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Homens ideias de Giacometti
Giacometti e o espaço entre o ser e a escultura
Jean-Paul Sartre (1905-1980) escreveu sobre os homens estirados do escultor e artista plástico suíço Alberto Giacometti (1901-1966) em dois ensaios que ficaram famosos e, neste ano, foram editados pela WMF Martins Fontes.
O filósofo francês é subjetivo e metafórico nos textos e procura definir a obra do escultor.
No primeiro ensaio, “A Busca do Absoluto” (1948), Sartre lança uma hipótese do motivo pelo qual Giacometti esculpe em matéria leve – o gesso -, como que para incorporar na escultura a imagem do homem em movimento e em um espaço situado.
Para Sartre, Giacometti representa os gestos dos primeiros homens na Terra e, assim, distingue-os das coisas. Registra o homem se movendo desde sua aparição: “Uma baga a ser colhida, um espinheiro a ser afastado” (…), a unidade indissolúvel e a fonte absoluta de seus movimentos”. Da árvore, separa-se um galho; do homem, o braço não se desprende do corpo.
“Com o espaço é preciso, portanto, que Giacometti faça um homem; é preciso que ele inscreva o movimento na total imobilidade [da escultura], a unidade na multiplicidade infinita, o absoluto na relatividade pura, o futuro no presente eterno, a eloquência dos signos no silêncio obstinado das coisas.”
A distância é a medida entre o modelo e a matéria, eis o espaço do escultor, “uma rocha sonhando com o humano”.
Atento à extensão no espaço e “à magia dos rostos e dos gestos”, segundo Sartre, Giacometti, que esculpiu cabeças e seres minúsculos e altíssimos, aos montes e colocados isoladamente, deixou “esboços moventes entre o nada e o ser”.
“O gesso é a contrapartida impalpável de seus movimentos”, escreve o filósofo, e continua, no mesmo texto: “É o bloco de gesso que está perto, é o personagem imaginário que está longe”.
Giacometti “restituiu às estátuas um espaço imaginário e indiviso. Ao aceitar de saída a relatividade, encontrou o absoluto”. Para quê? “A mulher caminhando tem a indivisibilidade de uma ideia”.
Sartre abre “As Pinturas de Giacometti”, segundo ensaio, de 1950, com trecho de carta a Matisse sobre quatro esculturas femininas diminutas de Giacometti e comenta que “ele as fez como as viu: distantes”.
Nesse ensaio o filósofo aborda as ideias de isolamento e reunião nas obras. Explora o vazio e a distância como signos nas esculturas de Giacometti: “A figura, ao sair de seus dedos, está a ‘dez passos’, ‘a vinte passos’, e o que quer que você faça, ali permanece.”
Link para o livro “Alberto Giacometti – Textos de Jean-Paul Sartre”, com tradução de Célia Euvaldo:
Giacometti na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no MAM-Rio em 2012
Mais de 250 peças, da coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti, de Paris, estiveram na Pinacoteca do Estado de São Paulo no primeiro semestre de 2012, com curadoria de Véronique Wiesinger.
A exposição está no MAM-Rio (Museu de Arte Moderna) até 16 de setembro. Entre as obras estão “Toute Petite Figurine” (c. 1937-39); “A Cage, Première Version” (1949-50); “Objet Désagréable” (1931); “Le Couple” (1927)”; Tête de Femme” (1926); “Mulher-colher” (1927), “Bola Suspensa” (1930-31), “A Gaiola” (1949-50); “A Floresta” (1950).
Link: http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca/default.aspx?c=611
(Mônica Rodrigues da Costa)
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