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Cosac Naify publica novela em forma de cartuns
O mistério do senhor Lambert
“Senhor Lambert” é daqueles livros que você não larga. Trata-se de uma história em quadrinhos do cartunista francês Jean-Jacques Sempé, atualmente com 80 anos, que retrata a vida comezinha na capital francesa.
Sempé é colaborador da revista norte-americana “New Yorker” e o criador do famoso personagem o Pequeno Nicolau, no final da década de 1950, que, em seguida, ganhou histórias oriundas da parceria entre Sempé e René Goscinny (1926-1977).
O enredo de “Senhor Lambert” é montado como uma sucessão de cartuns, com balões e um texto narrativo no rodapé. Cada cartum representa uma refeição em um dia no cotidiano dos frequentadores do delicioso bristô Chez Picard.
A orelha do livro traz um cardápio, escrito à mão e datado de 12 de fevereiro de 1965. O menu parece irresistível: frios, cenoura ralada e ovos duros na entrada, um quarto de frango cozido no vinho, salada verde e, de sobremesa, torta de damasco ou pudim.
O ar caseiro do restaurante contribui para a atmosfera familiar entre os personagens, que param tudo na vida agitada de Paris para comer e conversar. O senhor Cazenave engole a comida e alguém sempre comenta isso. Papos sobre política e futebol correm soltos e contagiantes.
Enquanto isso, o leitor lê abaixo do cartum que terça é dia da terrine do chef, seguida de escalope à milanesa com salada da estação. A refeição é uma festa.
A sequência dos dias passaria despercebida se não fosse pela ausência do senhor Lambert, que não apareceu na quarta e no dia seguinte e depois do dia seguinte e foi motivo de conjecturas. Estaria doente? Teria brigado com alguém? Teria mudado de restaurante?
O narrador é onisciente e comenta que teve, com os amigos personagens, de responder a esse tipo de perguntas, que os obrigavam a definir o melhor comportamento para um amigo em momentos de sumiços como esses do senhor Lambert.
Muito discreto, o narrador não se deixa identificar entre os convivas no restaurante. Mas eles anotam tudo, inclusive quando alguém, de súbito, cruza na rua com o senhor Lambert no ônibus 66.
Lambert aparece afinal e nada lhe perguntam. São discretos à sua frente e perguntadores na ausência dele. Até a garçonete Lucienne fica intrigada.
Mas Lambert está mudado, almoça de modo mecânico e não participa das conversas como antes. A mudança se chama Florença, “a” mulher, “aquela que todo homem percebe na hora”.
A narrativa tem outras surpresas e segue atraente até o final, ilustrada por traço inteligente, que mais sugere do que impõe a feição dos personagens que descreve.
Para essa edição de 2012, da editora Cosac Naify, o livro recebeu apoio do projeto Programas de Auxílio à Publicação, do Instituto Francês. A tradução é do jornalista e escritor Mario Sergio Conti, repórter da revista “Piauí” e apresentador do programa “Roda Viva” (TV Cultura).
Link: http://editora.cosacnaify.com.br/Autor/1274/Semp%C3%A9.aspx
Outras publicações de Sempé em português, para crianças
“Raul Taburin” (Cosac Naify, 2010); “Marcelino Pedregulho” (Cosac Naify, 2009); “A Volta às Aulas do Pequeno Nicolau” (ed. Rocco, 2010) – com Goscinny.
A cia. Truks adaptou “Marcelino Pedregulho” para o teatro.
http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI177146-10532,00-LIVRO+CONTADO+NA+CRESCER.html
(Mônica Rodrigues da Costa)
Tags: chargista, Cosac, Lambert, Naify, novela, Sempé, Senhor