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“Saltimbancos Trapalhões” ganha nova versão

 

 

Respeitável Público

Sucesso de 1981, ‘Saltimbancos Trapalhões’ ganha nova versão nos cinemas na próxima quinta, com Didi e Dedé às voltas para salvar, na ficção, um circo que enfrenta as mesmas ameaças dos picadeiros da ‘vida real’

André Miranda, de O Globo

andre.miranda@oglobo.com.br

Como acontece em centenas de picadeiros pelo Brasil, o Grande Circo Sumatra sofre com a crise financeira, a falta de apoio público e a recente proibição da participação de animais em seus espetáculos. Mas, também como é comum no universo circense, o Sumatra deposita suas esperanças em seus artistas, pessoas apaixonadas que fazem uma pirueta, duas piruetas, super piruetas e depois ainda gritam em uníssono “Bravo, bravo”.

O Sumatra é o novo lar de Renato Aragão, de 81 anos, e Dedé Santana, de 80. É um espaço que eles conhecem muito bem após décadas de apresentações dos Trapalhões em circos — no caso de Dedé, uma vida inteira — e também pela lembrança de um certo longa-metragem que até hoje se mantém como a nona maior bilheteria do cinema nacional. Só o título do filme que estreia na próxima quinta-feira já mexe com a memória de muitos brasileiros: “Saltimbancos Trapalhões — Rumo a Hollywood” é uma nova versão da história que os próprios Trapalhões levaram aos cinemas em 1981, com direito a músicas de Chico Buarque, Luis Enríquez Bacalov e Sergio Bardotti.

— Eu sinto a mesma adrenalina de quando lançamos o primeiro “Saltimbancos”. Sinto isso em todos os meus filmes. Mas foi muito bom passar dois meses filmando e convivendo com um circo mais uma vez — afirma Renato, o Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo, personagem que criou há 56 anos.

Renato chega a seu 50º longa com o novo “Saltimbancos Trapalhões”. No filme, Didi precisa escrever um novo espetáculo para pagar as dívidas do circo e salvá-lo da falência. A seu lado está o inseparável Dedé, um ator/personagem que nasceu dentro de uma família circense e fez fama na TV e no cinema com o quarteto Os Trapalhões — os outros dois integrantes do grupo eram Mussum, morto em 1994, e Zacarias, morto em 1990.

Entre as décadas de 70 e 80, eles foram campeões absolutos de bilheteria no cinema brasileiro. Dos 20 filmes nacionais que mais atraíram público até hoje, nove são dos Trapalhões. O “Saltimbancos” de 1981, dirigido por J.B. Tanko, vendeu, por exemplo, 5,2 milhões de ingressos. — No primeiro “Saltimbancos”, nós fomos para Los Angeles rodar cenas lá. Mas, no dia em que estávamos com todo o equipamento alugado, o diretor passou mal. Aí o Didi falou para eu dirigir as cenas. E eu dirigi toda a equipe americana sem saber falar uma palavra em inglês — lembra Dedé. — Para mim, é um prazer fazer um filme sobre circo. Meu pai era palhaço, e minha mãe, contorcionista. Com poucos meses já estava me apresentando no picadeiro. Lembro que uma vez meu pai me perguntou quantos números de circo eu fazia. Eu respondi que fazia oito. Aí ele me provocou: não é melhor fazer um só e fazer bem?

O novo “Saltimbancos” foi dirigido por João Daniel Tikhomiroff (o mesmo de “Besouro”), que já havia trabalhado com Renato e Dedé em filmes para a TV. O longa metragem nasceu a partir do sucesso da peça “Os Saltimbancos Trapalhões — O musical”, criada em 2014 pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho (eles assinam a direção musical do filme), também com Didi e Dedé no palco. Além da dupla, o elenco da nova produção traz Letícia Colin, Alinne Moraes, Emílio Dantas, Livian Aragão, Marcos Veras e Marcos Frota, entre outros. Roberto Guilherme, conhecido dos programas dos Trapalhões como o Sargento Pincel, interpreta o famoso Barão, o dono do circo. Artistas circenses também participaram das filmagens.

— Sempre tive um interesse, uma paixão pela espontaneidade do circo. É desse lado espontâneo que vem o encantamento sobre as pessoas — diz Tikhomiroff.

— Para filmar um circo, a primeira coisa que se deve fazer é respeitar o artista. Você não pode sugerir que ele assuma riscos maiores do que já tem naturalmente na profissão.

Nas filmagens, o espaço utilizado como cenário foi o Unicirco Marcos Frota, na Quinta da Boa Vista, no Rio. Frota, que interpreta Assis Satã no filme, tem um longo histórico com a arte. Ele se maravilhou com o trabalho em circo quando viveu um trapezista na novela “Cambalacho”, em 1986. Cinco anos depois, deu início a seu próprio circo, hoje parte de um projeto maior de formação técnica e com unidades itinerantes se apresentando pelo país.

Frota compreende bem os problemas enfrentados pelo circo do filme, como a falta de investimentos e a perda dos animais. Ainda não existe uma lei federal aprovada que proíba a apresentação dos bichos nos circos, mas, com o trabalho intenso de entidades de proteção aos animais nas últimas décadas, há leis estaduais e municipais vetando seu uso.

— O movimento circense é vigoroso no país, mas é claro que há dificuldades. Circos familiares, menores, lutam com prefeituras para ser respeitados — diz Frota. — Na Europa há animais em circo, só que o clima é outro, e há movimentos fortes de proteção aos animais de picadeiro. Entendo a tradição, mas acho que no Brasil não faz mais sentido ter animais, o clima é tropical, a alimentação é complicada. Renato Aragão faz coro com Frota: — Acho errado animal até no zoológico. Qual o sentido de ter um urso polar no Brasil?

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