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Instituto Brincante está ameaçado
Fundado pelo músico e coreógrafo Antônio Nóbrega, o instituto está em imóvel que foi vendido para uma construtora e deve deixar o local, segundo reportagem do Estadão.
Guilherme Sobota, do Estadão
O tradicional espaço do Instituto Brincante, localizado na Rua Purpurina, no coração da Vila Madalena, está ameaçado: uma construtora comprou o terreno do atual proprietário (o espaço é alugado) e deve solicitar a desocupação do espaço em breve.
Fundado pelo músico, pesquisador, dançarino e coreógrafo pernambucano Antônio Nóbrega, o Instituto se denomina um espaço de conhecimento e assimilação da cultura brasileira, e por lá passam encenações, shows de música, cursos e oficinas sobre as mais variadas expressões artísticas do País.
O local foi vendido para uma incorporadora e há pouco mais de um mês o Instituto recebeu uma ordem de despejo. “Agora, há um impasse que estamos tentando resolver juridicamente”, diz Nóbrega. “O espaço é muito importante, ele transcende minha questão pessoal”, afirma o fundador.
O ex-proprietário do imóvel, César de Oliveira Alvez, disse nessa terça-feira, 08, ao jornal O Estado de S.Paulo que não gostaria de ter concluído a transação, mas que precisou do dinheiro por problemas de saúde na família. “Faz alguns anos que o espaço está em negociação, várias incorporadoras nos procuraram”, afirma Alves.
Nesse ponto, há uma divergência entre as afirmações. Nóbrega diz que gostaria de ter sido procurado antes da conclusão da venda. “Ocupamos o prédio há 21 anos”, informa, “imagino que teríamos preferência em qualquer tipo de negociação”.
O ex-proprietário, porém, informa que, até pelo tempo em que o imóvel está sendo negociado, os locatários foram procurados e convidados a formalizar uma proposta. “Os termos oferecidos não atenderam aos meus interesses”, comenta Alves.
Sobre o Brincante, Nóbrega garante estar otimista com os projetos e até pensava em expandir o local para dar conta de toda a produção do local.
“Espaços dessa natureza têm uma função social muito importante, e é claro que queremos preservá-lo. Como é que a especulação imobiliária tem o poder de simplesmente destruir territórios como esse?”, questiona.
A notícia começou a ganhar destaque ontem nas redes sociais e Nóbrega sublinhou a repercussão que o fato alcançou. “Isso prova que essa discussão está em pauta, que é uma questão muito maior no Brasil”, ressalta, citando o exemplo do Cais Estelita, no Recife, espaço da capital pernambucana que seria demolido por causa de um projeto de expansão urbana.
“É um momento muito adequado”, afirma Nóbrega, esperançoso. “Ainda não estou pensando em alternativas, porque sair daquele espaço que ocupamos há tanto tempo simplesmente não parece natural.”
A repercussão da notícia chegou a criar uma hashtag nas redes sociais: #ficabrincante. Entre as manifestações dos internautas, muitas falas indignadas em relação à especulação imobiliária em São Paulo e à desvalorização da cultura.
Filme. Há um longa-metragem em fase final de pós-produção e acertos de distribuição sobre a vida de Antônio Nóbrega que se chama, justamente, Brincante. Com direção de Walter Carvalho, mescla documentário e ficção e deve estrear em novembro, em São Paulo.
O filme revê a trajetória de Nóbrega, um artista que tem como referência o imaginário cultural popular brasileiro e expande sua arte pela música, dança, cultura popular, produção cultural e pelas artes cênicas.
Tags: Antonio Nóbrega, Guilherme Sobota, Instituto Brincante, O Estado de S. Paulo, Rua Purpurina, Vila Madalena