E com Vocês...
“É assustador vivenciar o impacto de um terremoto”
A terra tremeu em 16/9 quando eu postava uma reportagem para o site
Alyne Albuquerque, de Santiago, do Chile
16 de setembro de 2015, 19h45 (20h45 em Brasília), quarta-feira: eu estava sentada em frente ao computador e começando a colocar no rascunho a capa “ Fringe: mais de 2 milhões de ingressos vendidos”, do site Panis & Circus – que iria para o ar em 18/9. Sou responsável pelas postagens, fotos, links e compartilhamentos do site.
Durante três anos, fiz a postagem do site no Brasil. Em fevereiro último, quando me mudei para Santiago, no Chile, com meu marido, Leandro, e minha filha, Beatriz, propus à editora (Bell Bacampos) continuar o trabalho – mesmo estando a mais de 3267,6 km de São Paulo. E tem dado certo nos tempos da internet, da era digital.
Em Santiago, alugamos uma casa no bairro Cerrillos, em uma vila (Villa Santa Adela) , e verifiquei que havia muita coisa para conhecer e se acostumar: tempero, idioma, temperatura, cultura e terremoto – a esse último não tinha vontade alguma de ser apresentada. Mas ele fez questão de bater à porta, em 16/9.
Em frente ao computador, na casa da minha tia Olivia, verifiquei que ele começou fraco e não senti logo no início porque quando estou sentada minhas pernas não ficam paradas – tenho o hábito de balançá-las sem parar. Depois, tomou conta de tudo.
O terremoto foi forte, atingiu 8,3 graus na escala Richter, mas veio silencioso – sempre me relataram que ele chegava com um barulho apavorante.
Pensei que minha tia encararia o terremoto com mais calma porque está acostumada – mora em Santiago desde que nasceu – há mais de 50 anos. Mas ela foi ficando cada vez mais assustada e confesso que precisei reunir forças para me aguentar e não entrar em pânico.
É uma sensação estranha, muito estranha mesmo, sentir o chão tremer e em dado momento quando parece que vai parar, vem, de repente, um movimento, como se fosse um chicoteio, e o terremoto ganha mais força. Difícil de explicar e aterrorizante de sentir.
Eu peguei meu sobrinho Alonso de três meses e fiquei embaixo do batente da porta, que é um dos locais indicados para ficar. Felipe, meu outro sobrinho, de 7 anos, não estava nem aí e queria ir para a rua brincar. Minha tia dizia: “está muito forte e não para”.
Foram dois minutos intermináveis.
Minha filha, Beatriz, 10, estava com a prima Martina, 11, na casa de um amigo, Nico, 10, que fica na mesma rua da casa da minha tia e logo que o chão parou de tremer fui buscá-las. Elas estavam tranquilas, queriam continuar lá e a mãe de Nico aconselhou a não interromper a brincadeira em função do medo.
Todos aqui ficam preocupados com a Bia porque sabem que no Brasil não tem terremoto – ainda que o tremor de terra no Chile tenha tido reflexos em São Paulo com os bombeiros recebendo cerca de 50 chamadas da Paulista, Vila Mariana, Tatuapé, Guarulhos e Osasco, conforme destacou o noticiário. Sem contar os abalos provocados por dados econômicos negativos aliados ao troca-troca político e que passaram a ser diários. Mas essa é outra história.
Todos estão bem
Comecei a tentar me comunicar com meus primos e meu marido, e por telefone, nem pensar. Mas a internet fez bem o seu trabalho e por Whatsapp, em menos de dois minutos, verifiquei que todos estavam bem.
Meu marido, Leandro, me disse que estava tranquilo – o que considerei surpreendente.
Minhas primas Patricia, 39 e Natalia, 33, estavam no terceiro piso do shopping “Mall Plaza Oeste” e quanto mais alto o lugar mais balança. Elas ficaram assustadas e saíram correndo, acompanhadas de outros frequentadores, num efeito manada, para as saídas de emergência. Mais tarde, contaram que, no geral, choram. Não conseguem encarar o fenômeno da natureza como natural. Meu tio Roberto, falecido há um mês, uma vez saiu correndo e se escondeu embaixo de um carro na rua.
Enquanto telefonava para o Brasil, veio a 1ª réplica
Tratei de avisar a família no Brasil, antes que o terremoto aparecesse no noticiário. Liguei para minha mãe e enquanto falava com ela aconteceu a primeira réplica do terremoto – que havia abalado Santiago há menos de 15 minutos. (Explico: as réplicas “temblores” são movimentos sísmicos que ocorrem na mesma região do terremoto central e são menos intensas – porque têm magnitude inferior ao sismo principal).
Mas com a réplica tudo voltou a tremer – lustres, móveis, copos e panelas. Eu estava em um quarto, meu sobrinho de 7 anos, em outro, e o bebê, em um terceiro. Saí correndo com o celular na mão para pegar as crianças e fiquei muito assustada. Quase chorei, mas me controlei ao máximo para não preocupar minha mãe que estava do outro lado da linha no Brasil. Engoli o choro e o medo e consegui passar tranquilidade à ela.
Alerta para o tsunami
Depois da réplica, veio o alerta de tsunami emitido pelo governo chileno para todo o país. Ondas de até 4,5 metros atingiram a cidade de Coquimbo, a 243 km de Santiago, enquanto em Valparaíso, principal porto do Chile, a ressaca chegou perto de dois metros. O alerta de tsunami foi cancelado, na quinta, 17/9, e mantido na madrugada apenas nas regiões de Atacama e de Coquimbo.
A praia de Socos, localizada em Tongoy, a 360 km de Santiago, sumiu, e dizem que vai demorar meses para a água baixar.
O atual terremoto não foi tão catastrófico quanto o de 27 de fevereiro de 2010, que alcançou 8,8 graus na escala Richter e cerca de 500 pessoas morreram. Apesar das perdas humanas e materiais, o Chile tem um sistema de resposta para emergências desenvolvido por causa de uma longa história de tremores, e que funciona. Também em 2010, mais de 200 mil pessoas morreram no Haiti quando um tremor de magnitude 7,0 atingiu a capital, Porto Príncipe.
O terremoto de setembro de 2015 foi forte e as placas se deslocaram muito de seu lugar, por isso, é certo que virão mais réplicas – em até dois meses as placas têm de estar reacomodadas.
Réplica em 21/9
As réplicas podem ser fraquinhas, algumas nem são perceptíveis, outras são mais fortes como a que bateu 6,9 graus na escala Richter na segunda-feira, 21/9.
É visível a união dos chilenos após a tragédia, em que a dor pela perda de vidas (13 mortes e mais de 9000 afetados) não pode ser estimada e os estragos materiais são contabilizados em milhares de pesos. Por toda a cidade e com o apoio da TV são arrecadadas doações – amparadas em um sentimento traduzido no lema “adelante Chile”!
O bom é que eles são unidos e se ajudam muito!
Bebida típica
Nas festas pátrias (18 de setembro é o dia da Independência) tem uma bebida típica que se chama ‘terremoto’. E os chilenos dizem com humor: “se ahi terremoto, nossotros tomamos”! Após o terremoto de 16/9, as redes sociais ficaram cheias de registros de vídeos e fotos do tremor principal e das várias réplicas que vieram, em seguida, com magnitude de até 6,5 graus.
Eles acreditam que com “buena onda” (bom humor) é mais fácil superar os problemas, os brasileiros são um pouco assim também!
Espero que eu me acostume e consiga fazer parte dessa “buena onda”.
Postagem – Alyne Albuquerque
Querida Gê
Muito esclarecedor o seu texto, p entendermos esse fenômeno da natureza q é tão distante da nossa realidade brasileira, e tb reconfortante p nós parentes por vermos q vc , Bia e Leandro estão passando por isso c relativo equilíbrio, e dentro do possível!!! Não deve ser nada fácil! Conte c nossa torcida e nosso enorme carinho e amor por vcs! Bjão!