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Cirque de Demain: sucesso dos jovens talento

 

 

Ivy Fernandes, de Roma

O 39.º Festival Mundial do Cirque de Demain, realizado de 1 a 4 de fevereiro em Paris, na França, foi um sucesso. A chuva, a neve, o vento, o frio e a enchente do Rio Senna não foram capazes de impedir o público de lotar os cerca de 9 mil assentos sob a lona do Circo Phénix, um dos maiores da Europa.

O festival anual reuniu 120 profissionais de países como Portugal, Canadá, Japão, Israel, Itália, Suécia, Finlândia, Estados Unidos, Rússia e China. O Brasil foi representado pelo casal de trapezistas Sartori & Amanda Patrícia. Durante o evento, foram exibidos 24 números divididos em dois programas.

 

Calixte de Nigremont, mestre de cerimônias, no Festival de Demain / Divulgação

 

Do festival do Cirque de Demain (O Circo do Amanhã) saem as indicações das prováveis novas estrelas do mundo circense. Isto porque o evento apresenta uma particularidade em relação a outros festivais. Os organizadores selecionam jovens artistas circenses, de até 24 anos, em diversos continentes. Durante quatro dias, eles exibem suas competências e mostram a sua arte a caçadores de talento e a um júri formado por nove especialistas.

 

Peter Sowinski, Lea Hinz e Adnan Dushaku no festival / Christophe Raynaud de Lage

 

O júri deste ano, presidido por Pavel Kotov, chefe do casting do Cirque de Soleil, avaliou, entre as várias categorias do circo contemporâneo, a criatividade, a perfeição, o virtuosismo e a graça dos movimentos dos jovens, que podem ser lançados ao estrelato com os resultados obtidos no festival.

 

Acrobacias do Duo Destiny em cena

 

O vice-presidente e diretor-artístico do Cirque de Demain, Pascal Jacob, descreve o seu trabalho como uma verdadeira missão. “Trata-se de dar aos jovens talentos a oportunidade de se exibirem diante de uma vasta plateia, confrontar suas habilidades e se submeter à avaliação de um júri especializado e rigoroso”, afirma. “É uma oportunidade única e um teste muito importante.”

Segundo Jacob, os artistas que são apresentados no festival são avaliados com um ano de antecedência. A seleção tem como base escolas de circo renomadas, como as de Montreal (Canadá), Chalons (França), Bruxelas (Bélgica), Estocolmo (Suécia), Berlim (Alemanha), Tilburgo (Países Baixos), Roterdã (Holanda) e Londres (Inglaterra).

“Mas estamos sempre com os olhos bem abertos para achar novos artistas que se exibem nas ruas, praias, festivais ao redor do mundo como na Índia, Brasil, México ou África”, explica Jacob.

 

Kinga Grześków e Gonçalo Roque no festival / Foto Christophe Raynaud de Lage

 

O sucesso do festival se deve à sua capacidade de permanente transformação. “Nosso festival segue e persegue a atualidade, o momento, isto significa que um ano pode apresentar números com mais humor que outros, o ano seguinte com mais shows de trapézio ou equilibrismo. Tudo depende da inclinação natural e das tendências anuais. Este ano predominaram as disciplinas como Diabolo, Russian bar, aerial hoop, trapeze, hand to hand, e juggling. Nós selecionamos os artistas, mas seguimos o público.”

 

Eric Bates e Alex Royer no Fsetival de Demain / Foto Christophe Raynaud de Lage

 

 

Aniversário do circo com picadeiro

O presidente do festival e fundador do Circo Phénix, Alain Pacherie, diz que o evento também homenageou o aniversário de 250 anos do circo com pista circular – que mais tarde se tornaria o picadeiro. Pacherie lembra que a ideia de se criar espaço de ajuda a artistas e que resultou no Cirque de Demain nasceu nos anos 20 do século passado.

 

Julius Bitterling em cena acrobática/Foto Christophe Raynaud de Lage

 

“Tudo partiu do La Piste, em 1927, que visava dar assistência aos artistas circenses aposentados ou que se feriram ou atravessavam dificuldades financeiras. Tratava-se de dar um importante suporte psicológico e financeiro”, afirma.

“A organização teve como presidente Louis Merlin, de 1947 a 1976. Homem de grande imaginação e ação, Merlin decidiu que era necessário criar novas atrações, modificar, renovar. Ele sugeriu um festival internacional aberto exclusivamente aos novos artistas, praticamente para ajudar e incentivar o início da carreira circense”, diz Pacherie.

Dois anos depois, em 1949, foi criada a primeira escola de circo que dava oportunidades aos jovens que não provinham de famílias circenses de ter um espaço para cultivar e aperfeiçoar seus talentos, mostrar suas capacidades diante de agentes, jornalistas, público.

 

Número da Corda com Fragan Gehlker e Viivi Roiha / Foto Christophe Raynaud de Lage

 

Pacherie lembra que era absolutamente necessário ajudar os jovens a comprar as roupas, pagar as lições de dança, ou produzir música para as respectivas apresentações.

“Merlin nunca teve o lucro como objetivo, o seu era um projeto social e cultural. Ele morreu em 1976. Mesmo em luto, o festival daquele ano celebrou o 19° Gala de La Piste. Mas, em janeiro de 1977, foi apresentado outro espetáculo dentro do Cirque d’Hiver-Bouglione, em Paris. E também a atribuição de várias bolsas de estudos em homenagem a Merlin. Das bolsas (Lês Bourses Louis Merlin), surgiu  o Cirque de Demain”, conta o presidente do evento.

Dominique Mauclair renovou o festival em 1977 com uma homenagem a  Merlin. No mesmo ano, em novembro, foi apresentado um segundo festival que recebeu o nome Le Cirque de Demain.

 

Sasha Harrington and Andrew Adams

 

 

Ganhadores de medalhas

A medalha de ouro concedida pelo júri do festival foi para a China, com a insuperável Troupe de Jinan, que realizou exercícios de equilibrismo com  cadeiras no limite do impossível.

 

Trupe de Jinan (China): equilíbrio sobre cadeiras- Medalha de Ouro /Divulgação

 

O júri também concedeu três medalhas de prata. Uma para a dupla da Suécia e Finlândia, Lukas e Aaron, com a “Planche Coreenne”, outra, para Alemanha, com a exibição acrobática em faixas de Tim Kriegler, e, a terceira, para Barcode Company, que reuniu artistas dos Estados Unidos, Canadá e França, que apresentaram exercícios na Barra Russa.

 

Lucas & Aaron em Prancha Coreana- Medalha de Prata / Christophe Raynaud de Lage

 

Cinco grupos ganharam medalhas de bronze: a dupla Le Viivi R. e Fragan G., da França e Finlândia, com a corda vertical; Vincent Bruyninckx, da Bélgica, também premiado com a Roda Cyr; Julius e César, dupla proveniente da Alemanha e França, com o exercício mão-a-mão; Arata Urawa, do Japão,  com seu número Diabolo; e para o casal Tristan e Eve, dos Estados Unidos e França.

O festival do próximo ano vai celebrar seu 40ª aniversário (1979-2019). O conselho de Jacob para os jovens artistas circenses permanece: Be creative! Surprise us and you will surprise the world! (Seja criativo! Nos surpreenda e você vai surpreender o mundo).

 

Arata Urawa e seu Diabolo – Medalha de Bronze / Divulgação

 

Vincent Bruyninckx na Roda Cyr – Medalha de Bronze/ Christophe Raynaud de Lage

 

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