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Arte em Movimento

O melhor de Piolin ressurge em São Paulo

Recriação do Circo Piolin, no Sesc Belenzinho, durante a Mostra do Sesc

 

Moça suspensa pelo cabelo, cozinheiro “maluco” que equilibra 12 pratos e palhaço que vira médico e cura mau humor fizeram parte das apresentações do Circo Piolin, que homenageou o famoso palhaço

Bruna Galvão

Aos olhos do público, como que saído da cartola de um mágico, o Circo Piolin ressurgiu, de repente, no meio da praça do Sesc Belenzinho, trazendo com ele toda a alegria de seus velhos tempos. Crianças e adultos puderam conferir números circenses (como malabares, monociclo e tranca) que marcaram o repertório desse circo, bem como as comedinhas (peças curtas de circo-teatro), famosas na época de Piolin.

A recriação do Circo Piolin foi a homenagem prestada pelo Sesc ao famoso palhaço dentro do evento “Circos – Festival Internacional Sesc de Circo”, que aconteceu em São Paulo de 2 a 12 de maio.

 

“Boa tarde, criançada”

Cartaz com a foto do Palhaço Piolin, homenageado no Festival do Sesc de Circo

 

Na tarde quente de 11/5, não tardou muito para as cortinas vermelhas se abrirem e o show começar no Circo Piolin. O grito forte de “Boa tarde!” da plateia em resposta ao apresentador mostrava que a empolgação era geral. Ele contou ao respeitável público um pouco sobre o homenageado:

“Piolin foi um importante palhaço que se chamava Abelardo Pinto (1887-1973). Nestes 40 anos da morte de Piolin, iremos homenagear esse que foi, não um artista mineiro, mas, sim, um artista do Brasil”. O apresentador tem razão: a influência de Piolin no meio circense é tamanha que o dia de seu aniversário, 27 de março, foi escolhido para ser o Dia Nacional do Circo.

 

Viviane Rabelo e Alfredo Munhóz no número de equilíbrio e força

 

No picadeiro do Circo Piolin instalado no Sesc, primeiro vieram os números de “Variedades”, em que artistas com múltiplos talentos apresentaram malabarismo, equilibrismo, percha, tranca e monociclo, o que causou diversos tipos de reação na plateia. Uma delas foi a tensão.

 

Suspensa pelos cabelos

Inajá Meneghin durante apresentação no Circo Piolin instalado no Sesc Belenzinho

 

Durante as exibições de sábado, o público, admirado (e tenso), conferiu a artista Inajá Meneghin ser suspensa no ar através de seus cabelos. Ela rodopiou muitas vezes nas alturas, mostrando leveza e elegância em seus movimentos. Os presentes não contiveram o famoso “Oh!” de contemplação, enquanto uma criança definiu Inajá como “uma bailarina”.

Em seguida, vieram Viviane Rabelo e Alfredo Munhóz com números de equilíbrio e força, como é o caso da percha. A tensão continuava, afinal, conseguiria Alfredo sustentar a enorme barra de ferro na qual Viviane se prendia? Conseguiria Viviane manter-se suspensa naquela barra ao mesmo tempo em fazia diversos movimentos graciosos e, aparentemente, impossíveis? Sim, eles conseguiram e o público explodiu em aplausos.

 

“Cozinheiros Malucos” e seus pratos

Bruno Edson e seus pratos voadores

 

Os “Cozinheiros Malucos” trouxeram pizzas ao espetáculo. Ao rodopiarem “pizzas” em varetas, adultos e crianças entraram no ritmo da famosa música napolitana “Funiculì Funiculà”. Na sequência, os cozinheiros mostraram porque são “malucos”: eles tinham a missão de empilhar doze pratos em doze varetas, sem deixar nenhum cair.

Uma enorme gritaria surgiu de todos os cantos da plateia: todos queriam avisar ao cozinheiro Bruno Edson qual prato estava prestes a desabar. Uma garotinha tentava se desvencilhar de seu pai para atingir o picadeiro e mostrar, ela mesma, a Bruno, o prato que cairia. “Aquele [vai cair], aquele!”, gritava ela desesperada. Mas Bruno, muito atrapalhado ao lado de sua [também atrapalhada] assistente, corria de um lado a outro, sem saber a quem ouvir primeiro ou a que prato “socorrer”.

Deu tudo deu certo no final e Bruno Edson provou, mais uma vez, porque é um dos maiores artistas do circo brasileiro.

“Variedades” também contou com uma participação especial: a presença do palhaço Xuxu, último companheiro de cena do saudoso Piolin. A apresentação ocorreu durante a semana de 7 a 10 de maio no mesmo local. “Variedades” tem direção de Bel Toledo, da Cooperativa Brasileira do Circo.

 

A agência atrapalhada do senhor Marinelli

Na segunda parte do espetáculo, vieram as peças de circo-teatro: “Agência Marinelli” e “Bancando o Médico”. A primeira, com direção de Tubinho e estrelada pela Família Burg, “é uma das mais antigas comédias do Circo-Teatro Brasileiro e continua sendo encenada nos palcos e picadeiros dos circos até hoje”, informa o Sesc. A peça tem como protagonista Seu Marinelli, que, completamente endividado, resolve abrir uma agência para selecionar talentos para a TV. A confusão está armada quando sonhadores procuram Seu Marinelli para ficarem famosos. Tal como a participação de Xuxu, a trupe de “Agência Marinelli” se apresentou entre os dias 7 e 10 de maio. 

 

Zabobrim cura mau humor

Cena da esquete cômica "Bancando o Médico" com o palhaço Zabobrim na maca

 

Por sua vez, “Bancando o Médico” (direção de Verônica Tamaoki, do Centro de Memória do Circo, e do parlapatão Hugo Possolo) também é sinônimo de confusão quando o palhaço Zabobrim é convencido a virar médico.

A diretora Verônica Tamaoki explica que essa peça é apresentada desde 2001 e foi feita em parceria com Flávio Rocha. “É uma peça antiga, na qual adaptamos alguns elementos para o mundo atual”, diz ela.

 

 

Dito e feito. No consultório do Doutor Fulano de Tal (que mais parece um cientista maluco), seu assistente encontra-se, ao acaso, com seu amigo Zabobrim, morador da terceira caixa de papelão situada embaixo do Minhocão (via expressa da cidade de São Paulo). Com a ausência do Doutor Fulano de Tal, seu assistente nota que Zabobrim, ao colocar uma peruca, fica “igualzinho” ao médico e o convence a se passar por ele.

 

O médico (Carlos Baldim) e seu auxiliar (Fábio Espósito) na comedinha tipica da época do Palhaço Piolin

 

A interpretação esplêndida dos atores Ésio Magalhães (o palhaço Zabobrim), Fábio Espósito, Rodrigo Mangal, Paula Flabian, Carlos Baldim e Felipe Oliveira convence o público. Este, de olhos fixos, acompanha a chegada de cada um dos pacientes: um homem muito doente do estômago (para o qual Zabobrim receita, entre outras coisas, arame farpado), uma mulher infiel ao marido e um louco que procura pela mãe (e a encontra no falso médico).

As gargalhadas constantes e o incentivo dado ao louco para que Zabobrim beije o amigo, o assistente do verdadeiro médico, demonstra entrosamento da plateia com a peça, fato confirmado por uma funcionária do local.

“A semana toda foi assim: o público veio e reagiu bem aos espetáculos [do Circo Piolin]”, comenta Célia, funcionária do Sesc Belenzinho.

Mesmo não entendendo de medicina, o palhaço Zabobrim (e seus colegas de elenco) provou que ao menos tem a cura para um mal: o mau humor.

 

Verônica Tamaoki, do Centro de Memória do Circo, e Regina Bonani, do Panis & Circus. Ao fundo, a repórter Bruna Galvão com caderno na mão.

 

 

Postagem – Alyne Albuquerque

 

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