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Parlapatão volta à carga: crítico da “Folha” mentiu

 

Os Parlapatões foram convidados a produzir um espetáculo com a “cara de São Paulo” pela produção do Festival de Curitiba. Surgiu a peça “Parlapatões Revistam Angeli”, que estreou no Festival em 26/03. A peça traz para a linguagem cênica as criações do cartunista Angeli, como os “Skrotinhos”, “Rebordosa”, “Bob Cuspe” e “Meia-Oito”.

Luiz Fernando Ramos considerou o espetáculo “regular” em sua crítica na “Folha de S.Paulo” em 30/03. “Teatro em tiras e fiapos de riso”… “O resultado, admitidos os esforços dos Parlapatões e a riqueza da obra do cartunista, fica aquém de seu trabalho em jornais e revistas e não acrescenta muito à trajetória do grupo”. 

O Parlapatão Hugo Possolo replicou, também na “Folha”, em 4/04, que um “crítico deveria ser mais criterioso” já que o “personagem Bibelô” é citado, mas “nunca esteve em cena”.  E acrescenta que o crítico fez um “grande esforço para desaprovar o espetáculo”. Possolo continua: “Com o teatro cheio, ouvimos risadas constantes, aplausos aos números musicais e muitos aplausos em cena aberta. Parece que o crítico não esteve mesmo lugar”.

“Sinceridade teve como retribuição intolerância e achincalhe”, diz Luiz Fernando Ramos.

Em 11/04, veio a tréplica de Luiz Fernando Ramos que afirmou que “Possolo inconformado com uma opinião sobre seu trabalho, lançou dardos contra ela que, além da legítima discordância, extrapolam para um ataque à honra do crítico”. (…) “Houve, de fato, uma desatenção quando identifiquei Bibelô no palco. Ela foi facilitada pelo programa, que o incluía no rol das criaturas de Angeli a aparecerem em cena. Mas, confundi-lo com uma das contrafações que reviviam os personagens das tiras favorece a tese que tentei defender. O contraste entre a potência dos desenhos do artista na forma gráfica e o que foi obtido como teatralidade é gritante.” (…) “Se o objetivo em Curitiba era apresentar um pouco mais do mesmo, as boas e vitoriosas palhaçadas de sempre, há que se reconhecer, como está apontado na crítica, que chegou-se lá. Mas defendo o direito de opinar que o jogo tramado com Angeli não resultou em grande teatro, nem em grande comédia. E estranho que esta sinceridade tenha merecido em retribuição a intolerância e o achincalhe”.  

Possolo respondeu: “Crítico que não suporta ser criticado”.

Em 18 de abril, o parlapatão Hugo Possolo volta à carga e afirma em sua tréplica que “crítico do jornal mentiu para favorecer sua própria opinião”. Ele questiona em seu texto: “A briga interessa ao leitor? Ou ao ego de Luiz Fernando Ramos? Contestado, se diz achincalhado e evoca sua honra. Não vejo honradez em suas pseudocríticas. É um crítico que não suporta ser criticado. Nada contra análises coerentes, ainda que negativas. Porém Ramos mentiu para favorecer sua opinião. Usou ‘fiados de risos’ para negar o sucesso da peça. Agora admite, mas despreza o ‘índice’.” (…) “Queira ele ou não, a grande comédia se faz pelo riso do público”.

Abaixo, as íntegras da réplica de Possolo e a crítica de Ramos – ambas na “Folha”.

 


 

Folha de S. Paulo – 18/04/2013 Tréplica: Crítico do jornal mentiu para favorecer sua própria opinião

HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA


A briga interessa ao leitor? Ou ao ego de Luiz Fernando Ramos? Contestado, se diz achincalhado e evoca sua honra. Não vejo honradez em suas pseudocríticas. É um crítico que não suporta ser criticado.

Nada contra análises coerentes, ainda que negativas. Porém Ramos mentiu para favorecer sua opinião. Usou “fiapos de riso” para negar o sucesso da peça. Agora admite, mas despreza o “índice”. Arvora-se em ser quem define o que é obra-prima. Queira ele ou não, a grande comédia se faz pelo riso do público.

Ramos brada o direito de dar opiniões que, embora mal escritas, têm espaço constante. Feito um conservador autoritário, define minha defesa como “intolerância”. Queria submissão? Teve três chances de atacar minha obra e eu duas para me defender. Injusto, mas ineficiente.

Diz ser “infeliz coincidência” não ter acompanhado os Parlapatões. O que fez em cinco anos? Estava no dentista? No banheiro? Se não nos assistiu, como nos acusa de “mais do mesmo”? Preconceituoso com o humor, não nos respeita.

Copiou o programa da peça para contestá-lo displicentemente. Sua admitida desatenção prova sua preguiça. Seu egocentrismo confundiu o debate que levantei sobre a função atual da crítica.

Sou eu o “contraditório”? Um deus como Ramos não deve se ofender. Não é vítima. Só provou do próprio veneno.

Eu, artista, trabalho honestamente. Já Ramos tem medo de perder o emprego e a falsa majestade. Que faça algo original e deixe de ser parasita do trabalho alheio. E quando tenho razão não é culpa minha.

HUGO POSSOLO é palhaço, dramaturgo, diretor dos Parlapatões e acaba de contratar um segurança pessoal.

*

ENTENDA O CASO

Crítica à peça sobre Angeli motivou debate

Insatisfeito com texto do crítico Luiz Fernando Ramos sobre “Parlapatões Revisitam Angeli”, Possolo escreveu réplica, respondida por Ramos. Como recomenda o “Manual de Redação” da Folha, textos das duas partes devem pôr fim à polêmica. O crítico optou por não escrever uma tréplica.

 

 

Folha de S. Paulo – 11/04/2013 – Tréplica: Sinceridade sobre peça baseada em Angeli foi respondida com intolerância

LUIZ FERNANDO RAMOS

CRÍTICO DA FOLHA

O direito do contraditório. Hugo Possolo, encenador, autor, cenógrafo, figurinista e produtor do espetáculo “Parlapatões Revistam Angeli”, inconformado com uma opinião sobre seu trabalho, lançou dardos contra ela que, além da legítima discordância, extrapolaram para um ataque à honra do crítico.

Acusado de, “distorcendo o que viu” e com “a ardilosa intenção de enganar o leitor”, eu, um “professor ditatorial”, teria feito um “grande esforço em desaprovar o espetáculo” em sua “estreia no Festival de Curitiba”.

Tendo como princípio não responder aos artistas que queiram, com suas razões, discordar de minhas críticas, tenho que abrir uma exceção diante das aleivosias acima pronunciadas.

Como os leitores que recorrerem à “Ilustrada” do dia 30 de março poderão constatar, minha apreciação da encenação dos Parlapatões mirou no que esse grupo tão famoso produziu frente a uma encomenda do Festival, a de criar um espetáculo a partir da obra gráfica do genial Angeli.

Se é verdade que “o público aplaudiu de pé por longo tempo” o realizado, como evoca Possolo para advogar contra o meu desfavor à sua criação, tenho que esclarecer que não costumo moldar minha opinião pelos aplausos finais.

O hábito invariável do público, no Brasil, de levantar-se no fim de todos os espetáculos, torna esta atitude um índice pouco confiável de aferição e priva as verdadeiras obras-primas das merecidas ovações.

Possolo precisa optar se prefere uma crítica de arte que não seja baseada nos anseios de consumo, como sugere sua acusação à Folha de promover indevidamente uma avaliação dos espetáculos por “estrelinhas”, ou se fica com o critério dos risos e palmas como uma prova de qualidade.

Houve, de fato, uma desatenção quando identifiquei Bibelô no palco. Ela foi facilitada pelo programa, que o incluía no rol das criaturas de Angeli a aparecerem em cena.

Mas, confundi-lo com uma das contrafações que reviviam os personagens das tiras favorece a tese que tentei defender. O contraste entre a potência dos desenhos do artista na forma gráfica e o que foi obtido como teatralidade é gritante.

Os Parlapatões são ótimos comediantes, e o fato de eu só agora ter escrito sobre um trabalho deles, em quase cinco anos de exercício na Folha, é uma infeliz coincidência, e não confirma o desconhecimento de sua contribuição.

Se o objetivo em Curitiba era apresentar um pouco mais do mesmo, as boas e vitoriosas palhaçadas de sempre, há que se reconhecer, como está apontado na crítica, que chegou-se lá.

Mas defendo o direito de opinar que o jogo tramado com Angeli não resultou em grande teatro, nem em grande comédia. E estranho que esta sinceridade tenha merecido em retribuição a intolerância e o achincalhe.

 

 

Folha de S. Paulo – 04/04/2013 – Réplica: Escrita respeitosa de crítico esconde intenção de enganar leitor

HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O crítico Luiz Fernando Ramos fez grande esforço em desaprovar o espetáculo “Parlapatões Revistam Angeli” em nossa estreia no Festival de Curitiba (“Ritmo de tiras de jornal faz de peça uma coleção de piadas”).

Com teatro cheio, ouvimos risadas constantes, aplausos aos números musicais e muitos aplausos em cena aberta. Parece que o crítico não esteve no mesmo lugar.

Distorcendo o que viu, Ramos usa expressões como “em alguns momentos” ou “pelo esforço máximo de desempenho” para trair fatos com dissimulação intelectual. Sua escrita aparentemente respeitosa esconde a ardilosa intenção de enganar o leitor.

Sua análise tenta jogar com as intenções da encenação sugerindo que não foram alcançadas. Seu julgamento precoce cita o personagem Bibelô, que nunca esteve em cena. Um crítico deveria ser mais criterioso.

Ramos, desde que está nesta Folha, nunca escreveu sobre nossas peças nem acompanhou a trajetória dos Parlapatões. Raramente escreve sobre comédia ou humor. Talvez não goste do riso no teatro.

Ainda assim, quer afirmar quais deveriam ser os rumos de um grupo que está há 22 anos na estrada. Isso pode alimentar sua pequena autoridade de crítico, mas não contribui com o entendimento do leitor.

A função da crítica de arte há muito tempo foi desvirtuada. Hoje se resume a ser um guia de consumo. Dificilmente contextualiza a obra analisada. O resultado é um amontoado de subjetividades que geram a classificação em estrelinhas.

Aqui está o problema. Um jornal como a Folha, que defende a pluralidade, tem, no caso do teatro, uma única pessoa que carimba as obras com suas estrelinhas. Em cinema, a classificação, pelo menos, vem da média da avaliação de vários críticos. No caderno “Poder”, a opinião de um colunista não representa a opinião de todo o jornal. E o leitor, respeitado, ganha ao ouvir diversas opiniões.

As tais estrelinhas descontextualizam e corrompem o pensamento do crítico. Prejudicam, sobretudo, o leitor, que, ao consultar o “Guia da Folha”, encontra ali uma taxação dissociada da avaliação que a gerou.

Após três meses de trabalho intenso, ao qual o público aplaudiu de pé por longo tempo, um “deus ex-machina” desce de seu limbo e determina o que é ótimo, bom, regular ou péssimo.

Sou um artista ou um menino na escola à espera da aprovação do gosto de um professor ditatorial?

É triste que nós, artistas e público, estejamos nos transformando em parte de uma engrenagem que não entende a arte como interferência na vida da sociedade e que quer diminuí-la ao mero consumismo imediato.

HUGO POSSOLO, 50, é palhaço, dramaturgo e diretor do grupo Parlapatões.

 

 

Folha de S. Paulo – 30/03/2013 – Crítica: Ritmo de tiras de jornal faz de peça baseada em Angeli uma coleção de piadas

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Teatro em tiras e fiapos de riso. “Parlapatões Revistam Angeli” comprou o desafio de transpor as criações de Angeli para a linguagem cênica.

O resultado, admitidos os esforços dos Parlapatões e a riqueza da obra do cartunista, fica muito aquém de seu trabalho em jornais e revistas e não acrescenta muito à trajetória do grupo.

A evocação do teatro de revista no título, adaptada a um modo de apresentação dito “rock and roll”, tampouco se confirma.

Se uma trilha gravada com números de rock pesado sugere um musical, o fato de ninguém cantar a ponto de sustentar essa proposta compromete sua efetivação.

Do ponto vista da dramaturgia, o roteiro de Hugo Possolo, estruturado em cenas curtas com textos seus e do próprio Angeli, opta por justapor os personagens mais famosos do cartunista.

Assim se sucedem tentativas de vivificar em cena criaturas como Bob Cuspe, os Skrotinhos, Rebordosa, Bibelô ou Meia Oito.

Criações da linguagem gráfica já sofrem alguma perda na tentativa de se recriá-las como presenças reconhecíveis no palco.

Soluções mais e menos felizes de mascaramento tentam ainda se adequar a uma estrutura narrativa problemática, que, feita a partir do ritmo sintético das tiras de jornal, torna-se uma coleção de piadas e não uma trama.

A utilização da imagem de “Angeli em Crise”, recurso metalinguístico de que o próprio artista se serve em suas tiras, seja para se projetar na velhice, seja para expressar pontos de vista pessoais em questões políticas ou culturais, não cumpre essa função.

Se o que sustenta o espetáculo são os próprios desenhos de Angeli, projetados de forma ampliada em uma tela, essa presença dominante dos traços do cartunista acaba por minar a potência das figuras encarnadas pelos intérpretes.

Estes também merecem o reconhecimento, pelo esforço máximo de desempenho no sentido de, com a verve de palhaços experientes, conquistarem o público.

Em alguns momentos, os atores entusiasmam e divertem a plateia.

Mas são sempre piadas isoladas, que não conseguem transmutar as tiras geniais de Angeli em correspondente matéria teatral.

PARLAPATÕES REVISITAM ANGELI
AVALIAÇÃO regular

 

Fotos: Divulgação

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