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Picadeiro

Quando era criança, ele ficava Tiririca da vida

Como palhaço, o artista Tiririca fala da infância e conta sobre o dia em que o circo dele literalmente pegou fogo. Como deputado, o político Francisco Everardo Oliveira Silva revela suas preocupações com as artes circenses no Brasil.  

Francisco Everardo Oliveira Silva, ou melhor, Tiririca, nasceu em Itapipoca, no Ceará, em 1º de maio de 1965. Aos sete anos e um tantinho, entrou no circo e se encantou. Antes preferia a magia de brincar na rua e soltar pipa.

Da falta de irmãos nunca se queixou: tem 27. São 18 por parte de pai e nove por parte de mãe.

Francisco Everardo explicou ao Panis & Circus como surgiu o Tiririca. Quando pequeno, ele via o padrastro bater na mãe e não podia fazer nada. Ficava tiririca da vida, ou seja, muito bravo. A mãe dizia: “Você é muito tiririca”. Ela é quem deu o apelido que o filho acabou por adotar como nome  artístico: Tiririca.

“Minha mãe era artista circense”, conta.

Tiririca fugia do circo para ficar na casa da avó porque não queria viajar o tempo todo. Preferia ficar com a avó e brincar com os amigos.

Mas a mãe insistiu e acabou por levá-lo para o circo. Lá, ele viu as crianças treinando acrobacias e ficou fascinado. Aprendeu a fazer de tudo: desde montar a lona, balançar no trapézio até fazer rir como palhaço.

Tiririca montou a própria lona e, em temporada numa cidade do Maranhão, o circo dele pegou fogo. É que um macaco mordeu a filha de um  coronel durante uma apresentação, e os capatazes dele botaram fogo no circo.

O artista voltou para o Ceará de carona e passou a participar do circuito do humor. Realizou shows em pizzarias e criou a Florentina. Com ela foi para a TV e fez sucesso.

Em 2010, elegeu-se deputado federal, em São Paulo, pelo Partido da República (PR), com a maior votação já obtida por um candidato nesse Estado: 1.348.295 votos.

Tiririca disse que considera uma agressão que o palhaço profissional seja comparado a parlamentares que erram e enganam no exercício de mandato. “O palhaço mesmo, o palhaço de circo, faz a coisa certa.”

Leia a entrevista completa com Tiririca

Panis & Circus – Como surgiu o nome Tiririca?

Tiririca – Foi o apelido que minha mãe me deu, porque fui criado por um padrasto e vi muito meu padrasto bater em minha mãe e não podia reagir e ficava muito bravo, muito tiririca, e minha mãe dizia: “Você é muito tiririca. Você não deve ser assim, a vida é boa”. Mas ficou o apelido.

No Nordeste, quando um menino está muito raivoso, eles dizem: “Você está tiririca da vida”. E eu assumi Tiririca como nome artístico. Tiririca é também uma planta, que é brava pra caramba e você não acaba com ela de jeito nenhum.

Circus – Você queria ser artista de circo? Como apareceu esse desejo de ser palhaço?

Tiririca – Eu nunca falei isso para ninguém, vou falar para “ti”. Eu detestava esse negócio de circo. Minha mãe era artista circense. Ela dançava, cantava, fazia cabelo de aço, que é um treco que a pessoa se amarra pelo cabelo, essas coisas de circo. E minha mãe me deixava na casa de minha avó em Fortaleza porque eu não gostava desse negócio de ficar viajando.

O circo viajava muito, eu tinha sete anos de idade, e eu gostava de ficar com meus colegas, de soltar pipa, de brincar… Minha mãe queria me levar para o circo e eu queria ficar na casa de minha avó.

Um belo dia, ela me levou para o circo. Eu, com sete anos e pouco, fiquei fascinado com as crianças do circo, fazendo acrobacias, fiquei fascinado com aquilo e acabei entrando no esquema. Fiquei no circo até os meus 28 anos. Depois segui meu lado comediante.

Circus – Você viajava com o circo?

Tiririca – Viajava muito. Viajava pelo Ceará, Piauí, Maranhão, pelo Nordeste. E nessas viagens virei palhaço e trapezista. No circo mambembe e no circo que não é muito grande, eu fiz quase tudo. Um artista no circo tem mesmo que saber fazer quase tudo.

Eu aprendi muito e montei um circo para mim, no Ceará. Depois fui com esse circo para o Maranhão, passei por várias cidades da região e em uma das cidades de lá tocaram fogo no meu circo. Voltei para o Ceará de carona e entrei no circuito de humor, que é muito forte por lá. Fazia shows em pizzarias e foi aí que nasceu a Florentina.

Circus– Por que colocaram fogo no seu circo?

Tiririca – Porque eu tinha um macaco no circo que mordeu uma criança, filha de um coronel. Na época, existia, no Nordeste, e ainda existe, o coronel que manda na cidade, e o coronel mandou os capangas dele tocarem fogo no circo.

Peguei meu filho e minha mulher (à época) e voltei para o Ceará de carona. Entrei no circuito do humor. Foi aí que lancei a Florentina e foi uma loucura.

Circus – Há cenas do circo que ficaram marcadas em sua infância e adolescência?

Tiririca – As minhas primeiras piadas, por exemplo, são cenas interessantes. O dono de um circo pintou a minha cara e a cara do filho dele com caras de palhaço. Deu certo comigo. Ele me ensinou umas piadas.

Eram piadas antigas pra caramba e eu fiz essas piadas e arranquei muito riso da plateia. Aí, coloquei na minha cabeça que era legal fazer o pessoal rir e passei a ser palhaço de circo, oficialmente. E fiquei muito tempo sendo palhaço de circo.

Circus – É difícil fazer as pessoas rirem?

Tiririca – Para mim não é difícil, não. É a minha profissão. É uma coisa que faço porque tenho o prazer de fazer, se torna fácil por eu gostar de fazer. No dia a dia, sou engraçado, mais engraçado com meus filhos do que no palco. Sou engraçado também no meio dos meus amigos, da minha família…

Circus – Como era sua primeira roupa de palhaço?

Tiririca – Eram umas calças largas, suspensórios coloridos, uma camisa grande, que a gente chamava de camisão, tipo vestido, que vinha até o joelho. Tinha mais uma gravata e os sapatos grandes, sapatos de palhaço mesmo. Tinha uma chupeta, um nariz pintado, que não era redondo, não, era tipo nariz do Pinóquio.

Aí, achei bacana, achei legal, e me profissionalizei como palhaço. Eu sempre estive em busca da criatividade. Nunca busquei imitar ninguém, queria criar um diferencial. Coloquei na minha cabeça que eu ia ser um palhaço, mas um palhaço diferente.

Eu buscava a diferença, usava brilho. Uma vez uma camisa minha rasgou e eu, que sei costurar, preguei lantejoulas nesse camisão-vestido que a gente usava. Deu brilho. Até hoje eu sou assim, busco fazer o diferente.

Circus – Como a diferença aparece na televisão?

Tiririca – Eu tirei a pintura do rosto e passei a me vestir diferente. Mas a TV e o circo são palcos muito diferentes. O circo é fantástico, você está ali em contato direto com o público.

O público do circo, principalmente no circo mambembe, é o mesmo público todos os dias. Você tem que estar sempre renovando as suas piadas, o seu jeito de apresentar. O circo dá essa liberdade, é essa escola de você aprender e fazer, estar sempre criando.

A televisão é mais fantasia. No circo é o seguinte: se você errou, você errou. O público percebeu ou não percebeu, você tem que continuar. Às vezes o público nem percebe que você errou e você está lá. Na televisão, não. Você errou, você volta. Aí grava tudo novamente. A televisão é assim.

Circus – Você frequentou alguma escola de circo?

Tiririca – Não. O circo é uma escola. Você entra no circo e aprende tudo. Tem que ter força de vontade e coragem. Desde pequeno, o artista de circo coloca seu filho no picadeiro. Com três anos de idade, já começa a fazer as coisas e vai aprendendo.

Eu já fui professor de uma escola de circo. Num bairro chamado Bom Jardim, em Fortaleza. O governo na época doava a lona de circo para você tirar as crianças das ruas e ensinar a elas as artes circenses.

Fui professor de trapézio nessa escola. Era complicado trabalhar com as crianças. Mas eu fiz muitos artistas, que começaram comigo nessa escola e depois viajaram por todo o país com os circos.

Circus – Na Câmara dos Deputados, você tem algum projeto sobre o circo?

Tiririca – Como artista e como deputado, estou lutando muito pela escola para os filhos dos artistas circenses, porque é muito difícil você estudar e ser de circo. Passa 15 dias num local, em seguida, mais 15 em outro.

Ser itinerante é próprio do circo, mas é difícil para o aprendizado. Eu fiz um projeto e tomara que seja aprovado, que é justamente o de levar a escola para o circo. Porque aprendi assim, dessa forma.

A minha mãe, como eu não tinha condições de estudar, na época, vivendo no circo, ela pagava uma pessoa para nos ensinar. O circo ia e a pessoa ia junto para nos ensinar. Mas isso é muito difícil, complicado.

Circus – Você tem outros projetos para apresentar na Câmara?

Tiririca – O circo é uma escola fantástica. Eu tenho um projeto, difícil de implantar, que diz respeito à localização dos circos nas cidades. Os circos não têm muitas condições e as autoridades exigem muitas coisas, muita burocracia para a sua implantação.

Com isso está acabando o que chamamos de praça, que é o local onde se monta o circo. Estão acabando com isso. Nos locais em que o circo ficava, estão construindo quadras de esporte, essas coisas, e deixando o circo de lado. Estamos lutando para resolver isso aí.

Circus – E os incentivos financeiro e cultural para o circo?

Tiririca – São um problema, o circo precisa de muito incentivo. Do próprio Ministério da Cultura, dos governos estaduais e municipais… Estive numa cidade em São Paulo onde o prefeito disse que não queria que lá faltasse circo. Mas não é toda cidade que aceita a presença do circo, não.

Ainda existe um preconceito grande contra o circo. Nós temos muitos circos pelo país, que vivem somente da arte do circo, e temos famílias tradicionais, que só vivem do circo. Está faltando muito incentivo para as artes circenses.

Circus – Quando foi eleito deputado federal, houve preconceito, discriminação, não queriam que você tomasse posse. O que acha disso?

Tiririca – O povo não me discriminou. Votou em mim. Confiou em mim. Esses votos caíram no colo de muita gente que teve que engolir seus preconceitos.

Circus – O que acha de chamarem o Congresso de circo e os parlamentares de palhaços quando a atuação deles deixa a desejar e eles falam bobagens?

Tiririca – Acho uma agressão para o palhaço profissional. Mas os palhaços vão sempre entender essa comparação, levar como uma palhaçada, e eles levam assim… Parece que tudo que se faz de errado é uma palhaçada e isso não é verdade. O palhaço mesmo, o palhaço de circo, faz a coisa certa.

Circus – Você viajou muito com a lona do circo. Tem alguma dica de cidade para visitar?

Tiririca – Vou puxar a sardinha pro meu lado. Conheço muitas cidades, mas digo que o Ceará tem tanto lugar para se visitar. O Nordeste tem lugares lindos. Muita gente procura conhecer cidades lá fora, mas precisa conhecer aqui dentro.

Circus – No Ceará, quais cidades?

Tiririca – No Ceará, temos várias cidades. Itapipoca, onde nasci. Lá é sertão e serra. É impressionante. As praias do Ceará são muito bonitas. Jericoacoara, Canoa Quebrada…

Circus – Qual é sua comida preferida?

Tiririca – Arroz, feijão e ovo. Eu adoro. Adoro. É o prato do brasileiro. Não pode faltar.

Circus – Com uma pimentinha?

Tiririca – Claro, com uma pimentinha, principalmente se for dedo-de-moça. Eu adoro. Ela é bem puxada. Baiano gosta muito dessa aí. E o cearense também. Com uma farinhazinha, então, é bom pra caramba.


Projetos do Tiririca

Em 7 de junho de 2011, Tiririca apresentou projeto de lei e enviou requerimentos à ministra da Cultura, Ana Buarque de Hollanda, e para o então ministro da Educação, Fernando Haddad. Ele quer que sejam criados programas de amparo às pessoas e famílias que exercem atividades circenses e de diversões itinerantes.

Tiririca pediu à ministra da Cultura, por meio de requerimento, que ela informe sobre programas, ações de amparo e incentivo à atividade circense desenvolvidos pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) e pelo Ministério da Cultura.

Por meio desse questionamento, o deputado quer detalhes sobre a atuação do Programa de Fomento ao Circo, que incorporou ações como os projetos Lona Nova, Apoio a Novos Números, Distribuição de Bolsas para a Escola Nacional de Circo e Ampliação do Prêmio Funarte Carequinha de Estímulo ao Circo.

Ao mesmo tempo ele quer obter do Ministério da Educação dados sobre educação, artes e atividades circenses. Entre as questões deseja saber se o MEC tem estatísticas referentes à educação de adultos e crianças artistas de circo, o número de alunos em idade escolar que são integrantes de circos, o número de professores (e respectiva habilitação) que acompanham os circos e o tempo de permanência dos alunos de circo nas escolas durante o ano letivo.

No “Globo” de 3 de fevereiro, em reportagem intitulada Sarney abre legislatura em tom de despedida, à página 11 do caderno “O País”, está escrito: “O deputado Tiririca (SP), o mais assíduo do ano passado, já aprendeu qual é o ritmo da Câmara e previu que muito pouco se trabalhará nas duas casas neste ano por causa da eleição. ‘Acho que vai ser morno para caramba por causa da eleição, mas eu estarei firme e forte. Vai ser muito difícil, mas vou tentar aprovar o projeto que regulamenta a atividade do circo’, disse Tiririca.”

Antonio Marcello, de Brasília, especial para Panis & Circus


“Tiririca desiste de candidatura a prefeito de São Paulo”

O deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca (PR-SP), que teve mais de 1 milhão de votos na eleição de 2010, desistiu de disputar a Prefeitura de São Paulo, segundo notícias de “O Estado de S.Paulo”, “Folha de S.Paulo” e G1 – site do jornal “O Globo”, em 11 de abril de 2012.

“Mal comecei a campanha e já acabou. Eu não estou preparado para isso e no partido não me falaram mais nada sobre essa candidatura. Disseram que iam fazer pesquisa e não me procuraram mais. Então eu não vou ficar alimentando isso. Estou fora”, afirmou Tiririca ao jornal “O Estado de S.Paulo”.

Acrescentou ainda que vai focar a atenção em projetos que apresentou em defesa de artistas de circo.  “Quero mostrar que um palhaço pode fazer coisa séria”. (Ver acima esses projetos circenses na entrevista de Tiririca ao Panis & Circus)

Ao G1, do “Globo”, Tiririca também disse que pretende trabalhar pelos profissionais de circo, onde já atuou antes da carreira parlamentar. “Você tem que abraçar uma causa”, afirmou, defendendo a realização de um censo escolar entre as crianças que vivem em circos e uma pesquisa geral sobre os profissionais e os dados do setor.

 


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One Response to "Quando era criança, ele ficava Tiririca da vida"

  1. rebeca disse:

    kkkkkkkkkkkkkk
    Esse tiririca é uma piada!!!

    “minino, minino”….

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