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O Grande Circo Místico estreia 6 de setembro nos cinemas
Da Redação
O Circo Místico, o primeiro filme de Cacá Diegues, desde 2013, abriu o 46º Festival de Gramado, na Serra Gaúcha, na sexta-feira 17/6.
Para Cacá Diegues, o cinema e o circo possuem o compromisso de levar a fantasia para aqueles que o assistem. “Toda a minha formação dramatúrgica começou no circo”, afirma ao Correio do Povo. “O circo é uma forma de você ver o mundo de outra maneira. Através do riso, da experiência, e o cinema também, de certo modo, é isso. O cinema é filho do circo.”
“Foi uma feliz escolha o filme do Cacá Diegues para abrir o festival. O circo vive uma noite mágica de consagração como segmento artístico”, afirma o ator circense Marcos Frota, em entrevista ao portal G1.
Com Mariana Ximenes, Juliano Cazarré, Antônio Fagundes e Vincent Cassel no elenco, “O Grande Circo Místico” entra em cartaz nos cinemas brasileiros no dia 6 de setembro.
“O Grande Circo Místico” não compete pelos Kikitos – o prêmio do Festival de Gramado. Por tradição, o festival sempre abre a mostra com um filme-destaque do cinema nacional. No ano passado, a escolha foi o longa “João, o maestro”.
Em maio, o Circo Místico se exibiu no Festival de Cannes e ficou guardado até a exibição agora no Festival de Gramado.
Veja abaixo a reportagem do Panis & Circus sobre o filme de Cacá Diegues no Festival de Cannes.
O Grande Circo Místico, filme de Cacá Diegues, é bem recebido em Cannes
Ivy Fernandes, de Roma
O novo filme de Cacá Diegues, o Grande Circo Mágico, quebrou a atmosfera melancólica do 71.º Festival de Cannes que lembrou os 50 anos da revolta estudantil de 1968. Apesar de não fazer parte do concurso oficial, recebeu destaque especial da imprensa e foi bem recebido pelo público presente ao evento que ocorreu de 8 a 19 de maio de 2018.
O filme custou 40 milhões de euros e mostra a trajetória de uma família brasileira de artistas circenses desde 1910 até os dias atuais. Falado em português, é uma coprodução do Brasil, de Portugal e da França e foi rodado inteiramente em Portugal.
Segundo Diegues, duas questões foram fundamentais para a definição de Portugal como local das filmagens. Uma delas diz respeito aos cenários naturais, às ruas antigas e à conservação da arquitetura do início de 1910. “Infelizmente no Brasil os bairros antigos não são valorizados e conservados como na Europa”, explicou o cineasta.
A outra diz respeito ao uso de animais, hoje proibido no Brasil, mas liberado em Portugal. “Naquela época, em todos os picadeiros eram apresentados animais”, justifica o diretor. O produtor português, Galvão Teles, também presente no festival, explicou que, em seu país, os “animais artistas” são “acompanhados por veterinários e são muito bem tratados”. Ainda assim, os “animalistas” franceses protestaram.
A história
O Grande Circo Místico conta a história de amor entre um aristocrata e uma acrobata e a saga da família de artistas do Grande Circo Knieps durante mais de cem anos. Trata-se de um close up sobre cinco gerações de artistas que atravessam vários períodos históricos do Brasil e mostra o universo circense. O filme começou a ser rodado em 2015. “Desde o início foi muito complicado, tanto que terminamos poucos meses atrás”, disse o diretor.
A película tem um elenco internacional de peso. Três são os protagonistas masculinos: o brasileiro Jesuíta Barbosa, o português Nuno Lopes e o francês Vincent Cassel. As protagonistas femininas são Bruna Linzmeyer, Catherine Mouchet e Mariana Ximenes. A trilha sonora conta com músicas de Chico Buarque e Edu Lobo e concorreu de forma determinante para a boa recepção do filme na França.
Moderno e barroco, surrealista e realista, o filme tem um mestre de cerimônias que não envelhece nunca. Interpretado por Jesuíta Barbosa, seu nome já diz tudo, Celavi, pronunciado em francês significa “c’est la vie” (é a vida ou seja; circo é vida). O apresentador Celavi é o elemento de ligação nos anos que passam no poema de Jorge de Lima.
Impacto visual
O filme possui grande impacto visual, cores fortes e cenas que se alternam entre românticas e quase violentas. A película conquistou imediatamente o exigente público do festival de Cannes. Um mesclado de originalidade e força, e deverá ser exibido na Europa em breve tempo.
Aplaudido pelos europeus, o filme foi criticado pelos americanos, especialmente pelo site especializado Hollywood Repórter, que escreveu: “O filme de Diegues é desconectado, a resposta talvez seja pela transposição cinematográfica do poema de Jorge de Lima, ativista político dos anos 1920 a 30. Se o objetivo é mostrar o circo como uma alternativa ao materialismo convencional no estilo de Ópera dos Três Vinténs, de Brecht, o filme se perdeu na adaptação cinematográfica.”
O poema amplia horizonte
O Grande Circo Místico tem uma história curiosa. Ele chega ao dramaturgo, cenógrafo e diretor Naum Alves de Souza como um presente. Ao ganhar uma lembrança, Naum se empolga com um trecho de poema que a acompanhava de autoria de Jorge de Lima: O Circo. “Quando li aqueles versos, achei lindo e fui atrás do poema completo. Não conhecia nada do Jorge de Lima. Aquilo era muito diferente. Mesclava circo, religiosidade, mistério e achei que renderia um espetáculo”, conta.
Anos mais tarde, em Curitiba, Naum trabalhava no cenário para o balé Jogos de Dança, com músicas de Edu Lobo, e apareceu a oportunidade de um novo projeto. “O Edu me perguntou se eu tinha alguma ideia em mente. Foi então que pensei: ‘É a hora de viabilizar O Grande Circo Místico’. Convidamos o Chico Buarque para fazer as letras, o Edu na melodia e eu fiz as ilustrações do disco e o roteiro do balé”, explica.
Assim, O Grande Circo Místico foi apresentado como um espetáculo de música e dança de Naum. Mais tarde foi transformado em musical. E este ano estreia como filme. O título original do poema, é simplesmente Circo, uma encruzilhada de destinos fatos, eventos que corre na linha paralela do doce-amargo.
Canções
A trilha sonora de ‘O Grande Circo Místico’ é um capítulo à parte e, de certa forma, ganhou vida própria. Há quem até defenda que ela ganhou mais projeção do que o próprio balé. “A trilha se tornou imortal e só tem clássicos da nossa música. Tanto que as canções estão aí até hoje. Contou com os melhores músicos, artista e arranjadores e por isso foi e ainda é um sucesso”, comenta Naum Alves de Souza.
Quem foi Jorge de Lima
O poeta modernista Jorge de Lima nasceu em Alagoas, como o cineasta Cacá Diegues, em 1893, perto da Serra da Barriga, onde Zumbi fundou o seu famoso quilombo. Morreu em 1953. Mas nos seus 60 anos de vida, Lima teve uma existência intensa, interessante e diversificada. Formado em medicina, foi professor, político, poeta, escritor, publicou livros, ensaios, poemas, trabalhou como tradutor e se dedicou também à arte como pintor e escultor, realizando inúmeras exposições.