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Festa do Prêmio Femsa Coca-Cola
Bailarina no ar, de borracha e pássaro
Mônica Rodrigues da Costa
No espetáculo que abriu a festa dos vencedores da 20ª edição paulistana do Prêmio Femsa Coca-Cola de Teatro Infantil e Jovem, a artista Maíra Campos mostrou maestria na arte do equilíbrio no arame tenso. Ao andar no fio, cresceu como boneca dos olhos de mel e sorriso de vidro. Caminhou e fez diversos números no arame, pequenas corridas, cambalhotas, coreografias de dançarina.
Ela subiu no aparelho com uma saia de tule atravessada no corpo, no papel de boneca de caixinha de música. Variava a expressão facial, esperta, de boneca e manequim, retrato e personagem, com todos os gestos calculados e concentrada na interpretação. Rigor e esforço disputam com técnica e graça no número da performer.
Esse deslocamento formal é retomado quando a artista do picadeiro desliza pelo fio em perfeito equilíbrio. Seu corpo e o arame são um só e, no giro de 360 graus segurando o fio de aço com pés e mãos, a dançarina, digamos, como os versos do poeta, está a um passo de “dar lâmina ao metal”.
Os olhos piscam como a boneca de louça de antigamente e dos museus. Andar no arame é uma execução perfeita porque não há alternativa para o equilíbrio nesse aparelho, ela pode cair a qualquer momento.
Há um tom urbano na parte da música negra norte-americana que favorece o vaivém para a frente e para trás dessa estranha caminhada que leva ao teatro físico, explorado no espetáculo da festa do Prêmio, patrocinada pela Femsa, que ocorreu no espaço do HSBC.
Vale lembrar a ideia de bailarina desse poeta, João Cabral de Melo Neto, do livro “O Engenheiro”: “A bailarina feita/ de borracha e pássaro/ dança no pavimento anterior do sonho”.
É um gesto no tempo, já que circo é tempo (ritmo), na visão de muitos artistas.
Seguem-se números igualmente fantásticos no espetáculo, como o de equilíbrio na argola gigante, desafiando a gravidade, de Nildo Siqueira. Palmas para a apresentação do malabarismo do espanhol Jesus, com bolas de futebol, e para a parada de mão de Paulo Maeda.
Procedimento estético e ético no espetáculo que abriu a festa da Femsa
Em conjunto com Andrea Souza Silva, gerente de Comunicação Externa e de Sustentabilidade da Coca-Cola Femsa Brasil, e Luíza Jorge, animadora cultural e coordenadora do Prêmio Femsa, Carla Candiotto concebeu e dirigiu o espetáculo. Marco Lima assinou o cenário, construído com 15 mil pets recicladas.
Ganhadores dos prêmios de Melhores Atores em 2012, Bruno Rudolf e Greta Antoine deram um show como apresentadores. Os figurinos de Greta e Bruno foram criados também com pets, tudo confeccionado pela COOPERAACS, do mestre Sandro Rodrigues.
Circo teatro
É irônico e acertado apresentar belos números do picadeiro na festa maior do teatro para crianças e jovens. O gesto político de destacar a arte mais sustentável do planeta – uma arte de famílias que cavam a sobrevivência com as garras da “itinerância” histórica do circo – coincide com a contrapartida social das patrocinadoras do Prêmio, Femsa e Coca-Cola, que instituíram a categoria Sustentabilidade para comemorar os 20 anos de existência do evento considerado pelos atores paulistas estímulo essencial ao desenvolvimento das artes cênicas e da formação de público para o teatro.
Carla Candiotto disse que conceber um espetáculo para um evento é diferente: “Você tem que criar uma noite com uma finalidade sob algumas condições. Por exemplo, os apresentadores eram os atores vencedores [do Prêmio Femsa] no ano anterior e o cenário tinha de ser de garrafa pet. Foi tudo muito rápido!”.
Mas por que o circo foi o tema escolhido?
Candiotto responde: “A intenção foi transferir o que a gente sente quando espera um resultado de um prêmio através do circo. Para mim o circo é a metáfora maior de um momento suspenso. Uma espera de um resultado que pode ser lenta ou muito rápida, uma sensação única onde tudo pode acontecer”.
Hoje tem Marmelada!
“Uma das vertentes mais ricas e criativas do teatro para crianças e jovens é a utilização da linguagem circense nos palcos. Nesses 20 anos do Prêmio FEMSA, o circo-teatro chegou e se firmou com tudo, revelando e estabelecendo cada vez mais companhias voltadas para a alegria dos palhaços, a sagacidade dos mágicos, a destreza dos malabaristas, enfim, a emoção dessa arte genuína com cheiro de serragem e a lembrança de antigas lonas.” O trecho é do livro “Talentos e Afetos na História de um Prêmio Vencedor”, com o subtítulo “Hoje tem Marmelada!”.
O livro comemorativo foi criado por Dib Carneiro Neto, jornalista e jurado do prêmio, com a colaboração da também jornalista e jurada Gabriela Romeu.
Nova categoria: Sustentabilidade
O diretor de Assuntos Corporativos da Coca-Cola Femsa, Eduardo Lacerda, afirmou no palco que a nova categoria, de Sustentabilidade, “investe no Brasil em bem-estar, cidadania e educação, que devem cada vez mais fazer parte da nossa cultura”.
Entre os 38 espetáculos que concorreram nas 18 categorias do Prêmio Femsa de Teatro Infantil, o escolhido como o melhor espetáculo para crianças foi “O Meu Pai É um Homem Pássaro”.
“Gangue” foi o espetáculo escolhido na categoria de Melhor Espetáculo para o Público Jovem.
A divulgação dos vencedores foi divertida. Vários convidados abriram com charme os envelopes com os nomes dos artistas que anunciavam para receber os troféus de cristal, com design (Elvira Schuartz) do refrigerante mais famoso do mundo.
O ator global, palhaço e artista circense Domingos Montagner entregou o prêmio de Melhor Ator para Fábio Espósito, pela atuação em “O Menino que Mordeu Picasso”.
O prêmio de Melhor Atriz foi para Jacqueline Obrigon, por “Terremota”.
Entrega de “Talentos e Afetos”
Na saída da festa do prêmio Femsa, os artistas e convidados receberam o livro “Talentos e Afetos na História de um Prêmio Vencedor”, que conta a história dos espetáculos vencedores das duas últimas décadas. O livro traz depoimentos e fotografias para contar a trajetória do prêmio, com artistas como Alexandra Golik, Ewerton de Castro, Beth Machado e Claudia Missura, entre outros.
Andrea Souza Silva afirma no livro que o Prêmio Femsa é uma ferramenta de educação e cultura e destaca a nova categoria, o Prêmio Crystal Eco de Sustentabilidade, cujo objetivo é “levar a discussão do tema [da sustentabilidade] a crianças e jovens”. A peça vencedora nessa categoria foi “O Menino Mais Rico do Mundo”.
Sobre a categoria da Sustentabilidade, acrescenta Andrea no livro: “Como estamos sempre inovando e aprimorando o projeto, vamos prestigiar pela primeira vez neste ano um espetáculo que tenha abordado e tratado com excelência artística um tema essencial aos dias de hoje. O Prêmio Sustentabilidade destaca que, além de sua importância na formação do senso estético da plateia, o teatro é uma incrível ferramenta e tem forte poder transformador neste mundo que enfrenta tantas questões sociais e ambientais”.
Luiza Jorge (Acadearte) declarou que o conceito do Prêmio Femsa “é valorizar cada segmento que compõe um espetáculo, destacando sua qualidade e, assim, estimulando sua permanência em cartaz”.
Para Luiza, os festivais históricos do projeto, assim como o programa “Leva ao Teatro”, com a coordenação de craques como Miriam Schnaiderman e Ingrid Koudela, são ações que ajudam a manter o Prêmio em cartaz nos últimos 20 anos.
Todos os premiados
Muita gente de talento colaborou para a construção histórica dessa felicidade toda. Rosi Campos, Sérgio Mamberti, Vladimir Capella. Os espetáculos são vistos pelos jurados de janeiro a novembro. Em 2012, o júri foi composto pelos jornalistas Dib Carneiro Neto (colunista sobre teatro no site “Crescer” e ex-editor do “Caderno 2”, de “O Estado”); Bia Rosenberg (consultora cultural e ex-integrante da TV Cultura na área de programação infantil), Marcelo Ventura (jornalista da “Veja”) e Gabriela Romeu (documentarista e ex-editora da “Folhinha”).
Os vencedores receberam um troféu e R$ 5 mil em dinheiro. Os ganhadores das categorias Melhor Espetáculo Infantil, Melhor Espetáculo Jovem e Sustentabilidade receberam, além do troféu, R$ 10 mil.
Os vencedores da 20ª edição
Melhor Iluminação – Wagner Freire – pelo espetáculo “Miliuma”
Melhor Figurino – Kleber Montanheiro – “A História do Incrível Peixe Orelha”
Melhor Cenografia – Kleber Montanheiro – “A História do Incrível Peixe Orelha”
Melhor Trilha Sonora – Henrique Sitchin – “Sonhatório”
Melhor Música Originalmente Composta – André Vac e Thomas Huszar – “A Linha Mágica”
Revelação – Gabriel Sitchin, Hugo Reis e Rafael Senatore (atores) – “Sonhatório”
Melhor na Categoria Especial – Adriana Meirelles, pelo vídeo cenário, ilustração e animação – “A Linha Mágica”
Texto Adaptado – Cristiane Paoli Quito e Cia. Simples – “O Meu Pai é Um Homem Pássaro”
Melhor Texto Original – Marcelo Romagnoli – “Terremota”
Melhor Ator Coadjuvante – Marco Barretho – “Gangue”
Melhor Atriz Coadjuvante – Paula Arruda – “Gangue”
Melhor Ator – Fábio Espósito – “O Menino que Mordeu Picasso”
Melhor Atriz – Jacqueline Obrigon – “Terremota”
Melhor Direção – Eric Nowinski – “A Linha Mágica”
Melhor Produção – Ricca Produções Artísticas – “Pedro e o Lobo”
Coca-Cola FEMSA nas palavras institucionais
FEMSA (Fomento Econômico Mexicano) é uma empresa líder que participa na indústria de bebidas através da Coca-Cola FEMSA e é o segundo maior acionista da Heineken – uma das maiores cervejarias do mundo, com presença em mais de 70 países. No setor de varejo através da FEMSA Comercio e Operacional OXXO.
Coca-Cola FEMSA é a maior engarrafadora da Coca-Cola no mundo em termos de volume de vendas. A Companhia produz refrigerantes, água e algumas linhas de sucos e distribui e comercializa portfólio de produtos com a marca da Coca-Cola Company (composto por chás, sucos, bebida láctea, bebidas energéticas, isotônicos, bebidas esportivas) e cervejas Heineken.
A Coca-Cola FEMSA está presente no México, Guatemala, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela, Brasil, Argentina e, mais recentemente, nas Filipinas. A Companhia tem 37 instalações de engarrafamento de bebidas na América Latina e 23 nas Filipinas e atende mais de 1,6 milhão de estabelecimentos.
Clique aqui para visitar o site da Femsa
Postagem – Alyne Albuquerque
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Anote
Cachimônia, espetáculo de circo contemporâneo, inovador e irônico, vai estar nesse sábado, 27/9, no Teatro Flávio Império, às 16h, av. Professor Alves Pedroso, 600, Cangaiba.
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obrigada a Mônica Rodrigues pela análise não só jornalistica como poética da minha humilde participação. Obrigada a Carla Candioto, Rodrigo Matheus e a Adriana Telg pelo convite. E agradecimentos especiais a Nildo Siqueira e Paulo Maeda pela parceria nos bastidores.
Panis & Circus, mais uma vez obrigada por acreditar e reportar e dar importância a esta arte milenar. VIVA O CIRCO BRASILEIRO!!!!