Pé na Estrada
Funâmbulos desafiam o ar nos Alpes italianos
Eles testam seus limites a 115 m de altura em cordas e fitas
Ivy Fernandes, de Roma
Os funâmbulos – equilibristas que andam na corda ou no arame armados com uma grande distância do solo – desafiaram o ar no 3º Festival Internacional Highliner, um dos maiores espetáculos a céu aberto, realizado no Monte Piana, que fica ao norte da Itália – teatro da 1ª Guerra Mundial. O evento reuniu 260 participantes de diversos países durante nove dias, de 6 a 14/9, sob a coordenação de seus idealizadores, Alex D’Emilia e Armin Holzer.
Segundo D’Emilia, o festival se consolida como destino turístico de todo o mundo por sua originalidade e criatividade. “Na primeira edição, em 2012, nós contamos com 50 participantes e, desde então, o número de interessados não para de crescer.”
Além das apresentações – funâmbulos realizam manobras na corda ou fita a até 115 metros de altura -, os turistas também podem observar no anoitecer verdadeiros “berçários” pendurados em fitas ou cordas fixadas em montanhas dos Alpes italianos. “Vários deles amarram redes nas cordas e dormem suspensos no ar. Claro que, antes, avaliamos bem as previsões climáticas”, explica D’Emilia.
Panis&Circus – Antes de mais nada, gostaria que você explicasse para nossos leitores o que significa essa palavra difícil e esquisita – funâmbulo – que caracteriza o artista participante do festival.
Alex D’Emilia – Funâmbulo é um artista equilibrista que dança ou anda na corda ou arame, geralmente bem distante do solo.
Panis&Circus – Como você avalia a receptividade do festival pelos artistas?
Alex D’Emilia – A primeira edição do Festival Internacional Highliner foi em 2012 e contamos com a participação de 50 funâmbulos (artistas). Ela chamou tanto a atenção que atraiu jovens de várias partes do mundo. Com o interesse que o festival gerou, no ano passado chegamos a 200 highliners (funâmbulos que atuam em grandes alturas). Vieram pessoas da Argentina, da Rússia e dos Estados Unidos, entre outros. A mídia se interessou em cobrir o evento e as imagens foram transmitidas por várias TVs para inúmeros países. Ganhamos outra dimensão. Neste ano chegamos a 260 participantes. Estamos muito satisfeitos com o resultado. O Highliner de Monte Piana, como também conhecido, é o único deste gênero que dura nove dias e é realizado inteiramente nas montanhas. Ele é aberto. Participam funâmbulos principiantes, experientes e profissionais.
Panis&Circus – E como é estruturado o festival? Alex D’Emilia – Nós montamos no extraordinário cenário de Monte Piana, na região dos Alpes, no norte da Itália, nosso acampamento com tendas ergonômicas e 18 highlines (fita elástica ou corda esticada entre dois pontos fixos) com alturas de 6 metros e de até 115 metros. Achamos que as várias alturas e distâncias permitem a todos experimentar, com tranquilidade e segurança, os próprios limites. Claro que todos os participantes devem ter alguma experiência para enfrentar montanhas de 2.300 metros de altura. Eles têm de saber se mover de forma independente, mesmo porque algumas das highlines medem 2,5 centímetros e é necessário escalar rochas ou até mesmo descer com a corda dupla para alcançar o ponto onde está a highline.
Panis&Circus – Tanto mulheres quanto homens praticam essa modalidade?
Alex D’Emilia – É uma arte mais praticada por homens, mas este ano, por exemplo, contamos com algumas jovens mulheres, inclusive com a que vem ganhando mais destaque no mundo, a norte-americana Faith Dickey. Ela é a maior estrela feminina da corda bamba. Nascida nas montanhas de Utah, com apenas 23 anos, Faith apresenta suas acrobacias a mais de 100 metros de altura. Já pode ser considerada uma profissional. Ela participou também do 3º Festival nos Alpes italianos. Na especialidade slackline –linha folgada que permite criar saltos e manobras inusitadas –ela não tem rivais. Também é a única mulher que faz regularmente solos — dança na corda bamba.
Panis&Circus – E como você vê essa participação feminina, tende a crescer?
Alex D’Emilia – Certamente, ela deve avançar muito nos próximos anos.
Panis&Circus – Qual a idade dos acrobatas?
Alex D’Emilia – Vai dos 18 até aos 30 anos, mas já tivemos artistas com mais de 30 e um garoto de 13 anos. O menino é meu vizinho. Sou seu professor de esqui e ele começou a se interessar pelo highline. Iniciou o treinamento e este ano participou pela primeira vez do nosso festival.
Panis&Circus – Quais as características dos que se dedicam a essa modalidade?
Alex D’Emilia – Cada um que se inicia nessa arte tem motivos bem pessoais e quer conhecer melhor a si mesmo e seus limites. Eu, por exemplo, iniciei quase por acaso, depois de um acidente no joelho quando fazia free ride.Naquele momento, comecei quase brincando de caminhar na corda ligada entre árvores. Eram exercícios simples. Depois, fui aumentando a distância e a altura da corda, mas como tinha medo de cair e de me machucar novamente, pensei que seria melhor fazer a experiência no vazio, ou seja, onde não tivesse perigo de cair. Se perdesse o equilíbrio, no máximo ficaria pendurado pelas cordas de segurança, suspenso no ar. Cada um se desenvolve, segundo as próprias possibilidades físicas e psicológicas. É preciso ter paciência, constância e acreditar nas próprias possibilidades. Encontrar harmonia naquilo que, no primeiro impacto, parece impossível e incontrolável … Como na própria vida.
Panis&Circus – Como é estar lá em cima, andando em uma corda, e o que você recomenda aos praticantes?
Alex D’Emilia – É difícil explicar a sensação de caminhar suspenso no ar, tendo a possibilidade de observar com outros olhos tudo o que te circunda, quase que como um pássaro em pleno voo. Quando você está praticando, há uma espécie de sinergia entre os acrobatas que estão atravessando a highline (fita ou corda) e aqueles que esperam do outro lado com um sorriso. Mas essa arte também é um método de reflexão, de meditação, controle da respiração. É necessário dedicar tempo e trabalho não só para caminhar na corda, mas, sobretudo, para escolher o lugar onde instalá-las. Recomendo fazer um período de experiência com alguém que já tenha ideia de como montar todo o cenário. Os pontos para ancorar as cordas são de importância capital. Devem ser absolutamente seguros. A pressa não deve influenciar a segurança.
Panis&Circus – E como é a sensação de vazio?
Alex D’Emilia – No início, tive um pouco de medo, é normal. Depois, pouco a pouco fui controlando o medo e administrando o controle total dos movimentos do corpo. É difícil de explicar, quando se começa a travessia, caminhando na corda se prova uma grande sensação de leveza, não é comparável a nenhuma outra emoção é como uma espécie de dança e o voo de um pássaro como um gavião…
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