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Imaginação corre solta

 

Ilustrações de "O Pote Mágico", livro de Ferréz, são de Rodrigo Abrahim

Sonhos com bolinhas de gude

Toda infância tem seus códigos. São diferentes de geração para geração. Mudam também dependendo da classe social em que as pessoas nascem. O livro “O Pote Mágico”, de Ferréz, tem o mérito de revelar isso com habilidade e delicadeza.

No enredo, o personagem narrador, que aparenta ter cerca de oito anos de idade, vive na periferia – no Capão – e brinca na rua. Gosta de montar capucheta e içá-la ao céu nas tardes ensolaradas. Mas tem de tomar cuidado com os garotos mais velhos, que odeiam esse tipo de pipa, ou arraia.

Esses maiorais chamam a capucheta de “lixão” porque, embora ela não voe muito alto, é danada para derrubar as pipas bonitas, que não são feitas de jornal ou papel que se acha nas ruas, dobrado em três partes.

Em uma das tardes de brincadeiras, o personagem narrador estava cansado de empinar capucheta e resolveu fazer outra coisa. Nesse momento, a meninada correu para lhe contar que Dim, de 12 anos, tinha um pote mágico. Com uma massinha dentro que servia para fazer bolinhas de vidro e outras delícias.

O personagem narrador foi à casa do Dim, mesmo com medo do irmão mais velho dele, o Will. Mesmo que a mãe sempre tenha lhe falado para não brigar na rua. Foi armado de máscara de Batman e espada do Zorro, mas levou uma pedrada do grandalhão e mal pôde ver o tal pote mágico.

O jeito foi pedir ao amigo Marquinhos para ver o pote e lhe contar qual era a mágica. Esse amigo ficou com pena do galo em sua testa e o deixou se fartar de sobras do algodão-doce que o pai de Marquinhos fazia para vender.

A vida passou a ser uma agonia para o personagem narrador. Mal dormia, mal comia, e a mãe, preocupada.

A narrativa segue fluente, com o menino imaginando as coisas maravilhosas que poderiam ser inventadas com o conteúdo do pote mágico. Ele sonhava e sonhava.

Ferréz escreve com simplicidade sintática e estilística – é o charme do conto, “charme” que vem de “carmen”, expressão do latim, que significa “poesia” ou “fórmula encantatória”.

A narrativa flui, revelando as peripécias do menino em busca do momento epifânico, da descoberta.

O malvado do Dim cobrou cinco reais para mostrar o pote mágico. Como foi difícil conseguir esse dinheiro! O senhor Zé, do ferro-velho, teve de ajudar. O jeito foi também pedir dinheiro nos faróis.

A história não para aí e tem gosto de infância feliz.

 

Segue o link para o livro, da editora Planeta Infantil:

http://www.editoraplaneta.com.br/descripcion_libro/10350

(Mônica Rodrigues da Costa)

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