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“Balada de um palhaço”

 

 

“Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre” – Plínio Marcos

Leo Lama, especial para Panis & Circus

Em 1985, após sofrer um enfarte, em momento crítico e decisivo de sua vida, meu pai escolheu sua vocação, mais uma vez, como forma de superar o revés. Sem terapia, sem antidepressivos, sem acreditar que estava realmente sendo acometido pelo que chamava de “doença de burguês”, ainda no hospital começou a ter a ideia do que viria a ser uma de suas peças preferidas: “Balada de um Palhaço”. No ano seguinte a obra foi encenada e, como ele dizia, é seu testamento artístico, a expressão mais intensa do que pensava sobre arte, circo, teatro, busca espiritual.

A praiana cidade de Santos estava fervilhando em 1960. Caiçara nativo, meu pai circulava entre os boêmios do centro e do cais do porto.  Entre eles estava Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, musa da Semana de 22, colaborada dos jornais locais, fundadora e diretora do grupo experimental de teatro infantil santista.Pagu foi essencial para o incremento e a modernização da cena teatral da urbe marítima, trazendo críticos importantes, professores e diretores teatrais da Escola de Arte Dramática de São Paulo, que, convidados por ela, vinham a Santos. Foi ela quem descobriu em um cirquinho, o veemente ator de poucos dentes na boca. Foi Pagu quem apresentou a meu pai autores, peças, obras de diversos artistas, foi ela quem o colocou em seu lugar de iniciante, metido e folgado como convém aos jovens, depois do breve sucesso local de “Barrela”, sua primeira peça.

Meu pai, Plínio Marcos de Barros, nasceu em 1935, de família classe média, parou de ir à escola na quarta série do primário, trabalhou como torneiro-mecânico e vendedor de livros, frustrou meus avós ao recusar ser funcionário do Banco do Brasil e foi ser artista circense apenas porque queria namorar uma moça.

E assim, muito antes e se tornar dramaturgo, ele atuava no palco-picadeiro do Circo Teatro Pavilhão Liberdade. “Ela era da trupe. O pai dela só deixava ela namorar gente do circo. Então eu entrei para o circo. Achei que era mais engraçado do que o palhaço que eles tinham e me candidatei. Eu tinha o apelido de Frajola porque tinha saído uma revista em quadrinhos, chamada Mindinho, com um gato chamado Frajola, que sempre queria pegar um passarinho – e eu fui preso roubando um passarinho numa casa, na época em que saiu a revista.”

 

 

“Balada de um Palhaço” estreou em 1986, quando eu tinha dezenove anos, no Zero Hora, um pequeno teatro alternativo no bairro paulistano conhecido como Bixiga. Foi um retumbante fracasso de público. Embora a crítica tenha elogiado, a plateia insistia em permanecer vazia. Vi, muitas vezes, meu pai desesperado na calçada abordando pessoas e os empurrando para dentro. Desavisados, passavam absortos em suas vidas na frente do teatro e eram forçados a entrar. Uma vez sentados ainda tomavam sonora bronca por causa daqueles que não vinham. Perguntavam qual o motivo se afinal estavam lá, respondia sem cerimônia que estavam sendo reprendidos porque amanhã não viriam.

O drama invadia a realidade e vice versa e até hoje a verdadeira tragédia de todos que fazem arte, sabemos, é a falta de audiência. Eu ficava emocionado, tocado com a luta que meu pai travava com uma sociedade que só queria saber de assistir atores que estavam em novelas, na mídia, que não tinha coragem de ousar.

“Balada de um Palhaço” apresenta o embate entre dois conhecidos tipos do mundo dos artistas, na coxia, embaixo de uma furada lona. Bobo Plin, desconhecido e decadente palhaço de tal malfadado circo, está triste, cansado de repetir sempre as mesmas piadas, de se servir sempre dos mesmos chavões, das mesmas velhas gags, das decadentes pantomimas que compõe a velha tradição circense e sempre faz a acomodada plateia rir. Sem prazer no que faz, quer mudar. Quer saber onde foi que perdeu sua alma. O frescor de sua vocação.

Descrito pelo autor como um saltimbanco, espiritual, feminino, angustiado, descendente da linha dos palhaços vagabundos, desinteressado das coisas desse mundo, o lamuriento clown quer parar, quer ir atrás do que perdeu.

Em contrapartida, Menelão, o dono da espelunca, bem vestido, positivista, machista, ganancioso, só pensa em ganhar dinheiro e fazer sucesso. Não faz. Vive para servir ao medíocre gosto dos espectadores. Nada de mudanças. O público ri e paga para ver as mesmas coisas de sempre, então é isso que se vai oferecer, apregoa. Sem ousadia, sem alma, sem nada que contrarie o tacanho desejo dos poucos pagantes.

 

 

Brincando comigo, com meu irmão e minha irmã, desde que éramos crianças até já adolescentes, meu pai se intitulava “O Palhaço Bobo Plin”, um dos personagens que criava para provocar a gente. Assinava bilhetes que vivia escrevendo para a família com tal apelido. Assim o tipo buscador da alma perdida ia tomando forma em sua imaginação. Embora alguns tenham achado a peça literária demais, talvez um poema cênico mais do que um texto de dramaturgia clássica, a obra ainda é bastante representada e tida como referência vocacional para jovens atores e para amantes do teatro.

Seguindo a tradição das famílias de circo, também a minha atuou em conjunto na montagem original. Minha mãe, a atriz Walderez de Barros, interpretou Bobo Plin e o ator Antonio Petrin, Menelão. A mim, jovem e inexperiente, foi dada a honra de compor a trilha sonora, as canções da peça, que foram arranjadas pelo hoje maestro Luiz Gustavo Petri. Odavlas Petti, já falecido, dirigiu.

Ainda ecoam em meu ego os elogios que foram feitos pelo saudoso crítico Alberto Guzik. Um marco na minha vida, um prazer indescritível ouvir minha mãe cantando minhas músicas, letras do meu pai, a cada representação, já que era eu quem operava o som, a luz e desmontava e montava o cenário, como bom aprendiz, limpador das fezes dos leões e dos elefantes. Armamos a tenda aqui e acolá, não fizemos sucesso. Os dois atores fizeram um trabalho antológico, em um jogo cênico de arrepiar, que deixava todos que tiveram o privilégio de assistir arrebatados.

 

 

Há dias em que acordo lá, na pequena cabine de som do paupérrimo teatrinho ouvindo Bobo Plin dizer melancólico: “Anos e anos a fio na trilha dos saltimbancos. Andando, andando, andando. De lugarejo em lugarejo. De vila em vila. De cidade em cidade, onde multidões envolvidas nas turbulências de suas paixões se degeneram no bailado da insensatezSempre em praças sem liberdade, debaixo de céu sem estrela, em jardins sem flores, nas margens de córregos por onde escoa a merda, que devo armar minha poesia?”E vinha a pausa. “Somos malditos por toda gente, obrigados a acampar nas lixeiras das cidades, somos expulsos dos lugares, perseguidos, presos, espancados. Dizem que somos”…

Os dois personagens, como Augusto e Branco, denominações clássicas dos clowns, desenrolam seus argumentos. Bobo Plin com o coração, Menelão com o chicote. Aos dois é possível dar razão, mas quem realmente tem alma quer se deixar levar pela vontade do palhaço buscador, oprimido, mas valente. Não consigo esquecer a cena em que minha mãe, como Bobo Plínio Marcos, falava dos palhaços de todos os tempos, emoção pura, meus primeiros sonhos de ser artista, de querer seguir vocação.

“Eu não entrei na trilha dos saltimbancos por acaso, nem para ser um reles fazedor de graça. Eu queria consagrar a minha vida através do ofício que escolhi obedecendo a um imperioso apelo vocacional. Mas você, você, com sua ganância… Suas receitas de sucesso, você, você, você sim, você, Menelão, sem nenhum escrúpulo, sem nenhuma sensibilidade, veio me falar de mil e um palhaços geniais. Olha, Bobo Plin, tem um que é de total pureza. Ele comove multidões quando aprisiona um raio de sol e o leva pra casa.. Tem um que faz balões de gás dançarem quando toca sua trompete. Teve um que ridicularizou um tirano, assassino sanguinário que queria ser o senhor absoluto do mundo. E o magro sonso. E o gordo ingênuo e bravo. E o comprido de calça pela canela, arcado pra frente devido ao pesado fardo da indignação constante e sincera contra a mecanização imposta ao homem moderno. Tem também, você me dizia, os que dão piruetas, dão cambalhotas, levam bofetões, os que tocam música clássica em garrafas vazias penduradas num varal. Tem outro… E outro…E outro…Me contou até que tinha um palhaço louco, que queria ser o jogral de Nossa Senhora Mãe Santíssima e que andava pelas igrejas jogando malabares diante das imagens de Santa Maria. Esse, você me disse, morreu enforcado na cruz do Senhor Jesus Cristo, numa catedral gótica. Escutei humilde a história de cada um desses incríveis artistas que viajavam pelas vias da loucura. Mas, saber desses palhaços para mim, Bobo Plin, um palhacinho de merda que começava a engatinhar nos picadeiros mal iluminados das espeluncas, só serviu para me tolher. Quanto mais eu sabia deles, mais e mais Bobo Plin, o palhaço que eu queria ser, se enroscava nas minhas tripas, se sufocava nas minhas entranhas. A referência esmagava a minha intuição e me forçava à autocensura. A comparação, a maldita inimiga da igualdade, fazia dos magníficos histriões elementos inibidores da minha criatividade. Agora, eu não quero, Bobo Plin não quer saber da façanha desses belos palhaços. Não quero vê-los. Nem saber dos seus bigodes, sapatões, guizos, pompons, bolas, balões e babados. A magia dos grandes artistas, Menelão, não pode ser ensinada. São segredos que se aprendem com o coração, mas ninguém ensina. Essa magia está dentro de cada um, antes mesmo de cada um tomar conhecimento dela. Essa magia se manifesta quando se resolve fazer a própria alma. Para Bobo Plin se irmanar com os grandes palhaços que luziram nos palcos e picadeiros, tem que se esquecer deles para sempre. Não pode recolher nenhuma indicação que eles deixaram pelo caminho. Bobo Plin tem que andar sem bússola na mais tenebrosa escuridão. Qualquer brilho, qualquer estrela, qualquer sol referencial é um ponto hipnótico embrutecedor. Menelão, eu quero fazer minha alma. Preciso fazer minha alma. Quero tentar.”

 

 

Ao final da peça, o angustiado palhaço compreende e abandona o picadeiro, diz que vai subir a colina e deixa Menelão chorando sua própria miséria. Assim vi meu pai abandonar esse circo em uma cama de UTI, depois de tudo que passamos juntos, depois de mais um enfarte, entubado e frágil.

Em um inesquecível momento de um misterioso crepúsculo, colei meu nariz de palhaço ao dele e disse assim, olhos nos olhos, “você é meu herói, vai em paz, está tudo bem, tudo certo”, o velho clown cansado de guerra, soltou uma lágrima e apertou minha mão com a sua. Foi a última vez que vi seu olhar antes da subida. Saiu de cena alguns dias depois. 

 

 

Postagem: Alyne Albuquerque

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