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Vem aí a exposição de Piolin!

 

Verônica Tamaoki fala da chegada do acervo de Piolin no CMC / Foto Sylvia Massini

 

A mostra vai ser aberta ao público em 27/3/2016, no Centro de Memória do Circo, afirma a diretora Verônica Tamaoki

Fernanda Araujo, especial para Panis & Circus 

Os sapatos “tamanho 84”, a bengala “que se assemelha a um anzol de pescar submarinos”, descritos dessa forma pelo escritor Afonso Schmidt, o chapéu de coco e o colarinho em que cabe a família toda, são algumas das peças do acervo de Piolin, que vão poder ser vistas pelo respeitável público, a partir de 27 de março de 2016, no Centro de Memória do Circo (CMC), na Galeria Olido, em São Paulo. A informação é de Verônica Tamaoki, diretora do CMC, em entrevista ao Panis & Circus.

 

Verônica Tamaoki, a trupe de Piolin, e Pascoal Conceição (Mario de Andrade) mostra a língua / Foto Sylvia Masini

 

O acervo de Piolin, que estava sob a guarda do MASP, há 43 anos, passou aos cuidados do Centro de Memória do Circo, em 4/12.  Segundo Verônica, “o MASP guardou e conservou muito bem as peças do acervo de Piolin”. Mas o museu “teve poucas oportunidades de compartilhar o acervo com o respeitável público”, e, por isso, “achou melhor passar para o Centro de Memória do Circo”.

A seguir, os principais pontos da entrevista.

 

Panis & Circus – Como foi a negociação do acervo de Piolin do MASP para o Centro de Memória do Circo?

Verônica Tamaoki – Teve uma ligação muito importante que foi feita pelo Caio Franzolin que é palhaço e também trabalha com figurino e cenografia, que esteve no MASP e, conversando com os responsáveis, percebeu a possibilidade da instituição passar o acervo de Piolin para o Centro de Memória do Circo. Ele me alertou sobre essa possibilidade, e eu fui atrás.

 

Técnicos analisam o figurino e os objetos do acervo de Piolin no CMC / Foto Sylvia Masini

 

Panis & Circus – Qual o estado de conservação do material?  

Verônica – Sobre o estado de conservação, é claro que é um material bastante frágil, mas o MASP guardou e conservou muito bem essas peças que se encontram sob sua guarda desde 1972. Mas não basta apenas conservar, é preciso compartilhar. Como o MASP teve poucas oportunidades, nesses 43 anos, de compartilhar o acervo com o público, sempre respeitável do circo, achou melhor passar para o circo, isto é, para o Centro de Memória do Circo.

Panis & Circus – Conte um pouco sobre a história dessas peças?  

Tamaoki – As peças são figurinos e adereços do palhaço Piolin: os sapatos, “tamanho 84”,  a bengala, “que se assemelha a um anzol de pescar submarinos” (objetos descritos dessa forma por Afonso Schmidt, em sua crônia “Piolin”), o chapéu de coco, e o colarinho em que cabe a família toda, a roupa feminina do esquete “Idílio do Sabiá”, entre outros.

Panis & Circus – O que representa para a instituição a posse desse acervo?

Verônica – É de grande relevância para a instituição deter a posse desse acervo. A importância de Piolin para o circo brasileiro é imensa: na data de seu nascimento, 27 de março, consagrou-se o Dia do Circo no Brasil, e no Largo do Paissandu – ele teve sua lona armada por anos- é também o local onde se encontra o Centro de Memória do Circo. Ele está voltando para casa. É o resgaste de um dos mais importantes símbolos do circo e da palhaçaria. 

Panis & Circus – Na Sala Olido, durante a abertura das embalagens, você narrou várias memórias sobre Piolin e o Largo do Paissandu. Por favor, relembre algumas.  

Verônica – Piolin reinou no Largo do Paissandú em 1925 e 1930, quando ali fez longas temporadas, primeiro com o Circo Queirolo e, depois, com o Circo Alcebíades. Eram seus frequentadores assíduos os modernistas (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Pagu, Di Cavalcanti, entre outros) e o presidente da República Washington Luiz.

Em 1929, os modernistas comemoraram o aniversário de seus 32 anos (Piolin, nasceu Abelardo Pinto, no dia 27 de março de 1897 e faleceu em 4 de setembro de 1973) com um almoço no restaurante do Mappin Stores, cujo principal prato foi o próprio palhaço, de maneira simbólica, é claro. Mas levando-se em conta que os índios antropófagos, em quem os modernistas se inspiraram, comiam seu inimigo não por fome, mas ritualmente, visando adquirir suas qualidades, essa foi a maior homenagem que um artista poderia receber.

Não podemos esquecer de Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi. Foram eles que, ao organizarem a exposição comemorativa ao cinquentenário da Semana de Arte Moderna, incluíram Piolin, montando seu circo no vão do MASP. Sem eles, Piolin não teria deixado seu acervo no MASP. Sem eles e sem os modernistas sequer teríamos hoje o Dia do Circo.

Panis & Circus – Como foi reviver o banquete antropofágico de Piolin? 

Tamaoki – Foi muito importante a participação da Universidade Antropofágica do Teatro Oficina Uzona Uzyna que é herdeiro direto dos modernistas, e quem mais conhece sobre Oswald de Andrade, autor do Manifesto Antropofágico. Poder contar com o coro de atuadores da Universidade Antropofágica cantando as músicas mais indígenas de Villa-Lobos fez a diferença. Se em 1929 os modernistas comeram Piolin, em 2015 foi a vez do circo e dos palhaços comerem o modernismo brasileiro.

 

Exposição permanente do Centro de Memória do Circo / Foto Divulgação

 

Panis & Circus – O material será exposto ao público em mostra a ser inaugurada em 27 de março de 2016? 

Verônica – Sim, no próximo dia 27 de março, dia do circo, estaremos inaugurando a exposição Piolin, com o acervo do Centro de Memória do Circo constituído por material não só do MASP, mas também o que já se encontra em nosso acervo. O projeto está sendo desenvolvido pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha. Vai ser uma grande exposição.
Aqui, é preciso lembrar que o Centro de Memória do Circo, primeira instituição brasileira e da América do Sul consagrada à memória e à cultura circense, é formado por quatro núcleos que atuam não de maneira isolada, mas integrada, que são: acervo, exposição, pedagógico e pesquisa. No núcleo de exposição, a ideia e que, ao lado da exposição permanente, sejam realizadas exposições temporárias – que é o caso da exposição Piolin.

 

Centro de Memória do Circo

O Centro de Memória do Circo, do Departamento do Patrimônio Histórico, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, é a primeira instituição brasileira consagrada exclusivamente à memória do circo. Fundado em 16 de novembro de 2009, está localizado num dos principais sítios históricos do circo brasileiro, o Largo do Paissandu

 

 

 

Postagem – Alyne Albuquerque

2 Responses to "Vem aí a exposição de Piolin!"

  1. Panis Et Circus sempre arrasando!..Linda reportagem!

  2. Joana Pegorari disse:

    Olha a matéria linda do Panis Et Circus sobre o acervo do Piolin…

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