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“Circo no shopping é a cara de São Paulo”
Circo na Cidade tem lotação máxima e atrai legião de fãs
Fernanda Araujo, do Panis & Circus
Sem lona, nem picadeiro, o novo circo reuni uma legião de fãs e conquista a garotada. É o que prova a lotação máxima da oficina Circo da Cidade, que estreou dia 16 de janeiro, na Casa Bossa, dentro do Shopping Cidade Jardim, em São Paulo (SP).
“Circo no shopping é a cara de São Paulo”, argumenta Sandro França, um dos sócios do projeto Circo da Cidade. Segundo ele, o gosto pelo circo permanece, mas o local de lazer dos paulistanos mudou há muitos anos e é preciso se adaptar.
A sessão de duas horas, composta por um circuito de oficinas e um show, será oferecida até o dia 25 de janeiro, para crianças de 4 a 15 anos. Os ingressos custam R$ 70 (durante a semana) e R$ 90 (sábado, domingo e feriado), por criança. Para que os pais permaneçam humorados não há mágica: é recomendável adquirir os bilhetes com antecedência, pois a diversão está sujeita a capacidade do espaço (60 crianças por sessão) – e lota mesmo, acredite, nós testamos!
Ver para crer
Como pode? Tanta gente assim disputando uma oficina de circo em um dos shopping mais sofisticados de São Paulo?
Para entender melhor esse fenômeno de público, a reportagem do Panis & Circus testou o local no dia 19 de janeiro com a ajuda de duas assistentes mirins: Carolina Narita, de 9 anos; e Isabella Narita, de 11 anos.
Chegamos às 14h40, momento em que duas mães discutiam com a atendente pelo mesmo motivo: ambas ligaram antes, foram informadas de que havia ingresso, saíram de longe com seus filhos e… não estavam conseguindo entrar para a próxima sessão, às 15h30. Diante do reboliço, as crianças foram atendidas – e nós também.
Minutos depois, a fila não parava de crescer. Alguns adultos chegavam com os ingressos adquiridos com antecedência, enquanto outros se lamentavam e compravam bilhetes para os dias seguintes.
Circuito de estações
O acesso ao circuito é realizado por dentro da cabana de um dos patrocinadores. Uma maneira lúdica de anunciar que algo diferente está por vir, com segurança e conforto. Nessa proposta, as crianças sentam-se em roda e ouvem a história de um trapezista chamado Claudio Costa que caiu bastante, antes de ser famoso. A calmaria, entretanto, acaba por aí.
Na sequência, as crianças são selecionadas por faixa etária e brincam cerca de 20 minutos em estações temáticas. A ideia é que todas as crianças brinquem em todos os aparelhos. Há quatro propostas: equilibrismo, camas elásticas, aparelhos aéreos e malabares.
A primeira estação por onde os pequenos passam é o campo dos malabares, provavelmente por ser o mais lúdico. A diversão começa com uma bolinha na mão de cada criança, a exploração da forma e a ‘transformação’ em outras coisas, como um sorvete e o guidão de uma moto. Os bastões têm o mesmo destino.
Na estação do equilibrismo a primeira tarefa é andar exclusivamente sobre uma linha branca pintada no chão. Missão cumprida, hora de andar sobre slack line, com a ajuda dos monitores e das mães. Como a atividade é um pouco mais demorada, aos demais atletas são oferecidos espaguetes de isopor para equilibrar na palma da mão e pés de lata.
Duas camas elásticas fazem a alegria da garotada. Uma é bem tradicional de festa infantil, com rede de proteção ao redor. Na outra, sem proteção em volta, um artista especializado no aparelho conduz a brincadeira conforme a faixa etária: os menores pulam com ele no colo; os menores mais confiantes ele pega no colo e dá uma pirueta; para os maiores ele incentiva que pulem e façam algo próximo a uma parada no ar sobre as palmas de suas mãos.
Na estação dos aéreos há trapézio, lira, tecido e escalada. Ficar de ponta cabeça na lira foi uma das atrações mais repetidas. E o interessante é que todas as crianças fizeram as mesmas atividades, variando apenas a ajuda do instrutor/artista.
Os pés de lata, brinquedo antigo feito com lata de leite e fitas coloridas, é novidade para muitas crianças. Os pés miúdos (alguns com sapatos de tecido, outros sem), se encaixam sobre a superfície da lata e, com a ajuda das alças de barbante a caminhada segue divertida, sem dificuldade para os estreantes.
Barraca dos malabares
Logo na entrada, do lado direito, uma barraca da empresa Jr. Malabares chama a atenção dos pequenos artistas. Ali é possível testar e comprar pratos, bolas e arcos, ente outros fascinantes brinquedos. Não são baratos. O ioiô de circo custa R$ 55, o menor, e R$ 70, o maior.
Os adultos também adoram. Alguns juram que estão comprando para os filhos, enquanto outros assumem com a maior felicidade. “Compro várias coisinhas de mágica. Sou personal trainer e no final de cada atividade eu costumo ensinar algo divertido”, conta Regiane Real Xavier, mãe de Vittória.
Após as oficinas, pausa para um lanchinho e hora do show. É o momento em que os monitores se revelam artistas e cada um mostra sua especialidade. O encerramento ocorre sempre com uma atração convidada, uma apresentação de mágica ou palhaço, por exemplo. No dia da reportagem, um número com produção de ‘neve’ encantou adultos e crianças.
Trupe e cenário
Sócios da Casa Bossa, Renata Boranga e Fábio Coelho estão habituados aos eventos no shopping. Mas, para as férias, queriam algo específico para a garotada (Renata é mãe de duas meninas de 1 e 4 anos de idade). Com a amiga Fernanda Montoro, que tem mais de 20 anos de experiência com circo, o mote artístico não demorou a surgir.
Os artistas no Circo da Cidade transmitem técnicas básicas da atividade, como a necessidade de abrir os braços para manter o equilíbrio, o humor para lidar com os malabares, a maneira de subir na lira e se manter de ponta cabeça e a melhor maneira de ganhar impulso na cama elástica.
Eles fazem as vezes dos tradicionais monitores, embora com habilidades específicas. Essas habilidades permitem que cada artista (individualmente ou em dupla) comande a brincadeira em uma estação de modo mais seguro, preciso e divertido.
Para compor o cenário circense, são projetadas cenas de Chaplin, Cirque Du Soleil, Jacques Tati e de clássicos filmes como “O Maior Espetáculo da Terra” e “Trapézio”.
Registre-se a ausência inexplicável de vídeos sobre a história do circo tradicional brasileiro e das atuais trupes circenses contemporâneas que fazem arte.
Mais um! De novo! Fica!
Não tem choro. O evento não será prorrogado. Devido ao sucesso, os organizadores planejam novas oficinas nas férias e na semana da criança. Ou, quem sabe, uma vez por mês. Entretanto, por uma questão de agenda, o programa de estreia deve encerrar-se na data marcada mesmo.
A sessão das 17h30, antes exclusiva do fim de semana, foi agregada à agenda para atender os ‘novos artistas’. “Percebemos que há uma demanda maior no período da tarde e em dias de semana. Creio que aos sábados e domingos tem mais atividades na cidade e como os pais estão em casa há uma tendência de um programa mais entre os membros da família”, explica Renata Boranga, uma das sócias da Casa Bossa.
Programe-se
- As sessões iniciais, das 11h e 13h são mais tranquilas. Para o período vespertino é prudente comprar o ingresso um dia antes.
- A criança ficará mais à vontade com roupas confortáveis.
- É prudente retirar brincos, correntes e outros acessórios.
- Providencie uma refeição leve antes da atividade.
Anjo da guarda
Jonathan, o bombeiro contratado do evento, está de olho em tudo. Desce gentilmente a criança que escapou dos monitores e subiu no colchão; empurra os pés de lata para o canto enquanto as crianças se distraem com outras brincadeiras (na iminência de perigo no meio do caminho); e resgata o cachorro-quente do chão para que as pessoas não escorreguem. “Tem criança que come deitada, tem que vigiar para não engasgar. Presto atenção. A enfermaria fica aqui embaixo, mas graças a Deus não precisei levar ninguém lá não”, explica o jovem sorrindo, focado na turminha.
Benefícios
- O valor do ingresso inclui lanchinho: cachorro-quente (com molho de tomate bem gostoso) e pipoca – quitutes típicos do circo. Para beber caldo-de-cana (com e sem limão) e suco gaseificado.
- Além de lúdicas, as atividades circenses desenvolvem coordenação motora e ritmo, entre outros pontos.
- Por segurança, as crianças e os responsáveis recebem pulseiras de identificação que são checadas na entrada e na saída do estabelecimento.
- O local dispõe de banheiro próprio e água filtrada, sem que haja a necessidade de sair do estabelecimento e recorrer a estrutura do shopping.
- O piso de madeira é ideal para as crianças.
- No caso das crianças menores, entre 4 e 5 anos, é permitido a entrada dos responsáveis no espaço do circuito.
- Para os menores de 4 anos há um espaço kids gratuito com piscina de bolinhas, mesinha com cadeiras, poltronas para os responsáveis que devem permanecer no local com as crianças.
Ajustes
- Não há um espaço específico para a hora do lanche. Por mais que os monitores tentem reunir as crianças em frente a bancada dos quitutes, elas se dispersam, principalmente quando a sessão está operando em lotação máxima.
- Várias crianças chacoalharam o canudo na garrafinha do suco gaseificado para vê-lo transbordar. A ação provocou a maior lambança em vários pontos.
- Há demanda por mais monitores. A grande quantidade de crianças pequenas é um fato que requer uma atenção maior do que a planejada inicialmente.
- O acesso de crianças menores de 4 anos (mesmo que não seja oficialmente permitido) compromete a harmonia do grupo.
Serviço
Circo da Cidade
Local: Av. Magalhães de Castro, 12.000, Morumbi, 3492-2530. De 16 a 25 de janeiro.
Horário: todos os dias (inclusive feriado), às 11h, 13h e 15h30 e 17h30.
Duração: 2h, cada circuito.
Preço: R$ 70 (durante a semana) e R$ 90 (sábado, domingo e feriado).
Faixa etária: 4 a 15 anos.
Todos os meus netos fazem oficina de circo nas férias, com a Fernanda e o Sandro, e todos adoram.