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“Le Cirque”, de Bocelli: a ópera encontra o circo
Ivy Fernandes, de Roma
Sob os acordes da música do compositor Nino Rota para o filme “La Strada”, de Federico Fellini, e a entrada em cena de clows fellinianos, bailarinas, equilibristas e trapezistas, aconteceu o encontro da ópera com o circo, na noite de 31/7, no Teatro do Silêncio, na Toscana (Itália).
A ideia de misturar música lírica com circo partiu do tenor Andrea Bocelli, apaixonado por artes circenses desde criança. É dele a autoria do espetáculo “Le Cirque”, e o tenor entrou em cena cantando um trecho da ária de “Ridi Pagliaccio”, de Leoncavallo.
“Le Cirque” marcou a comemoração de 11 anos do Teatro do Silêncio, de Bocelli. “A lona foi substituída pelo céu estrelado e o picadeiro montado ao ar livre circundado pelas colinas da minha Toscana”, afirma o tenor.
O espetáculo “Le Cirque” durou três horas e vai ser transmitido por várias televisões no mundo inteiro, informa Bocelli.
A magia felliniana acompanhou o espetáculo. O mundo dos acrobatas, bailarinos, equilibristas e clowns conseguiu integrar-se ao mundo da música lírica: da exuberância dos números circenses à melancolia de músicas líricas.
Elefantes no cenário e no palco
Não faltaram também animais em cena, típicos do circo tradicional, como águias, cavalos e dois elefantes que surpreenderam a plateia. “Há bastante tempo, queria organizar uma homenagem ao mundo circense, do meu tempo, e os animais não podiam faltar”, afirma Bocelli. É preciso lembrar que os elefantes são protagonistas da ópera mais famosa de Verdi, a “Aída”.
O cenário de “Le Cirque”, de Marcos Lodola, trazia como sua peça central um grande painel luminoso com elefante, no estilo indiano.
O Teatro do Silêncio teve seus 10.000 ingressos oferecidos inicialmente esgotados um mês antes do espetáculo (31/7) e estima-se que 11.100 espectadores viram “Le Cirque”.
O espetáculo contou com um elenco de primeiro plano na lírica mundial como o barítono Leo Nucci, a soprano sul-coreana Sumi Jô, que participou do filme “Youth” (vencedor do Oscar sob a direção de Paolo Sorrentino), a meio-soprano Tiziana Carraro e a cantora búlgara Svetla Vassileva. Ainda mais, a orquestra do Teatro Carlo Felice de Gênova composta de 77 músicos e o coro de 78 vozes dirigidas pelo maestro Marcello Rota.
Piano com listras de zebra
Pianista e compositor da nova geração, Giovanni Allevi, atraiu jovens para o concerto, acompanhou Bocelli em “Sunrise” e “La Danza”, de Gioachino Rossini, e conquistou o público presente com o seu piano de cauda pintado de listas negras e brancas como se fosse uma zebra.
Os circenses também ganharam aplausos pela habilidade física e elegância gestual com números como o da artista suspensa que dançava dentro de uma esfera transparente.
Outra surpresa do espetáculo foi a entrada de um jovem tenor, Matteo Bocelli, de 18 anos, filho de Andrea Bocelli, que é parecido com o pai, tanto na aparência quanto no famoso timbre de voz. Em dueto cantaram trechos da ópera “Il Trovatore”.
Arte circense atravessa séculos e sempre se renova
A colorida e longa caravana, guiada pelo tenor Bocelli com a participação de nomes destacados do canto operístico e a invasão do palco por palhaços, domadores e equilibristas criou uma atmosfera mágica e ofereceu aos espectadores o fascínio da música lírica ligada à arte circense. “É uma arte que, às vezes, é colocada como se fosse de segunda linha mas que atravessa séculos e sempre se renova”, afirma Boticelli. (É o caso do circo contemporâneo, que não usa animais em cena, e um dos exemplos mais famosos é o Cirque du Soleil).
Em “Le Cirque”, Bocelli intepretou obras de compositores como Verdi, Puccini, Donizetti, Giordano, Rossini e o dueto em “Rigoletto” com o tenor Leo Nucci. Ponto alto do evento foram os temas musicais mais populares como “La donna è mobile”, de Verdi e a “La Bohème”, de Puccini. A parte final do espetáculo foi inteiramente dedicada ao segundo ato da “Aída”, de Giuseppe Verdi.
Bocelli no Brasil
O famoso tenor desembarca no Brasil para apresentações nos dias 12 e 13 de outubro, no Allianz Parque (Parque do Palmeiras), em São Paulo. Em 15 de outubro vai dar um concerto gratuito, com músicas sacras, como “Ave Maria”, às 19h00, no santuário de Aparecida do Norte (SP). O evento intitulado “Primavera Musical no Vale” vai contar com a participarão de 130 vozes da Orquestra Jovem de São Paulo e do Coral Juvenil do projeto Guri. A ligação entre Bocelli e a Igreja católica é forte: ele já foi recebido em audiência por três papas. Mas a sua amizade com o papa Francisco é especial e o famoso tenor aceitou a proposta de realizar o concerto gratuito, em Aparecida do Norte, para celebrar o Jubileu dos 300 anos do encontro da imagem da santa no Rio Paraíba do Sul.
Depois de Aparecida do Norte, Bocelli ruma para Curitiba para um concerto no dia 19 de outubro. Nos concertos na cidade de São Paulo e Curitiba, Bocelli vai apresentar o seu “Cinema World Tour” – em que interpreta músicas de filmes célebres, como “Doutor Jivago”, “Love Story”, “La Vida é Bela”, “Evita”, entre outros. Desde 2012, o tenor não se exibia no Brasil.
Bocelli tem cerca de 80 milhões de discos vendidos e uma agenda intensa de apresentações em várias partes do mundo. Cego desde a adolescência, apresenta-se, uma vez por ano, com espetáculos diferentes, no seu Teatro do Silêncio, criado e administrado por ele, na sua terra natal, a amada Toscana. Trata-se de um teatro natural, a céu aberto, cercado por colinas, e após as apresentações anuais se transforma em um lago artificial. Esse ano foi o palco de “Le Cirque”.
Postagem – Alyne Albuquerque