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“Corteo” estende temporada no Rio
“Corteo” é uma festa para os olhos
Janaina Leite
Ninguém tem mais consciência da proximidade da morte e do mistério da vida que um palhaço. Por isso ele ri e faz graça, sempre a um passo da melancolia. Por isso ele nos aponta a contradição e o presente, as matérias-primas do mundo.
Eis o apelo de “Corteo”, espetáculo escrito e dirigido em 2005 por Daniele Finzi Pasca para o Cirque Du Soleil. De lá para cá, mais de 6,5 milhões de pessoas, espalhadas por 40 cidades e oito países, assistiram a um desfile de música, sonho, tristeza, memória, ingenuidade e beleza.
“Corteo”, em italiano, quer dizer “cortejo”. Seu enredo baseia-se em um palhaço que imagina o próprio funeral. Os espectadores são convidados a acompanhá-lo nessa viagem, enquanto mente e coração vagueiam entre símbolos e lembranças que evocam imagens clássicas das apresentações circenses. Estão ali o homem e o menino, ilusão e realidade, acidez e ternura, intuição e técnica.
O picadeiro, em “Corteo”, é explicitamente sagrado. Quem olha para ele vê a reprodução da mandala labiríntica gravada no chão da Catedral de Chartres. É um aviso: o palhaço, a parte de nós que ri e faz rir, que não cresce e partilha da sabedoria vinda da simplicidade, percorrerá um caminho sinuoso, repleto de enganos, até encontrar o centro de si.
Tocante é perceber alguns truques cênicos calcados na simplicidade, como os sapatos que andam sozinhos, a bola de golfe que é uma cabeça, o Mozart assoviado. O mérito de “Corteo” está em servir como ponte entre os holofotes gigantes e o encantamento quase infantil, mesmo diante dos números grandiosos do Soleil – nascido na década de 80 com uma trupe de rua, o Cirque é hoje uma empresa com mais de 5 mil artistas.
Não falta, porém, o que enche os olhos. Moças voam em candelabros de cristais, homens vitruvianos rodam dentro de círculos, anões são carregados por balões, contorcionistas viram enguias dançando o tango, anjos levitam e bicicletas sobem ao céu – tudo faz parte do “Corteo”, partida e chegada.
Humanos, lembra a história do diretor italiano, estão aqui de passagem. A consciência da finitude é o que nos ajuda a definir a qualidade dos atos. Como dizia La Rochefoucauld, a morte é como o Sol, não se pode olhar de frente. Por isso existem o palhaço e a arte, filtro e forma. Antecipação.
Fotos: Divulgação
Postagem: Alyne Albuquerque
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