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“A 3ª edição de Circos – festival internacional – consolida a linguagem do circo dentro do Sesc”, afirma Carol Garcez, uma das coordenadoras do evento
Festival Internacional Sesc de Circo começa amanhã com “Acelere!”
Bell Bacampos, da Redação
Carol Garcez, assistente para Circo na Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo, fala da 3ª edição de Circos – Festival Internacional Sesc de Circo, em entrevista ao Panis & Circus.
São 28 espetáculos (15 internacionais e 13 nacionais) provenientes de 10 países, mais o Brasil, que vão se apresentar em 15 unidades do Sesc, de 28/5 a 7/6. Em 2014, foram 23 espetáculos (14 nacionais e 9 internacionais), de 6 países, mais o Brasil, em 13 unidades do Sesc. Em razão do crescimento do festival, “o público estimado para ver Circos 2015 é de 50 mil pessoas. O ano passado tivemos cerca de 30 mil pessoas assistindo a 2ª edição”, afirma Carol Garcez.
Segundo ela, um dos momentos mais difíceis da Curadoria do festival, que é 100% interna, é a hora de decidir “quais espetáculos trazer e quais não trazer – mesmo que sejam excelentes”. E momentos engraçados e afetivos ficam por conta de uma convivência diária do “núcleo duro” da equipe – aquele que acompanha, mais de perto, durante seis meses, a preparação do festival. “Tem hora que parecemos uma grande família.”
Diálogo constante com os técnicos e atenção refinada para as especificidades circenses fazem parte da rotina. “O Sesc realiza um festival de circo sem lona. Nós ocupamos os teatros, os vãos livres, as fachadas, em síntese, os espaços físicos das unidades. Por isso, é preciso dialogar bastante com os técnicos em circo para colocar o festival de pé e ter uma atenção refinada para que tudo dê certo”, afirma.
Em busca de espetáculos para Circos, Carol Garcez visita festivais nacionais e internacionais. Durante um deles, o Focus Cirque, realizado pelo Instituto Francês, em Toulouse, em outubro de 2014, ficou sabendo que espetáculos de circo são os produtos culturais mais exportados pelo país. Estão à frente do cinema e da música. Deve-se esse resultado ao esforço e ao trabalho dedicados a fomentar a arte circense.
No Brasil ainda não há dados que mostrem quanto a atividade circense movimenta na economia. Mas, o assunto está em pauta e deve ser debatido no festival.
A seguir, os principais pontos da entrevista com Carol Garcez.
Panis & Circus: O slogan “o maior espetáculo da Terra, sob novo olhar” define a 3ª edição de Circos – Festival Internacional Sesc de Circo?
Carol Garcez: Esse slogan já foi adotado desde a 2ª edição, em 2014. A gente remete à memória afetiva que se tem a respeito do circo – o maior espetáculo da Terra – sob outro olhar. Não é um novo olhar, nós não temos a pretensão de ser um novo olhar, mas queremos dar um panorama da abrangência das estéticas e dos fazeres circenses que vão desde o circo de lona, de picadeiro até as novas criações — destinadas a salas de espetáculos, espaços abertos — e que bebem na comunicação com o teatro, com a dança e outras linguagens cênicas como o circo é.
Circus: A 3ª edição de Circos tem mais espetáculos, mais unidades do Sesc envolvidas e mais atividades formativas (encontros, workshops, mesas de debates). Qual o motivo desse crescimento?
Carol: A 3ª edição vem para consolidar a linguagem do circo dentro do Sesc. Desde 2010, existe a retranca Circo na programação regular do Sesc junto com as outras linguagens artísticas que trabalhamos. O crescimento do festival é uma consequência do crescimento dessa linguagem dentro da instituição. Além desse momento especial – 10 dias de programação intensa de circo – todas as unidades do Sesc no estado de São Paulo (interior, capital e litoral) têm o circo, em sua programação regular, mensalmente.
Trata-se da consolidação de um trabalho de pesquisa, circulação e difusão da linguagem circense. Isso movimenta o público – que estamos formando e atraindo cada vez mais – e junto com outros realizadores de circo em São Paulo e no Brasil, estamos fomentando a área. Há, então, uma nova produção do circo.
Circus: Qual o perfil do público do festival?
Carol: É interessante falar do assunto porque gostamos de trabalhar a diversidade do público, das faixas etárias. A gente tem a impressão, graças a nossa memória afetiva, que o circo é uma arte feita mais para o público infantil, mais para o público familiar. O outro olhar do slogan de Circos refere-se também a essa diversidade. No festival, nós temos atividades para o público infantil, familiar e também para o adulto – nesse último caso desmistificando um pouco essa percepção de que circo é só uma linguagem para crianças. Ao trazer o circo para o adulto o festival incorpora essa novidade.
Circus: Qual a estimativa de público na 3ª edição de Circos?
Carol: Em 2014, tivemos cerca de 30 mil pessoas assistindo a 2ª edição de Circos. Em um estudo, para esse ano, dado o crescimento do festival, a estimativa é de um público de 50 mil pessoas.
Circus: Quem são os “olheiros” do Sesc que ajudam a decidir quais os espetáculos trazer para o festival?
Carol: O Circos é um projeto com Curadoria 100% interna. Não só no festival, mais ao longo de todo o ano, nós, os assistentes da gerência de ação cultural, viajamos e estabelecemos intercâmbios com outros festivais em busca de atrações a ser apresentadas ao público. Os produtores, os técnicos de programação e as pessoas que compõem as equipes das unidades estão também em busca de atrações para o festival.
O Sesc estimula que os profissionais da instituição circulem pelo meio para que haja troca de experiências e se traga novidades.
Essa parte, como você diz de ser “olheiro”, é também ampla e colaborativa. Há sempre um diálogo até se chegar ao projeto que vai ser mostrado ao público nas unidades da instituição.
Nós frequentamos tanto os festivais nacionais quanto internacionais, principalmente, os da França e do Canadá. Mas não só eles. Em fevereiro desse ano, Lucas Molina (também curador e coordenador do Festival Circos 2015) esteve no Festival Subcase, em Estocolmo (Suécia), realizado pelo Subtopia. E quando não podemos viajar temos também uma relação próxima e consistente com outros produtores e realizadores de festivais – o que ajuda na troca de ideias e seleção de espetáculos.
Circus: Quais os momentos mais difíceis e engraçados vivenciados nas edições do festival?
Carol: Três edições do festival consecutivas resultam num processo intenso de aprendizado para a instituição em relação à linguagem circense. Aprendemos e amadurecemos bastante desde a primeira edição. Estamos aprimorando esses processos.
Você me pergunta sobre os momentos difíceis e eu respondo que existem vários e não só referentes aos entraves burocráticos. Partindo da Curadoria chega um momento em que é preciso tomar a decisão crucial: quais espetáculos trazer e quais não trazer mesmo que sejam excelentes. Esse momento de escolha é certamente muito difícil.
E é preciso uma atenção redobrada, em outro momento, quando a gente se depara com as especificidades da linguagem circense. O Sesc realiza um festival de circo sem lona. Nós ocupamos os teatros, os vãos abertos, as fachadas, em síntese, os espaços físicos das unidades. Por isso, é preciso dialogar bastante com os técnicos em circo para colocar o festival de pé. Trata-se de um diálogo com sintonia fina para entender as necessidades técnicas que nós passamos até a chamar de necessidades circenses. Não é um momento difícil, mas um momento que exige atenção refinada, apurada ao máximo, para que tudo dê certo.
Os momentos engraçados são vários também. O fato é que monta-se uma equipe, que chamamos o núcleo duro do festival, que convive muito próxima durante seis meses antes do festival. Essa equipe vai criando afinidades, uma relação harmoniosa e divertida – a gente se sente como se fosse uma grande família.
E pegando até mesmo características do circo: a construção que tem que ser em conjunto, uma pessoa só não coloca um circo em pé – e familiar, sensação de pertencer a um grupo. E é uma sensação bastante boa.
Circus: O circo contemporâneo responde por 0,7% do PIB na França. Aqui no Brasil se tem alguma estimativa de quanto o circo movimenta na economia?
Carol: Eu não saberia precisar o número – mas existem ponderações importantes a ser feitas. Antes, queria falar da França porque estive no Focus Cirque, realizado pelo Instituto Francês, em outubro de 2014, em Toulouse. De acordo com Vanessa Silvy, responsável por Circo no Instituto Francês, espetáculos de circo são os produtos culturais mais exportados pelo país. O Instituto Francês é um parceiro institucional do Sesc São Paulo não apenas para a área de circo mas para outras ações no campo da cultura. (Mais informações sobre o Instituto Francês em http://www.institutfrancais.com). Antes de chegar a ser o produto cultural francês mais exportado, o circo passou até mesmo pelo crivo do Ministério da Agricultura porque eram famílias circenses circulando com animais. Depois, foi feito um grande esforço de fomento a arte circense no país.
Aqui no Brasil duas pesquisas – “Públicos de Cultura” e “Hábitos Culturais”, mostram que é equivocada a noção de que o circo está sempre na periferia e é um produto para espectadores de baixa renda. O circo aparece como a primeira experiência cultural e também é o preferido quando colocado em comparação com outras atividades como teatro, dança e cinema.
Se o interesse em ir ao circo não se traduz em uma maior frequência – a explicação pode estar no fato de que os circos de lona não encontram espaços para se instalarem nas cidades e os outros espaços ainda precisam ser adaptados, corretamente, para receber espetáculos que necessitam de toda uma especificidade técnica.
O festival vai trazer espetáculos para encantar o público mas vai também jogar luz nessas questões.
Postagem – Alyne Albuquerque
Como foi falado na entrevista, o SESC, espera por um público próximo dos 50 mil, e com certeza, serei um desses espectadores.