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“Romeu e Julieta” no Parque da Independência
História dos amantes adolescentes de Verona em versão florida e circense
O grupo Galpão comemora 30 anos mostrando seu repertório em cidades brasileiras e de outros países. Apresentou “Romeu e Julieta” no teatro Shakespeare’s Globe. Obra-prima do grupo mineiro, com reconhecimento internacional, a tragédia “Romeu e Julieta” (1992), a mais lírica e arrebatadora peça do poeta inglês, narra o amor infeliz desses personagens com mestria.
O cenário de “Romeu e Julieta” é a rua, qualquer lugar, montado em cima de um velho carro de passeio e trabalho no campo. Estreou no Parque da Juventude lotado, em tarde fria, mas ensolarada. Esteve no Sesc Belenzinho e vai para o Parque da Independência em setembro (confira abaixo).
Na Veraneio 1974 há flores que lembram figurinhas de passar que as meninas colavam nos cadernos escolares, nos anos 60. Alusão aos típicos adesivos populares para vidros de carro. Há acessórios como guarda-chuvas de equilibrista sempre à vista e minúsculos palcos, escadas e cordas em diferentes planos de altura onde ocorre a encenação.
O elenco, de atores e músicos misturados, está de maquiagem de palhaço com nariz vermelho, roupas medievais de arlequins e carregam viola, acordeão e instrumentos de percussão.
Eles executam gestos circenses de equilíbrio, coreografias, pernas de pau. Em um número-cena, Julieta dança de meia-ponta na barra.
Na cenografia, predomina o branco, salpicado de detalhes que contam histórias, bem no estilo barroco de Gabriel Villela, diretor do espetáculo. As cores estão nos adereços e instrumentos dos cantadores, no nariz vermelho, nas fitas, folhas e flores.
Todos entoam canções que comentam indiretamente o trágico evento de amor, não são feitas para “Romeu e Julieta”. Mas casam perfeitamente com a situação. É a música do coro que lamenta a perda. Cantigas de roda se misturam umas às outras e a versos que reverberam por séculos.
No diálogo dos apaixonados, a discussão rimada sobre a chegada do amanhecer mostra o momento da despedida. Romeu sente a nesga de luz que atravessa seus corpos. Atônitos, eles abrem os olhos e questionam se é a cotovia ou o rouxinol que vem lhes acordar.
O mesmo diálogo do filme homônimo de Franco Zefirelli (1968). Esse diretor, em dado momento, é mencionado por um ator, palavra que rompe por segundos o curso da conversa, interrompe a forma do drama e a dor trágica.
Drama é o modelo em que a peça de Shakespeare foi escrita e sua característica é o diálogo, mostra os acontecimentos à flor da pele, no instante presente.
Marcando a emoção, volta e meia, a trupe desfila em procissão ao redor do palco, entoando cantos de lamentação:
“Flor, minha flor,
Minha flor, vem cá,
O anel que tu me deste era vidro
E se quebrou,
O amor que tu me tinhas…,
Minha flor, vem cá”.
Ficha técnica
Concepção e direção geral: Gabriel Villela. Elenco: Antonio Edson (narrador); Beto Franco (Príncipe e Senhor Capuleto); Eduardo Moreira (Romeu); Fernanda Vianna (Julieta); Inês Peixoto (Senhora Capuleto); Júlio Maciel (Benvólio); Lydia del Picchia (Sansão e o criado dos Capuleto); Paulo André (Teobaldo e Frei Lourenço); Rodolfo Vaz (Mercúrio); Teuda Bara (Ama).
Serviço
Em 13 e 14/09, quinta e sexta, o grupo Galpão apresenta “Romeu e Julieta” no Parque da Independência, às 19h00, na capital paulista. Grátis. Mais no Anote, no link:
https://www.panisecircus.com.br/espetaculo-frances-latelier-du-peintre-do-circo-plume-fica-no-teatro-alfa-ate-0508-acrobacias-e-malabarismos-mostram-o-atelie-do-pintor/
(Mônica Rodrigues da Costa)
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