E com Vocês...
Espie pela cortina: “Hoje tem Espetáculo!”
Centro de Memória inaugura mostra permanente sobre as artes do picadeiro
“Hoje tem Espetáculo!’ convida o público a espiar pela cortina os quase 200 anos da história do circo no Brasil, no Centro de Memória do Circo, que fica no térreo e na sobreloja da Galeria Olido, à esquina da rua Dom José Gaspar com a avenida São João, no centro de São Paulo. A exposição, aberta em 10/12, reuniu a classe circense – desde os integrantes do Circo Tradicional até o Circo Novo – e seus convidados.
Roger Avanzi, o palhaço Picolino II, que completou 90 anos em 07/11, de braços dados com Verônica Tamaoki, coordenadora do Centro de Memória e curadora da mostra, caminharam pelo corredor da Galeria Olido e chegaram ao espaço térreo do Centro, que foi inaugurado por eles. Mais de 200 pessoas, ao som de palmas, acompanhavam seu Roger e Verônica.
Vídeos, panéis e botões contam histórias
No térreo do Centro de Memória do Circo (CMC), o visitante aperta botões e painéis com luzes que se acendem. Então uma voz off fala das artes de equilibrismo no arame, malabarismo, de números aéreos (trapézio, corda marinha), das peças de circo teatro, dos animais e das músicas.
Na exposição há muitas imagens históricas, como as fotos da circense Alice Silva Medeiros quando criança (1940) e jovem (1950), com a sobrinha, no arame.
Alicinha, como é conhecida, esteve na exposição “Hoje Tem Espetáculo!”, ao lado de dois artistas do Circo Novo: Maíra Campos e Marcelo Lujan, do Circo Zanni. Ela foi a professora de arame deles.
No térreo do CMC se encontra a miniatura de um circo produzida por mestre Maranhão (José Araújo de Oliveira), artesão que fabricou equipamentos para diversas companhias circenses e morreu em 1º de dezembro deste ano.
Depois de inaugurada essa parte da mostra, Verônica e seu Roger se dirigiram pelo corredor da galeria até a entrada da sobreloja. Diante da fita vermelha instalada no começo do corredor, Verônica Tamaoki e Carlos Augusto Calil, secretário municipal da Cultura, foram cercados por muitos circenses e demonstravam satisfação. “A mostra é um sonho de muitas gerações. Viva o Circo”, disse Verônica Tamaoki. “O espaço é de vocês. Tomem conta dele”, acrescentou Calil.
Desamarrada a fita vermelha por uma menina de rosto pintado de palhaço, Verônica saudou cada uma das pessoas presentes, que subiam a escada para ver a mostra da sobreloja: o parlapatão Hugo Possolo, as equilibristas Alicinha e Maíra, a Família Mello, o musicista e malabarista Marcelo Lujan, a pesquisadora Thaís Hércules, Ana Garcia, do Circo Romano, entre muitos outros artistas.
Entrevistado pelo site Panis & Circus, Calil disse que a gestão dele acolheu o circo, uma das mais antigas expressões culturais. “Coube a nós a montagem do Centro de Memória do Circo, aberto em 2009, e agora a sua ampliação.” De lá para cá, acrescenta, a doação de mais objetos fez com que fosse preciso ampliar o local do acervo, que ocupa um novo espaço, de 800 metros quadrados.
Na sobreloja, painéis com fotografias, fitas de áudio e vídeo contam a história de estrelas como Roger Avanzi (Picolino II, do Circo Nerino), Piolin (1887-1973), Arrelia (1905-2005), Tihany, Oscarito (1906-1970) e Carola Garcia.
No painel de Arrelia está descrito que é impossível pensar no palhaço sem lembrar o cumprimento de Arrelia, que se tornou um dos mais conhecidos bordões de palhaços no país: “Como vai, como vai, como vai? Muito bem! Muito bem! Muito bem!”. Waldemar Seyssel, o Arrelia, formou-se advogado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), cumprindo uma promessa feita à mãe – mas nunca exerceu a profissão.
O painel do Circo Garcia mostra que o picadeiro foi fundado por Antolin Garcia, em Campinas, no Estado de São Paulo, em 1928. O último espetáculo aconteceu na capital paulistana no final de 2002. O informativo conta também um pouco da história de Carola Boets, que era belga e assumiu o Circo Garcia com a morte de Antolin. Carola começou a carreira fazendo imitações do humorista francês Maurice Chévalier (1888-1972). Ela tocava saxofone, dançava, interpretava e adestrava animais (cobras, elefantes, chipanzés).
PioIin é a atração em um dos painéis. O presidente Washington Luís (1869-1957) e modernistas como os escritores Oswald de Andrade (1890-1954) e Mário de Andrade (1893-1945) eram frequentadores de suas apresentações no circo que ficava no Largo do Paisssandu, o mais tradicional ponto da atividade em São Paulo.
A artista Alessandra Siqueira foi prestigiar a exposição. Ela é de Santo André e realizou sua formação de artista com o grupo de palhaços Doutores da Alegria e na Escola Nacional de Teatro. Em parceria com o Centro de Memória do Circo, Alessandra tem uma companhia chamada Reprise. Atualmente, ministra um curso de artes do palhaço que tem a duração de um ano. Ela é a palhaça Silueta. Estava com o seu grupo de alunos no Centro de Memória do Circo.
No meio de painéis que falam das estrelas do circo e da linha do tempo da atividade, uma maquete comprida recria cenas das artes circenses com a ajuda de bonecos.
Na parede esquerda de quem entra, a linha do tempo mostra acontecimentos históricos misturados – a aventura do circo no Brasil de 1831 até 2009.
Ao lado da linha do tempo, há um vídeo com cenas circenses, entre elas, a caminhada no arame dos artistas Maíra Campos e Marcelo Lujan no Circo Zanni.
A exposição tem mais de 160 fotos, artigos, depoimentos, filmes e figurinos, que falam do circo brasileiro.
Na entrada da sobreloja, uma grande fotografia em preto e branco mostra meninos espiando por trás da lona. O circense Marcão comenta a foto: “É uma cena montada. Jamais deixariam a gente espiar o circo. Aquele bumbum, ali, à esquerda, é o meu”. Marcos Medeiros, conhecido como Marcão (malabarista, “portô” de trapézio e professor de trapézio), é casado com Alicinha e pai das “Irmãs Botero”, artistas circenses que trabalham no Cirque du Soleil, em Las Vegas.
OPINIÃO
Circenses comentam mostra histórica
“A exposição é uma dualidade para mim: ela me faz um grande bem e um grande mal. O grande bem é ver a história do circo em retratos tão bonitos. É um presente para São Paulo. O grande mal é porque estou muito emocionado. Todo mundo quer me abraçar. Tudo isso deixa o meu cérebro meio confuso e a minha alma em festa. Mas fico com medo. Já fiz 90 anos e fico com medo de não aguentar.”
Roger Avanzi
“Estou feliz. A mostra era um desejo de tantos circenses.”
Verônica Tamaoki
“É a nossa história que está aqui. Mexe com o coração da gente. É uma honra ter essa exposição do circo, que é permanente, no Centro de Memória.”
Alice Avanzi Medeiros
“É tudo maravilhoso. Hoje e todo dia vai ter espetáculo!!!”
Marcos Medeiros (Marcão)
“O acervo divulga a história e a beleza do circo. Devemos o olhar mais atencioso voltado às artes circenses ao secretário Calil. Por isso, estamos programando uma homenagem para ele, no dia 18, terça-feira, no Centro de Memória do Circo. Queremos agradecer por sua gestão ter tomado conta do circo.”
Camilo Torres, presidente da Abracirco
“Muitos vão dizer que a exposição é bonita, que emociona, mas que deveria ter sido feita há muito tempo. Acho que apareceu no momento em que deu. Graças à gestão do Calil, que foi nota 12, de 1 a 10, porque valorizou o circo e a dedicação da Verônica.”
Palhaço Piroleta
“É um importante dia para o Centro de Memória. A exposição tem um novo Café dos Artistas, que retoma a tradição dos donos de circos que iam ao Largo Paissandu para contratar artistas.”
Marlene Querubin, do Circo Spacial
“A exposição mostra avanços que a gente consegue paulatinamente para o circo. O acervo vai ganhando mais peças, mais fotos, mais depoimentos, mais figurinos…”
Bel Toledo, presidente da Cooperativa Brasileira de Circo
“Gostei muito. É um trabalho bem feito e importante.”
Maíra Campos, do Zanni
Linha do tempo
1992
Na exposição do CMC, a linha do tempo mostra que o ex-presidente Fernando Collor sofre impeachment em 1992. Assume no lugar dele Itamar Franco, o vice-presidente.
Aparece também o massacre do Carandiru, em São Paulo.
Em São Paulo, surge a Cia. Cênica Nau de Ícaros.
Iracema Guarany, aos 22 anos, substitui Orlando Orfei.
1995
Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente do Brasil.
Lançamento do livro “Noites Circenses – Espetáculos de Circo e Teatro, em Minas Gerais, no século XIX”, de Regina Horta Duarte.
1996
O palhaço Tiririca torna-se famoso em todo o Brasil, interpretando o xaxado “Florentina”.
No Rio de Janeiro, realiza-se o 1º Encontro Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro.
Surge em São Paulo o Circo Vox.
1997
Surge em São Paulo o grupo La Mínima, com Fernando Sampaio e Domingos Montagner.
1999
Fernando Henrique Cardoso é reeleito presidente brasileiro.
Surge em São Paulo o Grupo Fractons.
Lançamento do livro “Respeitável Público – Os Bastidores do Fascinante Mundo do Circo”, de Ruy Bartholo.
2001
Atentado de 11 de setembro em Nova York (EUA).
Em Belo Horizonte acontece o 1º Festival Mundial de Circo.
2002
O ex-líder sindical Luís Inácio Lula da Silva é eleito presidente do Brasil.
Em São Paulo, o Circo Garcia, o mais longevo dos circos brasileiros, encerra as atividades.
2003
Em São Paulo, surge o Circo Zanni.
Lançamento do livro “Os Palhaços”, de Mario Bolognesi.
2004
Lançamento do livro “Circo Nerino”, de Roger Avanzi e Verônica Tamaoki.
Surgem em São Paulo o Circo dos Sonhos, a Academia Brasileira do Circo e o Grupo Namakaka.
2005
Fundação da Cooperativa Paulista de Circo.
Proibição de animais em circos cresce dentro e fora do país.
No Rio de Janeiro, realiza-se o 1º Festival Internacional de Comicidade Feminina – Mulheres Palhaças.
2006
Reeleição do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Surge o Circo Roda Brasil.
2007
Lançamento do livro “Circo-teatro – Benjamim de Oliveira e a Teatralização Circense no Brasil”, de Erminia Silva.
2009
Eleição do presidente Barack Obama, nos Estados Unidos.
Lançamento do livro “Respeitável Público – O Circo em Cena”, de Erminia Silva e Luís Alberto de Abreu.
Lançamento do livros “Palhaço Bobão”, de Hugo Possolo, e “O Filósofo Voador”, de Eduardo Rascov.
Em São Paulo é inaugurado o Centro de Memória do Circo.
Texto: Bell Bacampos. Fotos: ASA Campos
Sensacional!
Espaço como esse é algo de extrema importância para que o circo esteja sempre no coração e na memória.
Parabéns pelo belo trabalho.
Edit.
Querida equipe do panis e circus, que linda a reportagem, que capricho! Muito agradecida pelo carinho, e viva a nossa amizade e parceria! Vamos!
Faço parte de associação de circo do Ceará APAECE e parabenizo pelo belo trabalho. Estamos com uma exposição aqui em Fortaleza (CE):
EXPOSIÇÃO “CIRCO, MEMÓRIA E IDENTIDADE”
A APAECE, em parceria com Girândola Comunicação e Arte, os convida para a abertura da exposição “Circo, Memória e Identidade”, que se realizar no dia 10 de dezembro de 2012, às 19h, na Galeria Antônio Bandeira (Antigo Mercado Central).
A Exposição “Circo, Memória e Identidade” resgata a memória do circo e tem como objetivo apresentar um dos focos dos trabalhos da APAECE, constituindo as bases do Projeto “Circo, Memória e Identidade”, por meio da pesquisa e mapeamento das famílias tradicionais do Circo no Ceará.
Com a apresentação dos documentos captados e selecionados das famílias circenses do Estado, busca-se mostrar a importância da composição desse Acervo como Registro Histórico, Cultural e Artístico e também como forma de valorização profissional.
Que linda matéria, que linda inauguração, parabéns ao centro de memória do circo, que conquista maravilhosa e historica na trajetória do circo brasileiro!!!!
Olá!!!! está ótimo o site….realmente precisamos de algo assim….
Só uma correção, tem uma foto linda de meus alunos, mas eu não estou na foto como diz a legenda….mas tudo bem! a foto está linda e orgulhosa de meus alunos felizes e por terem a oportunidade de estar ao lado do mestre Roger…VIVA O CIRCO!!
Alessandra, o site corrigiu a informação. Obrigada por sua compreensão e carinho.