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Luto. De mãos dadas para enfrentar tempos brutos após as eleiçoes. 21/01/2019

Segunda-feira: 21.1.2019

Blog do Reinaldo Azevedo: Moro vai falar em Davos sobre transparência e combate à corrupção; caso Flávio hoje põe em risco reputação do ‘paladino anticorrupção

Sérgio Moro vai participar de vários painéis em Davos que tratarão de transparência e combate à corrupção e a crimes financeiros. Em seu discurso, Bolsonaro deve apresentá-lo, vamos dizer assim, como o seu xerife. Tanto o chefe como o seu subordinado viajam, nesse particular, num momento ruim. É pouco provável que a imprensa internacional vá cotejar a fala do ministro com o que se passa no Brasil. Por aqui, no entanto, suas intervenções certamente serão acompanhadas com atenção. O ainda deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), senador diplomado e filho de Jair, está envolvido em uma enrascada que, a morrer no ralo das irresoluções, desmoraliza não apenas a intervenção do ex-juiz em Davos, mas a sua trajetória de paladino contra a corrupção.

Filho de Bolsonaro põe em dúvida política de promotores no dia em que pai viaja com o homem que condenou Lula e virou ministro

Flávio Bolsonaro decidiu ainda, aí em entrevista à RedeTV!, pôr em dúvida a isenção do Ministério Público Estadual. Afirmou que o objetivo da investigação é atingir o governo de seu pai e disse ter visto na Internet fotos de promotores com camisetas de protesto contra o impeachment de Dilma. Disse: “Não sei se é verdade, mas são evidências. Não estou fugindo, mas por que não dar tratamento igual para todo mundo?” Bem, “todo mundo”, quem? Que eu me lembre, há uma penca de deputados estaduais presos, além de dois ex-governadores e um ex-presidente da República. Acusar suposta predileção política de pessoas envolvidas no combate ao crime não fica bem na boca de um bolsonarista. Na noite deste domingo, Sérgio Moro, aquele que condenou Lula, embarcou com Bolsonaro para a Suíça na condição de superministro da Justiça. Flávio precisa melhorar a qualidade das respostas.

Flávio tenta demonstrar que não recorreu ao STF em busca de foro especial; argumentação é capenga. Ou: sim, cabe ao MPF atuar no caso

Flávio afirmou ainda o seguinte, aí sobre a decisão de recorrer ao Supremo:

“Não pedi foro privilegiado ao STF. O que fiz foi uma Reclamação, que é o remédio jurídico correto para perguntar ao Supremo Tribunal Federal, obedecendo a uma decisão do próprio STF, que lá atrás decidiu sobre o foro, e tem uma vírgula que diz assim: caso a caso, o Supremo Tribunal Federal dirá qual é o foro competente. Se é o Rio de Janeiro, o MP do Rio, ou se é Brasília, o MP Federal. Então, a decisão que o Supremo vai tomar é para onde é que tenho que prestar os esclarecimentos. Não tenho nada para esconder de ninguém. Tem origem. Não tem origem ilícita”.

Pois é… Ocorre que, além da Reclamação — que parte, sim, do pressuposto de que ele pode ter foro naquele tribunal, o que o próprio STF já rechaçou, com o apoio do bolsonarismo, diga-se —, sua defesa também entrou com um pedido de liminar para suspender a investigação que diz respeito a Fabrício Queiroz. Luiz Fux atendeu ao pedido. Certamente seu advogado o advertiu de que a liminar poderia atrasar por algum tempo a investigação, mas ela voltaria fatalmente para o Ministério Público Estadual do Rio. A razão é simples: ainda que Flávio venha a ser investigado na esfera criminal, o caso aconteceu antes de seu mandato como senador e não se deu em razão desse mandato. É bem verdade que, se o Ministério Público Federal quiser, há motivos para entrar no caso, isto é, para chamar a investigação para si: uma das funcionárias que repassava dinheiro para a conta de Fabrício é Nathalia Queiroz, sua filha, que deixou o gabinete de Flávio e foi transferida para o de Jair, quando deputado federal, em Brasília. Ocorre que ela morava no Rio, onde atuava como personal trainer. E, como se sabe, Fabrício depositou dinheiro na conta de Michelle, mulher do agora presidente da República.

Segundo Flávio, os 48 depósitos de R$ 2 mil e o pagamento de título de R$ 1 milhão estão ligados a imóveis; eis o “Ronaldinho” do “Mito”

Embora tenha se negado a falar sobre o caso para o Ministério Público Estadual e recorrido ao Supremo para suspender a investigação sobre Fabrício Queiroz, o senador eleito resolveu conceder entrevistas sobre o assunto. Segundo disse à TV Record, os 48 depósitos de R$ 2 mil que foram feitos na sua conta, em cinco datas, no prazo de um mês, entre junho e julho de 2017, e o pagamento de um título na CEF no valor de R$ 1.016.839 dizem respeito à transação de um imóvel. Por meio do título, ele estaria quitando o financiamento feito pela Caixa. Em seguida, teria resolvido vendê-lo por R$ 2,4 milhões. E o comprador teria pagado parte da aquisição em dinheiro. E Flávio fez o quê? Dividiu os R$ 96 mil em 48 envelopes de R$ 2 mil e resolveu depositar por meio do caixa eletrônico. Por que não fez o depósito de uma vez só na agência bancária que fica na Assembleia? Ele não disse. Demorou quase um mês para realizar todas as operações, a saber:

9 de junho de 2017: 10 depósitos no intervalo de 5 minutos, entre 11h02 e 11h07;

15 de junho de 2017: mais 5 depósitos, feitos em 2 minutos, das 16h58 às 17h;

27 de junho de 2017: outros 10 depósitos, em 3 minutos, das 12h21 às 12h24;

28 de junho de 2017: mais 8 depósitos, em 4 minutos, entre 10h52 e 10h56;

13 de julho de 2017: 15 depósitos, em 6 minutos.

Ah, sim: na entrevista à Record, Flávio afirmou que o salário de deputado é a menor parte de seus rendimentos. O maior volume viria da atividade empresarial —não especificou, porém, qual seria o negócio. Pelo visto, Bolsonaro também tem seu “Ronaldinho”, que foi como Lula se referiu certa feita ao talento empresarial de um de seus filhos.

Queiroz, o homem que movimentou R$ 7 milhões, mora em casa modesta na Zona Oeste do Rio; há o temor de que a grana tenha origem ainda pior

Queiroz, o homem que movimentou R$ 7 milhões em três anos, mora numa casa simples, em um beco, na Taquara, na Zona Oeste do Rio. Nada por ali faz supor o correntista de valores milionário ou o paciente que se interna para tratar de câncer no hospital Albert Einstein, que figura entre os melhores e mais caros do país. Como eu escrevia aqui à época em que o petismo dava as cartas, há ocorrências e coincidências que só acontecem no universo da política. Os R$ 7 milhões levaram o pânico para o Planalto, ao contrário do discurso oficial, porque se considerou que é dinheiro demais para a hipótese viciosa se limitar a uma simples “rachadinha” envolvendo o salário dos servidores, o que já seria crime: além de lavagem de dinheiro, também peculato. Os valores movimentados, segundo o que se sabe até agora, despertaram o temor de coisa mais grave. Alguém lembrou que o candidato de Flávio à Presidência da Assembleia era o deputado André Corrêa (DEM), que está em prisão preventiva, no âmbito da operação “Furna da Onça”. Ele é acusado de ter recebido R$ 100 mil mensais para votar de acordo com os interesses do amplo grupo então liderado pelo governador Sérgio Cabral. Há tudo no generalato da reserva que serve a Bolsonaro, menos tranquilidade. E Flávio não está ajudando.

Reportagem da Folha informa que senador eleito adquiriu imóveis ao custo de R$ 4,2 milhões em três anos; seu salário bruto é de R$ 25,3 mil

Reportagem da Folha desta segunda informa:

“Documentos obtidos em cartórios mostram que o então deputado estadual e hoje senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) registrou de 2014 a 2017 a aquisição de dois apartamentos em bairros nobres do Rio de Janeiro, ao custo informado de R$ 4,2 milhões. Em parte das transações, o valor declarado pelos compradores e vendedores é menor do que aquele usado pela prefeitura para cobrança de impostos. Nota: o salário de um deputado estadual do Rio é de R$ 25,3 mil brutos.



Segunda-feira: 21 de janeiro de 2019 

Manchete da Folha de S.Paulo – Filho de Bolsonaro comprou R$ 4,2 mi em imóveis em 3 anos

Brasília e Rio de Janeiro

Período das aquisições coincide com o da movimentação atípica identificada pelo Coaf

Documentos obtidos em cartórios mostram que o então deputado estadual e hoje senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) registrou de 2014 a 2017 a aquisição de dois apartamentos em bairros nobres do Rio de Janeiro, ao custo informado de R$ 4,2 milhões.

Em parte das transações, o valor declarado pelos compradores e vendedores é menor do que aquele usado pela prefeitura para cobrança de impostos.

O período da aquisição dos imóveis pelo filho de Jair Bolsonaro é o mesmo em que o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) teria detectado movimentação de R$ 7 milhões nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, segundo reportagem do jornal O Globo publicada neste domingo (20).

O ex-motorista é investigado sob suspeita de ser o pivô de um esquema ilegal de arrecadação de parte dos salários de servidores do gabinete, prática conhecida como rachadinha.

Flávio começou na vida pública em 2002, tendo como único bem na época um Gol 1.0, segundo sua declaração de bens.

Em outro relatório, divulgado pelo Jornal Nacional, da TV Globo, sobre movimentações atípicas na conta do filho do presidente, o Coaf identificou um pagamento de R$ 1.016.839 de um título bancário da Caixa —o órgão não teria conseguido identificar a data exata e o beneficiário.

De acordo com os documentos obtidos em cartórios, Flávio registrou em junho de 2017 a quitação de uma dívida com a Caixa no valor aproximado de R$ 1 milhão para aquisição de um dos apartamentos que comprou, no bairro das Laranjeiras. Segundo dados de uma das escrituras, o débito foi pago em 29 de junho daquele ano.

Segundo informações cartoriais, Flávio comprou o imóvel na planta, por valor declarado de R$ 1,753 milhão.

Ele se desfez do bem em 2017, quando fez uma permuta, recebendo em troca uma sala comercial na Barra da Tijuca e um apartamento em na Urca, além de R$ 600 mil em dinheiro —sendo R$ 50 mil em cheque e R$ 550 mil sem descrição da forma de pagamento— para completar o negócio. Na escritura, o imóvel dado por ele tinha passado a valer R$ 2,4 milhões.

O novo bem, na Urca, teve valor registrado de R$ 1,5 milhão –vendido depois, em maio de 2018.

Em entrevista na noite de domingo ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, Flávio afirmou que o pagamento do título bancário se refere à negociação imobiliária. Ele levou papéis, mas não quis mostrá-los, afirmando que a imprensa não é o foro adequado para esse tipo de esclarecimento.

Segundo ele, a parte recebida em dinheiro vivo explica os depósitos fracionados em sua conta bancária.

Na sexta (18), o Jornal Nacional revelou que o senador eleito recebeu R$ 96 mil em um período de cinco dias, entre junho e julho de 2017. Foram 48 depósitos no valor de R$ 2.000, realizados em espécie no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Segundo o senador eleito afirmou à Record, os depósitos foram fracionados em R$ 2.000 porque esse era o limite aceito no caixa eletrônico. No Itaú, único banco no qual o senador eleito tem conta declarada, o limite para depósito em espécie no caixa eletrônico é de fato R$ 2.000. Na Alerj, onde foram feitos os depósitos, há um autoatendimento do Itaú.

Outro apartamento adquirido pelo senador eleito entre 2014 e 2017 foi um na Barra da Tijuca, pelo valor de R$ 2,55 milhões. Para a compra, ele também pegou uma espécie de empréstimo, dessa vez com o Itaú, pelo valor de R$ 1,074 milhão.

O apartamento fica em uma das regiões mais nobres do bairro, na avenida Lúcio Costa, de frente para a praia, próximo do condomínio em que o pai tem casa.

No mesmo período, o senador eleito vendeu dois imóveis, um em Copacabana e outro também na Urca, pelo valor de, somados, R$ 2 milhões. Nos registros cartoriais também figura o nome da mulher de Flávio, Fernanda Antunes Figueira.

Atualmente, o salário de um deputado estadual do Rio é de R$ 25,3 mil brutos. Na entrevista à Record, Flávio afirmou que o salário de deputado é a menor parte de seus rendimentos. O maior volume viria da atividade empresarial —não especificou, porém, qual seria o negócio.

A Folha revelou em janeiro de 2018 que o presidente Jair Bolsonaro, à época deputado federal e pré-candidato, e seus três filhos que exercem mandato multiplicaram o patrimônio na política.

Com base em pesquisas cartoriais, a reportagem mostrou que até aquele mês eles eram donos de 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões, a maioria em pontos altamente valorizados do Rio, como Copacabana, Barra da Tijuca e Urca.

A Folha também mostrou em janeiro do ano passado que Flávio havia negociado ao menos 19 imóveis nos últimos 13 anos.

A maior parte são 12 salas do Barra Prime, um prédio comercial. Todas foram vendidas para a MCA Participações, empresa que tem entre os sócios uma firma do Panamá. Ela adquiriu as salas de Flávio em novembro de 2010 —45 dias depois de o deputado ter comprado 7 das 12 salas.

O senador eleito passou a ser protagonista da dor de cabeça do governo Jair Bolsonaro após a revelação das movimentações de Queiroz, em dezembro.

Quase um mês depois, agora ele é também foco do Ministério Público e demais autoridades. Com o agravamento da crise, o Palácio do Planalto iniciou estratégia para evitar que o episódio gere danos maiores.

A orientação recebida por integrantes da equipe ministerial é de que, a partir de agora, evitem comentar o tema em público, tratando-o como uma questão particular do filho do presidente.

O levantamento de dados pelo Coaf motivou reclamação do senador eleito ao STF (Supremo Tribunal Federal). Na semana passada, a corte suspendeu a investigação que envolvia Queiroz e Flávio.

A Folha enviou perguntas ao advogado e à sua assessoria no final da tarde e início da noite deste domingo, mas não obteve resposta.

Ranier Bragon , Camila Mattoso , Italo Nogueira e Ana Luiza Albuquerque


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