Clip Click
Liberdade para todos os lápis!
Mostra revela poder do desenho
Um eco que censura frases, uma tesoura que corta palavras, uma gaiola que se forma quando o desenhista liga pontos são imagens presentes na exposição “Libertad para Los Lápices”, em Lima, no Peru.
Caricaturas e desenhos publicados na imprensa se tornam armas de defesa da expressão livre na exposição, que ocorreu no Centro Cultural de Bellas Artes em 25 de junho.
“Libertad para Los Lápices” reuniu cartunistas famosos peruanos e internacionais como o parisiense Plantu, que publica trabalhos há 40 anos no jornal “Le Monde” (França). Entre as obras, figuravam as dos artistas Vladdo (Colômbia), Bonil (Equador), Boligán (México), Rayma (Venezuela), Carlin, Juan Acevedo, Alvaro Portales, Piero Quijano e Karry (Peru). Sucesso de público e crítica.
Vários trabalhos tratam da liberdade de expressão. Entre eles, as obras de Bonil chamam a atenção.
A política e o poder
A exposição inclui um painel que provoca reflexão sobre o poder no mundo contemporâneo urbano, com os dizeres: “Por essência, uma ditadura se apoia em um poder militar ou civil que não tolera nenhuma oposição política, social, intelectual, artística e, às vezes, religiosa. Uma ditadura também se apoia em uma submissão total do indivíduo e de seus direitos fundamentais, como a liberdade de expressão”.
Neste painel destacam-se os desenhos com o presidente Chavez, da Venezuela.
Kais é baleado por caricaturizar Khadafi em muros da cidade
Na mostra, outro painel traz a frase: “Alguns caricaturistas assumem riscos tendo como únicas armas um lápis e uma borracha. Risco de desafiar aos poderosos, risco de pensar de forma diferente, risco de ser ameaçado de morte e risco de ser assassinado”.
Os desenhos do artista líbio Kais ali-Hilali e do sírio Ali Ferzat surgem no meio deles.
Aos 34 anos, o cartunista líbio Kais al-Hilali foi baleado e morto, em 9 de abril de 2011, durante a guerra civil na Líbia.
Kais havia se convertido em um dos símbolos da revolução líbia especialmente por suas caricaturas do ditador Muammar Khadafi (Muammar Gaddafi ou Momar Kadaffi), desenhadas diretamente em muros da cidade.
De acordo com testemunhas, ele tinha acabado de desenhar uma caricatura do ditador numa rua de Benghazi quando uma bala o atingiu. Desenhista norte-americano Jeff Danziger retrata momento em que Kais foi morto, em 2011.
Cartunista sírio Ali Ferzat sofre tortura em 2011
A exposição registra que homens encapuzados capturaram, espancaram e quebraram as duas mãos de Ali Ferzat, um dos mais conhecidos cartunistas da Síria.
Em 2011, Ali Ferzat publicou uma caricatura que vinculava o presidente sírio, Bashar Al Assad, ao ditador líbio Khadafi, e, por isso, “quebraram seus dedos com um martelo”, disse o cartunista francês Plantu em entrevista ao jornal peruano “El Comercio”, em 29/06.
Mulheres em painel
“Apesar da evolução das leis e das mudanças de costumes em muitos países, as mulheres sempre são vítimas do abuso de poder, de diversas discriminações e mutilações em razões de tradição arcaica e estereotipada. Muitas vezes são vítimas dos atentados contra a liberdade de expressão”, destaca um dos painéis da exposição.
Arte supera proibições
Kofi Annan, prêmio Nobel da Paz e secretário-geral das Nações Unidas, e Jean Plantu, cartunista do jornal “Le Monde”, reuniram-se, em 16 de outubro de 2008, na sede das Nações Unidas, em Nova York, com cartunistas do mundo todo.
Desse encontro nasceu a iniciativa Cartooning for Peace – Dessins pour la paix, que tem o objetivo de promover uma melhor compreensão entre os povos de diferentes crenças e culturas graças aos desenhos publicados na imprensa, que são meio de expressão de uma linguagem universal.
Em entrevista ao jornal “El Comercio”, em 29 de junho, um jornalista perguntou ao cartunista Plantu se os caricaturistas latino-americanos têm mais liberdade do que os europeus.
Ele respondeu: “A diferença é que aqui não tem três religiões vigiando você o tempo todo. Quando desenho sobre o islamismo me dizem que sou anti-islâmico, se desenho sobre o papa, sou anticristão e, se desenho sobre Jerusalém, sou antijudeu”.
Plantu e cartunistas latino-americanos
Jean Plantureux trabalha pela liberdade de expressão por meio da caricatura. Conhecido como Plantu, ele nasceu em Paris e é caricaturista do “Le Monde”.
Carlin
O peruano Carlos Tovar Carlin é arquiteto, desenhista, caricaturista e escritor. Atualmente publica seus trabalhos no diário “La República”. Ganhou prêmios importantes como desenhista gráfico e fez parte dos grupos Monos y Monadas e El Idiota Ilustrado.
Juan
Juan Acevedo Fernández de Paredes, Juan, nasceu em Lima, vive e trabalha lá. Atualmente, publica seus desenhos no diário “Peru.21” e conduz o programa semanal “El Cuy TV”.
Karry
Karry é peruano e a partir dos anos 80 começou a criar desenhos animados para Procesca Films e a destilar humor erótico para a revista “Cosquillas”. Em 85 seus desenhos passaram a frequentar as principais revistas e jornais do Peru. Atualmente publica em “Trome”, “Depor”, “El Otorongo de Perú 21” e “Revista Dedo Médio”.
Alvaro
Alvaro Portales é ilustrador autodidata e humorista gráfico. Publica atualmente desenhos nos jornais peruanos “Trome”, “El Comercio” e no semanário “Hildebrandt em sus Trece”.
Quijano
Piero Quijano é pintor e desenhista. Realizou inúmeras exposições de quadros a óleo e acrílico sobre temas variados, como paisagens urbanas e figuras humanas. Trabalhou em diversos jornais e revistas de Lima. Suas caricaturas na imprensa foram expostas em 2007 e censuradas pelo Instituto Nacional de Cultura a pedido do Ministério da Defesa.
Boligán
Angel Boligán Corbo, Boligán, é natural de Cuba e reside no México desde 1992 e publica suas caricaturas nos jornal “El Universal”, na revista “Conozca Más” e na revista política “Humor El Chamuco”. É presidente da agência Carton Club, que reúne caricaturistas latinos.
Vladdo
Vladimir Flórez, Vladdo, nasceu na Colômbia em 1963. Desde 1986 trabalha principalmente para a “Revista Semana”. Seus desenhos foram publicados em quase todos os jornais e revistas colombianos. Vladdo lançou uma publicação satírica mensal gratuita chamada “Un Pasquín”. Por causa dos desenhos teve problemas algumas vezes com o presidente do Uruguai, com as Farc e com os narcotraficantes. Recebeu quatro prêmios internacionais por seus trabalhos.
Bonil
Xavier Bonilla, Bonil, publica caricaturas em vários jornais e revistas do Equador. Atualmente é caricaturista do principal jornal do país, “El Universo”, e para seis revistas (“Exploflores”, “Nuestro Mundo”, “Vistazo”, “Rocinante”, “Vamos, “Gestión”). Ganhou vários prêmios internacionais por seus desenhos.
Rayma
Rayma Suprani, a única mulher na exposição, começou seu trabalho nas páginas do diário “Economía Hoy”, por volta dos anos de 1990.
“El Diario de Caracas” e “El Universal” mostram facetas de seu humor editorial. Em “El Universal” se expressa com crítica mordaz sobre os acontecimentos da vida política venezuelana.
(Bell B.A. Campos)