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Imaginação corre solta
Sonhos com bolinhas de gude
Toda infância tem seus códigos. São diferentes de geração para geração. Mudam também dependendo da classe social em que as pessoas nascem. O livro “O Pote Mágico”, de Ferréz, tem o mérito de revelar isso com habilidade e delicadeza.
No enredo, o personagem narrador, que aparenta ter cerca de oito anos de idade, vive na periferia – no Capão – e brinca na rua. Gosta de montar capucheta e içá-la ao céu nas tardes ensolaradas. Mas tem de tomar cuidado com os garotos mais velhos, que odeiam esse tipo de pipa, ou arraia.
Esses maiorais chamam a capucheta de “lixão” porque, embora ela não voe muito alto, é danada para derrubar as pipas bonitas, que não são feitas de jornal ou papel que se acha nas ruas, dobrado em três partes.
Em uma das tardes de brincadeiras, o personagem narrador estava cansado de empinar capucheta e resolveu fazer outra coisa. Nesse momento, a meninada correu para lhe contar que Dim, de 12 anos, tinha um pote mágico. Com uma massinha dentro que servia para fazer bolinhas de vidro e outras delícias.
O personagem narrador foi à casa do Dim, mesmo com medo do irmão mais velho dele, o Will. Mesmo que a mãe sempre tenha lhe falado para não brigar na rua. Foi armado de máscara de Batman e espada do Zorro, mas levou uma pedrada do grandalhão e mal pôde ver o tal pote mágico.
O jeito foi pedir ao amigo Marquinhos para ver o pote e lhe contar qual era a mágica. Esse amigo ficou com pena do galo em sua testa e o deixou se fartar de sobras do algodão-doce que o pai de Marquinhos fazia para vender.
A vida passou a ser uma agonia para o personagem narrador. Mal dormia, mal comia, e a mãe, preocupada.
A narrativa segue fluente, com o menino imaginando as coisas maravilhosas que poderiam ser inventadas com o conteúdo do pote mágico. Ele sonhava e sonhava.
Ferréz escreve com simplicidade sintática e estilística – é o charme do conto, “charme” que vem de “carmen”, expressão do latim, que significa “poesia” ou “fórmula encantatória”.
A narrativa flui, revelando as peripécias do menino em busca do momento epifânico, da descoberta.
O malvado do Dim cobrou cinco reais para mostrar o pote mágico. Como foi difícil conseguir esse dinheiro! O senhor Zé, do ferro-velho, teve de ajudar. O jeito foi também pedir dinheiro nos faróis.
A história não para aí e tem gosto de infância feliz.
Segue o link para o livro, da editora Planeta Infantil:
http://www.editoraplaneta.com.br/descripcion_libro/10350
(Mônica Rodrigues da Costa)
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