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Comentários

Cafi Otta: “Nu e de monociclo em Montreal”.

 

Monociclistas passeiam nus pelas ruas de Montreal / Foto Divulgação

 

Artista circense participou da Unicon XVII – Campeonato Mundial de Monociclo – e relata a experiência para o site

Cafi Otta, especial para Panis & Circus

Desde que comecei a treinar de maneira mais séria para as provas de longa distância de monociclo nunca havia imaginado que um dia participaria de uma verdadeira olimpíada sobre uma roda. E foi exatamente o que me aconteceu.
Durante os dias 30 de julho e 10 de agosto de 2014 foi realizada a Unicon XVII, o campeonato mundial de monociclos, na cidade de Montreal, no Canadá. Quando me inscrevi, no final de 2013, não fazia a menor ideia do que encontraria por lá, e garanto que qualquer expectativa teria sido frustrada. O tamanho do campeonato, seu número de participantes, a quantidade de modalidades, a variedade da programação, enfim, tudo é grandioso.

 

Identificação de Cafi Otta no Campeonato / Foto Arquivo Pessoal

 

Durante o evento aconteceu em Montreal mais uma edição do “Naked Bike Ride”, uma ação que acontece por todo o mundo para reivindicar mais espaço para as bicicletas nas ruas das grandes metrópoles. É basicamente um passeio de ciclistas nus pelas ruas de grandes cidades.

 

Monociclistas se preparam para o inusitado passeio / Foto Arquivo Pessoal

 

No primeiro dia do campeonato eu ouvi alguns boatos de que os monociclistas também iriam ao inusitado passeio. Achei curioso, mas não dei muita importância. Quatro dias depois, estava eu participando de uma mostra de vídeos de monociclo quando ouvi um anúncio no microfone: “dentro de 30 minutos nos encontraremos na porta do colégio para seguirmos até o ponto de encontro do “Naked Bike Ride”.

Fiquei naquela dúvida se continuava ali, tranquilo, assistindo aos vídeos, perto do meu quarto, ou se partiria para essa aventura. Decidi sair da zona de conforto e aproveitar essa oportunidade única.
Assim que cheguei na porta do colégio encontrei mais três pessoas com seus monos, prontas para sair. Imediatamente pensei: “claro que vai ser a maior roubada do mundo, eu e mais três gatos pingados sem roupa andando de monociclo na rua”.
De repente o número de pessoas foi aumentando, aumentando, e quando saímos em direção ao metrô éramos mais de 80 monociclistas. Só de andar no metrô com toda essa turma já valeu a escolha. Mas esse foi só o início da diversão.
Chegamos numa praça no centro da cidade e nos deparamos com uma pequena multidão de pessoas tirando muitas fotos de alguns ciclistas nus no meio da praça. Quando os ciclistas viram aquele bando de gente tirando a roupa e segurando aqueles monociclos, olharam perplexos e aliviados.
Por volta de 11h00 da noite saímos para o passeio, escoltados por três carros da polícia local. Rodamos por mais de 1 hora pelo centro comercial de Montreal, passando por ruas completamente lotadas, bares e restaurantes cheios de gente. A reação era quase sempre a mesma: um susto inicial, alguns olhares de repreensão, muitos flashes, mas a maioria das pessoas apoiando a iniciativa.
Jamais vou me esquecer do dia em que andei de monociclo pelado no meio de uma grande cidade.

 

1ª medalha de ouro para o Brasil

Caffi Otta : 1ª Medalha de Ouro do Brasil na prova slow forward / Foto Arquivo Pessoal

 

O monociclismo esportivo assume uma grande dimensão: são seis grandes categorias que se subdividem em outras subcategorias. Por exemplo: a categoria de provas de pista é composta por 11 subcategorias, como 100 metros rasos, 50 metros usando apenas um dos pés, 10 e 30 metros com os pés no pneu, apenas para citar algumas.
Me inscrevi para seis competições. Duas provas de longa distância (10 Km e maratona) e quatro provas de pista: 30 metros com os pés no pneu, 50 metros com um pé, ‘slow forward’, onde o objetivo é andar sobre uma tábua de 10 metros de comprimento por 15 centímetros de largura, sem parar, no maior tempo possível, e ‘still stand’, em que o vencedor é aquele que ficar mais tempo parado sobre o monociclo, sem mexer absolutamente nada.
Minha performance nas provas de longa distância, sem falsa modéstia, foi excelente. Em ambas consegui meu melhor tempo até hoje!
Corri os 10 km em 27 minutos e os 42 km da maratona em 1h56min. Treinei muito para essas duas provas, e fiquei feliz de ver o resultado.
Nas outras provas não esperava nada além de chegar no final sem ser desclassificado. Nessas modalidades, se você cair do monociclo a desclassificação é automática, adotei uma estratégia conservadora, e os resultados foram pífios.
Com exceção do ‘slow forward’, em que ganhei medalha de ouro na minha faixa etária. Primeira medalha brasileira nessa prova em mais de 30 anos de história.

Por falar em Brasil, nossa delegação era uma das menores, com apenas dois atletas. O outro brasileiro era o Tomás Simão, mineiro muito habilidoso na modalidade de freestyle (que se compara a patinação artística).

 

Brasil e Singapura com suas micro delegações / Foto Arquivo Pessoal

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Esporte elitista

Durante todo o evento alguns aspectos me chamaram a atenção. O monociclismo é um esporte elitista, dominado pelos países do hemisfério norte. Havia poucos representantes dos países latino americanos e nenhum atleta do continente africano. Há motivos para isso.
Acredito que uma das principais razões é a dificuldade que as pessoas do hemisfério sul (exceto os australianos) encontram para adquirir os equipamentos necessários para a prática do esporte. Poucas lojas no mundo vendem estes produtos e a imensa maioria está no hemisfério norte. Além disso, o campeonato mundial acontece a cada dois anos em lugares diferentes do mundo, e o custo das viagens é alto.
As edições anteriores foram realizadas na Itália, na Nova Zelândia e na China. Comparado com estes dois últimos o Canadá fica ali na esquina.

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Quarto coletivo, só com alemães

Alojamento monociclístico dividido com os alemães / Foto Divulgação

 

A estrutura oferecida pela organização do campeonato é invejável!
Um colégio local foi a base dos atletas, que dormiam em quartos coletivos, com cerca de 15 pessoas em cada um. No momento da inscrição era possível escolher entre quartos calmos, de família ou de balada, além de poder pagar 15 dólares canadenses a mais – cerca de 30 reais – para alugar uma cama de campanha, daquelas usadas pelo exército.
Eu escolhi um quarto calmo, e acabei ficando junto com alguns jogadores de hockey sobre monociclo, uma das modalidades mais empolgantes da competição. Detalhe, eram todos alemães, e simpáticos, inclusive me pouparam das esperadas gozações por causa do desastre da última Copa do Mundo.
Para minha alegria, meus companheiros de quarto ganharam o campeonato de hockey, desfilando habilidade e velocidade pelas quadras canadenses. A final foi contra a badalada equipe suíça, num jogo disputado e emocionante.

Neste mesmo colégio eram oferecidos o café da manhã – incluso no preço da inscrição –, o almoço e o jantar, que eram pagos a parte, mas eram tão baratos quanto eram ruins. 

Dentro do colégio ainda havia dois ginásios abertos 24 horas para treinos e realização de algumas competições e três banheiros com chuveiros, que atenderam sem nenhum problema a enorme demanda de atletas.
No total mais de 1.500 pessoas se inscreveram para o campeonato.

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Time de basquete numa roda de Porto Rico

No quarto ao lado do meu ficou hospedada a lendária equipe de basquete de Porto Rico. Logo que cheguei eles foram simpáticos, puxaram papo, e claro que para um brasileiro no meio de tanta gente loira e branquela eles eram os caras mais próximos da nossa cara tupiniquim.
Só depois de uns dois dias eu descobri que eles já ganharam nada mais nada menos que 10 títulos mundiais de basquete sobre monociclo nos últimos 16 campeonatos mundiais, ou seja, nos últimos 30 anos!
Realmente são lendas vivas desse esporte. Na quadra, infelizmente, não conseguiram mostrar o mesmo desempenho de outros tempos, e acabaram superados por um dos times franceses, que vem treinando há pelo menos 15 anos com o objetivo único de ganhar este título. E assim o fizeram.

 

Trabalho voluntário

Outra parte importante para a realização do evento é o trabalho voluntário. Mesmo pagando a taxa de inscrição, de cerca de R$ 1.000,00 – que incluía hospedagem, café da manhã, participação em todas as atividades e um passe livre de 10 dias para todo o sistema de transporte público de Montreal –, mesmo assim todos eram encorajados a oferecer parte do seu tempo para o trabalho como voluntário.
As atividades eram as mais variadas, como ajudar a carregar coisas, julgar provas, arbitrar partidas de basquete, enfim, ajudar a fazer o evento acontecer. Muita gente ajudou, inclusive eu, e alguns até ganharam medalhas pela quantidade e qualidade do trabalho que realizaram.
Tomás, meu parceiro brasuca no Canadá, foi um dos premiados.

 

Que venha a Espanha

A próxima edição da Unicon já tem local marcado. Será em San Sebastian, no norte da Espanha, em agosto de 2016. Quem estiver interessado em conhecer o belíssimo país Basco, agora é a hora de começar a treinar e a juntar dinheiro.
Participar deste evento é uma experiência incrível e inesquecível, e com planejamento e perseverança é um sonho possível!

 

Monociclo de Cafi Otta com a bandeira do Brasil / Foto Arquivo Pessoal

 

 

Postagem – Alyne Albuquerque

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2 Responses to "Cafi Otta: “Nu e de monociclo em Montreal”."

  1. Kabana disse:

    Grande Cafi, nossa torcida, admiração e carinho sempre, grande abraço dos Kabanas

  2. Lucia Kubitschek disse:

    Olá Caffi,
    Parabens pela participação e obrigada por trazer esse prêmio para o Brasil
    .Adorei a matéria. bj

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