Cênica.
Circus – A senhora teve conhecimento do projeto enviado ao Ministério da Cultura pelo deputado Tiririca (PR-SP) e que está no site Panis & Circus? O deputado propôs que sejam criados programas de amparo às pessoas e famílias que exercem atividades circenses e de diversões itinerantes. Alguma coisa desses programas está sendo executada?
Ana de Hollanda – É claro que as iniciativas do deputado Tiririca são muito bem-vindas. Porém, por enquanto, não há nada implementado. O que temos ciência é de propostas dele apresentadas na Câmara dos Deputados, como o Projeto Diploma de Amigo do Circo (PL-3542/2012), que prevê a entrega de diplomas pelo Ministério da Cultura a instituições públicas e privadas, gestores, agentes políticos e demais pessoas físicas e jurídicas que tenham prestado serviços de excepcional relevância à atividade circense no país.
Circus – Como foi a participação do circo brasileiro no festival Europalia e qual outro evento sobre circo o Ministério prepara?
Ana de Hollanda – O festival Europalia aconteceu entre 4 de outubro de 2011 e 15 de janeiro de 2012. O único evento que se estendeu além dessa data foi a exposição “Índios no Brasil”, que ocorreu até 15 de abril de 2012.
Os espetáculos circenses no Europalia foram “Nau de Ícaros”, nos dias 27 e 28 de outubro de 2011, na L’Ecole de Cirque; e “Sonhos de Einstein”, com a Intrépida Trupe, em 29 e 30 de outubro de 2011, no Halles de Schaerbeek. As duas apresentações foram em Bruxelas.
O próximo grande evento relacionado ao circo será na comemoração do Ano do Brasil em Portugal, em 2013.
Projetos e programas governamentais para o circo
Circus – Quais as iniciativas, projetos e programas do Ministério que envolvem o circo e o beneficiam?
Ana de Hollanda – De fomento à produção e estruturação da atividade circense, temos os seguintes editais: Prêmio Funarte Carequinha de Estímulo ao Circo (aquisição de lonas e equipamentos; produção e circulação de espetáculos; pesquisa; formação; eventos; mérito artístico); Prêmio Funarte Festivais de Artes Cênicas; Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua; Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas; Edital Funarte de Doação de Equipamentos de Iluminação Cênica.
De fomento a ações de capacitação, há Oficinas de Capacitação de Gestores de Empresas Circenses, que são realizadas em todas as regiões do Brasil e já reuniram mais de 150 profissionais, beneficiados com oficinas de elaboração de projetos, planejamento estratégico, legislação e segurança.
Existem também as Oficinas de Qualificação do Espetáculo Circense, seguindo o modelo das oficinas de capacitação. Esse segundo módulo reuniu um público de mais de 200 profissionais, beneficiou 121 circos de lona e 46 grupos de circo. Entre os temas abordados estavam direção cênica, instalações elétricas/iluminação, figurino e expressão corporal.
Mergulho no Circo é um aprofundamento das oficinas anteriores, a ser realizado ainda em 2012.
Ações de valorização do circo
A ministra Ana de Hollanda relacionou as ações para o circo, previstas e em andamento, como o mapeamento de atividades, seu registro histórico e abertura de linhas de crédito.
O projeto Mapeamento das Atividades Circenses no Brasil está em fase de implementação e se trata de um censo do circo. Tem parcerias com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a FGV (Fundação Getulio Vargas), com associações dos circenses (Abracirco, Asfaci, Apae-CE, UBCI, ABACDI, Cooperativa Brasileira de Circo, Rede de Apoio ao Circo, entre outras) e com o Núcleo de Artes Circenses, da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
O projeto Memória do Circo consiste na produção, captação de imagens e edição em vídeo de depoimentos de mestres do circo brasileiro, com a finalidade de montar um acervo que preserve a história do segmento. Segundo a ministra Ana de Hollanda, está em fase de captação de recursos. Um programa piloto já foi realizado com o Circo Orlando Orfei.
Para a criação de linhas de crédito nos bancos oficiais destinadas à atividade circense, o MinC, a Funarte (Fundação Nacional de Artes), o BNDES, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia formaram um Grupo de Trabalho com o intuito de criar uma carteira de financiamento a projetos culturais.
Campanhas e abatimentos em taxas e tributos
Circo Faz Bem à Saúde – Receba o Circo de Braços Abertos é uma campanha institucional para esclarecimento dos direitos garantidos aos artistas circenses, com inclusão das famílias circenses, nos programas sociais do governo federal. As principais ações são a viabilização do acesso ao SUS (Sistema Único de Saúde), à escola e aos programas e políticas habitacionais, como Minha Casa, Minha Vida, entre outros.
Segundo a ministra da Cultura, há projeto para desoneração de taxas e tributos, tais como a isenção de IPI e IOF na compra de caminhões e automóveis para os circenses itinerantes (a exemplo do que já acontece com os taxistas).
Existe previsão para isenção ou redução de taxas e tributos de importação na compra de equipamentos circenses.
Também estão previstas bolsas para pesquisa da atividade circense no Brasil, com as quais o governo pretende incentivar estudos acadêmicos e não acadêmicos que abordem a temática do circo, em parceria com o Ministério da Educação, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), entre outros.
Há igualmente ações de financiamento, como a da criação do Fundo de Emergência para socorrer circos que passam por grave dificuldade financeira, causada por intempéries naturais – entre 2008 e 2010, foram socorridos 20 circos.
(Antonio Marcello, de Brasília)
crédito/foto capa José Rosa
Tags: ana de hollanda, circo, funarte, ministra cultura, prêmio carequinha, recursos