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Arte em Movimento

Mais de 45 mil pessoas prestigiam o Festival de Circo de Piracicaba (SP)

 

E envolve 200 pessoas: artistas e equipes técnicas

Luciana Gandelini, especial para Panis & Circus*

O 9º Festival Paulista de Circo reuniu mais de 45 mil pessoas, 60 apresentações que envolveram 200 pessoas entre artistas e equipes técnicas, de 2 a 7 de setembro, no Engenho Central, em Piracicaba, interior de São Paulo. O balanço é de Bel Toledo, da Cooperativa Brasileira de Circo. Segundo ela, esse ano a programação foi ampliada para seis dias – dois a mais que o ano passado. “E na segunda (5/9) e terça (6/9) tivemos apresentações para escolas públicas e privadas que foram vistas por aproximadamente 5500 crianças, resultado de uma parceria do Festival com a Secretaria de Educação de Piracicaba”. O Festival é um projeto da Secretaria de Cultura do governo do Estado de São Paulo.

Lona do Piolin no Engenho Central, durante o Festival Paulista de Circo em Piracicaba / Foto Asa Campos

 

O espetáculo de abertura foi comandado por Hugo Possolo, dos Parlapatões com “Cabaré nas Alturas”.

Durante seis dias o público circulou pelo Engenho Novo onde estavam instaladas três lonas: Piolin, Arrelia e Pimentinha, onde puderam ver espetáculos de circo contemporâneo e tradicional. As apresentações aconteceram também no palco reversível do Teatro do Engenho – que durante o festival foi denominado de Figurinha. Na área externa artistas equilibraram-se em perna de pau, fizeram graça e giraram no Globo da Morte.

A curadoria do festival, explica Bel Toledo, foi feita pela Cooperativa Brasileira de Circo e a APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte. Foram adotados dois critérios: apresentar números de grupos e companhias que fossem inéditos no Festival e fomentar espetáculos que privilegiassem números aéreos – pela dificuldade que eles encontram de locais para se apresentar e das exigências descabidas, como ter ambulância com UTI.

A programação do 9º Festival apresentou espetáculos inéditos, recém-estreados, como “Que Susto! com Gibiló e Gibileu”, da Cia Estripulias Fractons, e “Risos”, do Circo Amarillo.

“Só o Piccolo Circo Teatro de Variedades foi repetido – por ser considerado o melhor da edição passada do festival”, afirma Bel Toledo.

“Participar de um festival como o Festival de Piracicaba é importante. Dá para fazer uma imersão e ter um panorama amplo da produção circense em São Paulo, o que as companhias estão pensando e fazendo. E ver que o público procura por isso, nos faz perceber que faz sentido o que estamos fazendo e é muito gratificante”, afirma Marcelo Lujan, do Circo Amarillo e do Zanni e que apresentou “Risos”.

A seguir, fotos e um resumo de espetáculos vistos pelo Panis & Circus no final de semana de 3 e 4 de setembro.

 

Domingo 4/9: dia de “Risos”, “Piccolo Circo Teatro Variedades”, “Palhaça Rubra e as Criaturas” e “É tudo uma palhaçada”

“RISOS” 

Dani Rocha-Rosa, Marcelo Lujan, Pablo Nordio e Lu Menin na banda de "Risos", / Foto Asa Campos

 

Apresentado na Lona Arrelia, lotada, o espetáculo é da dupla do Amarillo (Argentina/Brasil) e Zanni, Marcelo Lujan e Pablo Nordio. Eles contracenam com Daniela Rocha Rosa e Luciana Menin (do Cia. Class Excêntricos, Amarillo e Zanni).

Em sintonia, o quarteto inicia o espetáculo no formato de uma banda performática, onde se revezaram para tocar os instrumentos de maneira divertida e inusitada. Durante a apresentação, a plateia foi levada a experimentar o cômico e o excêntrico, para refletir sobre o riso, através de números acrobáticos, malabarísticos (claves, diabolô e bambolê), de equilíbrio ancorados no humor.

 

Dani Rocha-Rosa, Marcelo Lujan e o bambolê / Foto Asa Campos

 

“Nós pensamos a comédia em suas inúmeras vertentes. É um prazer provocar o riso e foi em busca do riso que criamos este espetáculo”, afirma Marcelo Lujan, cujo figurino, um terno muito maior do que o seu tamanho, cativou e ganhou o público logo na primeira entrada.

De forma leve e arrancando risadas com cenas extravagantes, os artistas interagiram com a platéia, em dado momento levam um homem e uma mulher, escolhidos na plateia, para o palco para dançar ao som de uma música eletrônica pop, com um casal de idosos – formado por Daniela e Marcelo – , que vestiam máscaras e dançavam freneticamente.

 

Lu Menin e Pablo Nordio em "Risos", no festival/Foto Asa Campos

 

Ronaldo Ribeiro, 35 anos, engenheiro : “Não conhecia o trabalho do Circo Amarillo, e essa é a minha primeira vez no festival. Dei muita risada! É um formato totalmente diferente do que estamos acostumados quando se fala em circo. Eles são modernos, engraçadíssimos e muito doidos. Eu ri muito!” Clarice Ferreira da Silva, 34, secretária, mulher de Ronaldo, acrescenta: “Fiquei encantada com o espetáculo. Foi surpreendente o número em que eles estão vestidos de velhinhos e dançam com um homem – de cabelos brancos como o do artista (Marcelo Lujan) – e uma mulher, ambos escolhidos na plateia. Os quatro dançando música eletrônica foi sensacional!”.

Marcelo Lujan e Pablo Nordio em "Diabolô" / Foto Asa Campos

Fabiano Rocha da Silva, 23, estudante: “Achei o espetáculo incrível: me diverti do começo ao fim e eles conseguem arrancar realmente muitos risos! Sou músico também e adorei o começo do espetáculo, quando eles foram trocando cenas e revezando os instrumentos. Fiquei muito surpreso com a trilha sonora do espetáculo. Achei muito inovador para o circo e empolgante!”.

 

“PICCOLO CIRCO – TEATRO DE VARIEDADES”

A bailarina, o apresentador e a dupla de palhaços de Piccolo / Foto Asa Campos

 

O espetáculo, apresentado na lona Piolin, que estava lotada, mostra uma pequena companhia circense formada por seis personagens – bailarina, trapezista, homem forte, apresentador e dupla de palhaços – vestidos de branco e preto.

Essa companhia circense se reveza na apresentação dos números e na interpretação das músicas com um repertório que inclui valsa, choro, maxixe, blues e composições próprias.

 

Fernando Paz, apresentador do Picollo Circo, em cena no festival / Foto Asa Campos

 

O espetáculo é ambientado no início do século 20 e as personagens apresentam ao público referências culturais e históricas; dessa forma é possível reviver essa época de beleza e glamour.

Em cena, os artistas – Carlos Cosmai, Erica Stoppel, Fenando Paz,  Lu Viacava, Ronaldo Aguiar, Ericson William Almeida, Felipe de Oliveira, Marina Bombachi – são acompanhados pelos músicos Rodrigo Zanettini e Vinícius Politano.        

 

Erica Stoppel, a trapezista, ao fundo, a banda do Piccolo / Foto Asa Campos

 

O apresentador (Fernando Paz) de Piccolo anuncia números incríveis ao respeitável público e fica sabendo na sequência que a maioria deles, infelizmente, “hoje não vai poder se exibir”.  O talento de Paz para fazer rir fica evidente nessa apresentação de números espetaculares que cancelaram suas apresentações e ele é o último a saber.  

A trapezista (Erica Stoppel) fala da história de sua avó, que se mistura à história do circo. Ficção e realidade se amoldam entre o balanço e o solo acrobático no trapézio – plasticidade e poesia em cena.

Bailarinos (Marina Bombachini e Carlos Cosmai) fazem um mão a mão em cena / Foto Asa Campos

 

A dupla de palhaços (Ronaldo França e Lu Viacava) imita a dupla de bailarinos / Foto Asa Campos

 

A bailarina (Marina Bombachini) e o bailarino/parceiro (Carlos Cosmai) executam um mão a mão de tirar o fôlego. Na sequência, a dupla de palhaços (Ronaldo França e Lu Viacava) imitam o casal de bailarinos em um número que provoca risos com sua acrobacia desengonçada – na realidade ela é precisa nos movimentos e no humor. Piccolo ganha aplausos por sua poesia, humor e música.

 

 

“É um espetáculo sofisticado que faz de conta que não é”, afirmou Andrea Paponi, 51, arquiteta.

 

“PALHAÇA RUBRA APRESENTA “CRIATURAS”

"Palhaça Rubra apresenta Criaturas", na 9ª edição do festival / Foto Asa Campos

 

Movida pela “alta tecnologia humana”, termo criado para explicar o seu grande material de trabalho: os seres humanos, Lu Lopes, a Palhaça Rubra, como é conhecida, realizou um show musical e teatral criado a partir do livro do mesmo nome, escrito pela artista. Acompanhada por Fê Stok nas cordas e pelo multi-instrumentista Danilo Penteado, no espaço Figurinha, ela fez a festa.

Com sua marcante presença, a palhaça instigou a plateia, recebendo diferentes estímulos para compor o espetáculo que convida adultos e crianças a participar e se apropriar do palco.

 

"Palhaça Rubra apresenta Criaturas", na 9ª edição do festival / Foto Asa Campos

 

“Se você brinca comigo, você é meu brinquedo e vice-versa”, brincou a palhaça antes de cantar a música “Brinquedos, Brinquedos”, dando início a um grande jogo de interação. Cantando músicas divertidíssimas de seu repertório, convida  crianças e adultos para brincar com bambolês e contar histórias, em uma experiência de aproximação e carinho com as criaturas.

 

Rubra e suas criaturas fazem a festa no festival / Foto Asa Campos

 

A menina Talita Ribeiro, 7, disse que gosta de cantar e dançar com a palhaça. Sua mãe, Flávia Ribeiro, 40, diz que acompanha o programa na TV Cultura e se diverte com Rubra e suas criaturas – e dançou animada a  música “Eleva o tórax”.  

 

É MESMO UMA PALHAÇADA”

Trupe Dunavô em cena com "É mesmo uma Palhaçada"/Foto Asa Campos

 

Trupe Dunavô – uma das grandes revelações do teatro infantil – apresentou o espetáculo “É mesmo uma Palhaçada”, no Palco Figurinha. As crianças divertiram-se com a história de três palhaços que chegam para se apresentar e descobrem que estão no lugar errado. Em meio a essa grande confusão, eles tentam consertar a situação, disfarçar o ocorrido, entreter os espectadores com suas ideias mirabolantes, porém atrapalhadas, e convidam o público para uma viagem no tempo e na memória do circo.

Palhaça da trupe Dunavô no meio das crianças no festival / Foto Asa Campos

 

Brincando com o novo e o já consagrado pelos mestres do picadeiro, a trupe divertiu o público do festival.

O grupo formado por Renato Ribeiro, Vinicius Ramos, Gis Pereira e Gabi Zanola, recentemente, ganhou o Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem (antigo FEMSA), na categoria Sustentabilidade, pelo uso criativo de materiais reciclados na construção do cenário do espetáculo “Refugo Urbano”.  

Roberta dos Santos, 42 anos, dentista, afirmou: “Eu e a minha família rimos muito com os números que eles apresentaram – lembrei da  minha infância, dos circos de antigamente.” 

Questionada sobre o nome do grupo, Gabi explica: “DuNavô significa “por favor” na linguagem do “criancês”. Criança e palhaço também são aqueles que erram, trocam palavras, então escolhemos esse nome “DuNavô” para nos aproximarmos como palhaços do respeitável publico. Então pedimos a permissão: DuNavô a gente pode se apresentar?”

O público de Piracicaba permitiu e riu! 

 

Sábado 3/4 – dia de “Cavaco e sua pulga adestrada”, “Luna Parke” e “Vizinhos”

“CAVACO E SUA PULGA ADESTRADA”

Cavaco (Anderson Machado) e Maria, a Pulga Amestrada, no Festival Paulista de Circo/ Foto Asa Campos

 

Transportando o público para o universo clássico e imaginário do circo de pulgas, Cavaco apresenta Maria, a pulga amestrada, que chega de paraquedas, canta, faz música com panelas, cospe fogo e doma uma fera.

Em dado momento, ela vai ser lançada na plateia por meio de um mini canhão. O palhaço conta 1, 2, 3 e diz “tchau, Maria!”. Mas a pulga não quer sair do lugar. Daí ele pede uma força para a plateia que passa a pedir: “Maria, Maria, Maria”. E a pulga é lançada no ar, ao som de um pipocar, e acompanhada de chuva de estrelinhas de papel colorido e brilhante.

 

Cavaco e a menina da plateia falam sobre a Pulga Amestrada / Foto Asa Campos

 

A menina Marina Dias, 5, ficou inconformada e perguntou à mãe, Dalva Dias: “cadê a pulga Maria? Ela não caiu aqui (na plateia)”. E passou a procurar a pulga e nada. “Cadê?” volta a perguntar a menina, ameaçando chorar. A mãe a consola falando que a Maria, a pulga amestrada, voltou para as mãos do Cavaco e estava toda alegre depois de ter feito sucesso com as crianças em sua apresentação.

A reação de Marina é a prova de que o ator e palhaço Anderson Machado, conseguiu conquistar e seduzir a plateia com a criação de Maria, a pulga amestrada.  

 

“LUNA PARKE”

"Branca de Neve e os 3 Anões", em Luna Parke, no festival / Foto Asa Campos

 

Criado pela La Mínima – formada pela dupla Fernando Sampaio e Domingos Montagner (1962- 2016) “Luna Parke” é um dos espetáculos do portfólio da companhia. Recria o ambiente dos parques de diversão de antigamente, que apresenta aos visitantes as mais fantásticas atrações como “Monga, a Mulher Gorila”, “Johnny, o Homem Bala”, e uma peça “Branca de Neve e os três anões”, isso mesmo três e não sete. 

 

Gilberto Caetano e o Elixir Luna Parke / Foto Asa Campos

 

O apresentador (Gilberto Caetano) deu um show e ficou ainda mais engraçado como garoto-propaganda do poderoso “Elixir Luna Parke, a vida num instante”. 

E o público viu ao vivo, no Engenho Novo, a transformação de uma mulher – de rosto etéreo e doce – em “Monga, a Mulher Gorila”, em interpretação cômica impagável de Fernando Sampaio. Ele fez também um faquir que sofre com prendedores de roupa em seus mamilos e sobrancelhas. 

 

"Johnny, O Homem Bala", papel de Marcelo Castro / Foto Asa Campos

 

Marcelo Castro fez o papel do desengonçado personagem “Johnny, o Homem Bala” que deve ser lançado no ar por um canhão e cair em meio a plateia. Mas o homem bala não saiu nem mesmo do chão – o que fez com que o garoto Elias Fertiam, 12, risse alto, o que acabou por chamar a atenção de quem estava perto e o deixou um tantinho encabulado. Depois, ele disse ao Panis & Circus que tinha gostado muito do espetáculo e seu pai, Ernesto Fertiam, empresário, acrescentou: é brilhante a paródia que eles fazem dos parques de diversão de antigamente.   

 

 “VIZINHOS”

Cena de "Vizinhos" no festival de Piracicaba / Foto Asa Campos

 

O espetáculo circense “Vizinhos”, que a Cia. Artinerant”s apresentou na lona Arrelia, lotada, surpreendeu o público ao mostrar o cotidiano de um homem e uma mulher que vivem situações insólitas diante da mesmice e da repetição. A  seriedade a partir da magia da arte circense é diluída – assume outra forma. Um sofá engole um homem (o artista Daniel Pedro) que lê, mas é também o trampolim para que ele se solte e salte no ar.  

 

Os "Vizinhos" (Maíra Campos e Daniel Pedro) em cena no festival / Foto Asa Campos

 

Um varal passa a ser trajeto obrigatório da mulher (Maíra Campos) que  caminha por um fio. Em “Vizinhos” nada é o que realmente aparenta ser, e o imponderável altera a rotina. Ações diárias, usuais, se mesclam ao teatro físico e à riqueza poética do circo. A vida por um fio ronda “Vizinhos”, em cenas que misturam acrobacia, equilíbrio, humor e levam à reflexão.

 

"Vizinhos" e as plumas que voam na guerra dos travesseiros / Foto Asa Campos

 

Elisa Betti, comerciária, saiu da lona encantada. Disse que já sentiu o mesmo que aconteceu em uma das cenas: “tem hora que a gente quer mesmo esganar o companheiro que está ao lado, que faz parte da nossa vida cotidiana, mas depois vai passando a raiva, que some no ar como as plumas que se soltaram na guerra dos travesseiros (dos Vizinhos) e sobra o carinho”.  

 

*Colaborou Bell Bacampos, da Redação 

 

Postagem – Alyne Albuquerque

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