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“O Carnaval dos Animais” invade Sala São Paulo

 

“Carnaval do Sr. Noé” conquista a criançada na Sala São Paulo   

Luciana Gandelini, especial para Panis & Circus

“O Carnaval do Sr. Noé”, espetáculo da série Aprendiz de Maestro, da TUCCA, apresentou às crianças os vários sons de animais produzidos por instrumentos de uma grande orquestra, na Sala São Paulo, em 26/6.

 

 

O espetáculo conta a história do Sr. Noé, que ao saber sobre o dilúvio que estaria prestes a ocorrer encobriria toda a Terra, resolve construir um grande barco para salvar os animais. Para atraí-los, o pessoal do Aprendiz de Maestro resolveu “pedir a ajuda de Camille Saint-Saëns – compositor francês que soube como ninguém traduzir para música a língua dos bichos. E foi assim que todos juntos transformaram o que poderia ser uma viagem apavorante em um verdadeiro ‘Carnaval dos Animais’”, descreve Paulo Rogério Lopes, autor e diretor do espetáculo.  

 

A orquestra Sinfonietta Tucca Fortíssima com máscaras dos animais / Foto Asa Campos

 

Segundo ele, “a ideia é procurar sair do clima erudito que a própria sala impõe, trazendo referências circenses, lúdicas e uma trama interessante. No caso do ‘Carnaval do Sr. Noé’, falamos do embarque na arca, buscando uma linha que ajude a criança a acompanhar o espetáculo, sem necessariamente ser musical ou fazer reverência para a sala de concerto. Chamamos a criança para prestar atenção à música usando algumas iscas e sem que perceba acaba envolvida por ela.”

 

O leão e sua coroa na arca do Sr. Noé - ao fundo a orquestra / Foto Asa Campos

 

Logo no início do espetáculo, as crianças que lotavam a Sala São Paulo junto com seus pais e familiares, são convidadas a embarcar na aventura da arca do Sr. Noé e seus animais. Com o capitão da arca, interpretado pelo ator e palhaço William Amaral, o marujo, papel do ator Eduardo Silva, sob os acordes da Sinfonieta TUCCA Fortíssima, regida pelo maestro João Maurício Galindo, e a participação dos bichos infláveis gigantes, da Pia Fraus, impossível ficar parado e não se divertir.     

 

Os dois atores, William Amaral e Eduardo Silva, arrumam a arca / Foto Asa Campos

 

O maestro João Maurício Galindo convoca um músico que demonstra o sonido de um animal, utilizando a trompa (instrumento de sopro), que rapidamente é identificado: “Elefante!”, o público interage. Com os instrumentos da orquestra capazes de imitar exatamente o som dos animais, o maestro conquista a empatia das crianças, que se empolgam e gritam os nomes de cada um dos bichos quando questionadas por ele.

Quando a orquestra imita um rugido, deixa um suspense no ar, então um majestoso Leão se aproxima do Sr. Noé, mas ele não é nada feroz e interage de forma divertida, o que faz com que as crianças caiam na gargalhada.

 

Atores/bailarinos em cena com os peixes que vão entrar na arca / Foto Asa Campos

 

A cada chamada do maestro o espaço vai se transformando. A flauta de madeira, que marca o som de passarinhos, é acompanhada de atores que surgem com uma revoada de pássaros coloridos. Um lindo aquário repleto de peixes é formado, com um som que remete ao fundo do mar, pouco antes de surgir um tubarão, com sua famosa trilha sonora, espantando todos os peixes da vista do público.

 

 

As tartarugas de "O Carnaval do Sr. Noé", da série Aprendiz de Maestro / Foto Asa Campos

 

O maestro convida dois músicos a demonstrarem seus contrabaixos, descrevendo que, por ser grande, gordo e pesado, este instrumento simboliza um determinado animal. Surge então um imenso elefante, que vagarosamente vai caminhando e levando as crianças a bater palmas com entusiasmo.  

 

As duas galinhas infláveis e gigantes atrás da orquestra / Foto Asa Campos

 

Em um dos momentos do espetáculo, a orquestra toca um conhecido cancioneiro popular, que leva todos a cantarem juntos: “Como pode o peixe vivo/Viver fora da água fria/Como pode o peixe vivo/Viver fora da água fria”. Ao passo que a orquestra começa a tocar em marcha lenta, rapidamente o público identifica que agora é a vez da tartaruga, fazendo referência à sua lentidão. Na sequência chegam cangurus e galinhas gigantes, araras e tucanos, uma corrida de cavalos e o maestro sempre explicando: “Para o canguru, uma música leve e saltitante! Para o elefante, uma música gorducha!”

 

O comandante Amaral luta com o tubarão / Foto Asa Campos

 

O último animal a ser apresentado é um glamouroso cisne, que de forma mágica e poética vai sendo criado a partir de um tecido, até chegar ao ponto de alçar voo, o que encanta o público. Ao final, o espaço é tomado pelo “Carnaval dos Animais”, com a orquestra contagiando a todos os presentes e encerrando o espetáculo cheio de alegria.  

 

Os dois cavalos que vão para a arca / Foto Asa Campos

 

Em “Carnaval do Sr. Noé” o teor é de brincadeira e interação com o público, acrescenta Paulo Rogério Lopes. Para as próximas apresentações, o projeto prevê também outras linhas de abordagem: “Como tratar da vida, por vezes complicada, de um compositor? Pegamos a biografia e transformamos em uma fábula. Com Beethoven, criamos a personagem “Elise”, sua musa inspiradora, tentando trazer alegria, já que no começo de sua vida ele sofreu muito, perseguido pelo pai. O objetivo do projeto é que, por meio da brincadeira, a criança se interesse pela música clássica, que ela se envolva como num encantamento.”  

Karina, 39 anos, comenta que seu filho Felipe, 8 anos, e a sobrinha Lara, 5 anos, gostaram muito do espetáculo do Sr. Noé. “Gosto de música clássica e a vejo como um elemento importante para a formação das crianças. Acho o Aprendiz de Maestro legal porque reforça o que tentamos mostrar em casa e na escola, de uma maneira divertida. As crianças adoram!”. Durante a entrevista para o Panis & Circus, Felipe imita o som do elefante e diz orgulhoso que seu compositor preferido é Mozart.

 

Aprendiz de Maestro mistura linguagens

Amaral, o capitão, e Silva, o marujo, em cena na Sala São Paulo / Foto Asa Campos

 

O que acontece quando juntamos diferentes linguagens à música clássica, dentro do universo infantil? A Série Tucca Aprendiz de Maestro vem propondo desde 2002 esta junção, buscando uma aproximação da criança com a música clássica ou música de concerto, por meio de uma linguagem leve e divertida. A verba arrecadada na série Aprendiz de Maestro é revertida para a TUCCA – Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer – e é desde a sua criação, em 1998, presidida pelo oncologista e pediatra Sidnei Epelman e por sua esposa, a psicanalista Claudia Epelman.  Panis & Circus é parceiro do projeto.

 

Os atores bailarinos e o ovo do cisne / Foto Asa Campos

 

O maestro João Maurício Galindo é um dos mais importantes integrantes da série Aprendiz de Maestro. Ele fala sobre seu trabalho de formação de público para a reportagem do Panis & Circus: “O que chamamos de música clássica é um repertório que historicamente na Europa era feito para pessoas que conheciam a fundo essa linguagem musical. Com o tempo, o público se deseducou musicalmente, se tornando passivo ao que lhe era apresentado pelo mercado. Aqui no Brasil, não tivemos esse preparo inicial, para que as pessoas compreendessem uma obra mais complexa. Não chegamos a ter uma tradição da música clássica, apesar de algumas tentativas para que isso acontecesse. Eu percebi que o mais importante a ser feito era mostrar o quanto a música clássica era bonita. Nós, enquanto músicos, acreditamos que é uma arte maravilhosa e que as pessoas precisam conhecer. Sempre realizei ações tentando suprir essa falta de preparo musical, e o Aprendiz é uma dessas tentativas”.

O maestro encanta as crianças, subvertendo a rigidez e a formalidade da sala de concertos para se aproximar desta nova geração, sensibilizar o olhar, e principalmente os ouvidos, para uma verdadeira apreciação desta linguagem musical. E, ao final, recebe os cumprimentos deste público mirim, que interage com ele como se fossem velhos amigos e troca informações sobre o elemento principal do dia: a música. 

O maestro João Maurício, o marujo Silva, o capitão Amaral, e os médicos Claudia Epelman e Sidney Epelman da Tucca , em "O Carnaval do Sr. Noé/ Foto Asa Campos

 

O diretor Paulo Rogério em entrevista ao Panis & Circus / Foto Asa Campos

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