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Pé na Estrada

Festival Circa: centro do circo contemporâneo

 

 

Ivy Fernandes, de Roma

O Festival Circa (Centro de Inovação e Pesquisa Circense) é um dos principais eventos artísticos da Europa. Trata-se de um festival de circo contemporâneo que apresenta e revela os novos talentos dessa arte para o mundo e acontece na cidade de Auch, no sul da França, próxima a região de Pirineus, quase fronteira com a Espanha.

 

 

O festival, criado em 1987, com o objetivo de promover o interesse social, econômico e social em torno da arte circense, vai completar 30 anos em 2017 e apresenta grandes resultados na difícil tarefa de individualizar talentos e prepará-los para as companhias internacionais.

Com o apoio econômico da prefeitura de Auch e das escolas de circo da França, essa localidade concentra, uma vez por ano, todas as atenções daqueles que amam a arte circense e dos que buscam desenvolver o “cirque nouveau”.

 

Integrantes de escola de circo que participam do Festival Circa, em Auch, na França / Foto Divulgação

 

Em 2016, a 29.º edição do festival reuniu mais de 500 jovens circenses provenientes de diversas escolas espalhadas pelo mundo. Cerca de 20 companhias e 200 artistas ofereceram ao público 22 espetáculos e 86 representações.

 

Marc Fouilland, diretor do Circa / Foto Divulgação

 

Circa é vitrine do circo contemporâneo, diz Fouilland

Em entrevista ao Panis e Circus, o diretor do festival Marc Fouilland falou da importância do festival para o mundo circense. “O Circa  é uma  vitrine  muito importante  do   circo contemporâneo  e atrai  inúmeros  caçadores de talentos de várias partes do mundo. Os nossos  espetáculos são, antes de tudo, ecléticos e incentivam a descoberta do que  se pode  chamar  o circo  de hoje: artes circenses que  surpreendem, interrogam, maravilham e dialogam com a música, teatro  e artes  diversas  interligadas entre si.”

 

Lona do Circa na praça da Catedral, o Dôme de Gascogne / Foto Divulgação

 

Para  Fouilland, a chave do sucesso do festival está no fato de que as escolas não se comportam como rivais. Elas buscam a colaboração para avançar no desenvolvimento artístico e psicológico dos jovens circenses.

“A união  de inúmeras  escolas pequenas com a Federationon Français des  Ecoles de Cirque (FFEC) e Federation Européen des Ecoles de Cirque (Fedec) enriquece as discussões sobre  o presente  e o futuro  do mundo do circo”, afirma Fouilland. “É uma espécie de transfusão cultural que nos nove dias  de festival  produz uma infinidade de encontros, palestras, troca  de ideias  e tudo isto  significa  mais cultura e lucro econômico  com intercâmbio social.”

 

Espetáculo Halka, de Marrocos / Foto Divulgação

 

A arte marroquina da acrobacia

Entre os que se destacaram no festival deste ano, realizado entre os dias 21 e 29 de outubro, está o Grupo Acrobático de Tanger, do Marrocos, que conquistou  a   plateia com o espetáculo Halka  (palavra que significa espetáculo festivo  em forma de círculo), recordando as maravilhosas  praias do país de  origem e o deserto  infinito e dourado.

A tradição acrobática  do Marrocos é  muito antiga. Ali, a acrobacia nasceu como arte militar. “Pirâmides” humanas eram  utilizadas  em tempos remotos para escalar os muros de cidades inimigas. “Torres” humanas permitiam individualizar no deserto os inimigos de longe. A difusão dessa arte foi feita por jovens que se apresentavam gratuitamente no interior do país. A origem militar, entretanto, dificultou a divulgação internacional da arte acrobática produzida no Marrocos, tanto que só foi reconhecida como  patrimônio cultural em 2013. 

O espetáculo Halka nasce do encontro da tradição e pesquisa da arte contemporânea – um espetáculo que faz da euforia e da técnica o eixo fundamental desta antiga tradição acrobática. A areia, como não podia deixar de ser, tem um papel importante no show. Ela é espalhada  pelo palco como se fosse  semente. Representa a própria base, as raízes do grupo acrobático de Tanger.

 

Cena do Cirque Ici, de Johann Le Guillerm / Foto Divulgação

 

O Cirque Ici, de Johann Le Guillerm, que já esteve em São Paulo, a convite do Sesc, se apresentou na edição do Circa 2016, e obteve o aplauso do público.   

 

La Cosa: difícil relação do homem com a natureza

La Cosa, do artista italiano Claudio Stellato / Foto Divulgação

 

Outro espetáculo muito apreciado pelo público do Circa foi o La Cosa (A Coisa), apresentado pelo artista italiano, residente em Bruxelas, Cláudio Stellato. Em uma cena surrealista, quatro personagens estão no palco com uma montanha de lenha. Eles brincam e, desafiando os próprios limites físicos, transformam os pedaços de madeira até destruir o que está concentrado no palco. La Cosa enfrenta a difícil relação do homem com a natureza.

Stellato se formou na escola de Jazz, em Milão, e, a seguir, frequentou o Centro de Artes Circenses de Toulouse, na França.  Depois foi para Bruxelas  e começou a criar seus próprios espetáculos. No ano  passado, foi o diretor do espetáculo final do Centro de Formação de Artes Circenses de Bruxelas (Esac), famoso em todo o mundo – foi nele que também se formou a artista circense brasileira Maíra Campos.

 

Chute é original  

Cartaz do espetáculo Chute, do grupo Collectif Porte 27

 

Destaque também para o grupo Collectif Porte 27, que levou vários espetáculos e um show original, o Chute. Já o grupo Collectif Petit Travers apresentou o poético e romântico grupo Dans les plis du paysage, que fez o público descobrir uma nova forma do malabarismo moderno.

 

Sete malabaristas do Collectif Petit Travers / Foto Divulgação

 

Sete malabaristas se interrogam sobre os prováveis caminhos que levam um indivíduo a formar um coletivo e o comportamento inverso. Como, por exemplo, representar por meio do malabarismo o percurso de um indivíduo no meio da multidão.

 

Grupo Escola de Circo de Turim, diante do cartaz Circa / Foto Divulgação

 

Acrobacia nas escadarias do centro de Auch / Foto Divulgação

 

Postagem – Alyne Albuquerque

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