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“Vizinhos” flerta com o surrealismo
Maíra Campos e Daniel Pedro em “Vizinhos”/Foto Asa Campos
Da Redação*
“Vizinhos” traz uma história sobre a vida a dois, em estilo entrecortado e poético, explorando o teatro físico, o de objetos e atrações de equilibrismo e acrobacias.
A aramista Maíra Campos e o acrobata Daniel Pedro são os atores e circenses do espetáculo, conceberam a dramaturgia e assinam a trilha sonora junto com a diretora Lu Lopes, a palhaça Rubra.
Maíra Campos vira “coelhinha” em cena/Foto Asa Campos
Vizinhos”, primeira montagem da Cia. Artinerant´s – arte em movimento – criada em 2013 por Daniel Pedro e Maíra Campos, que trabalham juntos desde 2003, no Circo Zanni, é um espetáculo que apresenta o cotidiano de um homem e uma mulher, em que objetos domésticos se transformam e assumem novas funções, flertando com o surrealismo. É o caso de um sofá que vira um trampolim e um varal que vira um fio para o exercício do equilíbrio do dia a dia em corda bamba.
Daniel Pedro, o vizinho, e o livro que pega fogo literalmente/Foto Asa Campos
O cenário que conta objetos como sofá, cama, mesa, cadeiras e rádio remete a uma casa comum. Surge então os personagens da trama: um homem (Daniel Pedro) e uma mulher (Maíra Campos) que iniciam sua rotina diária de forma automática. O público imediatamente é convidado a ser “voyeur” desta relação e observar a intimidade desses ‘vizinhos’.
Em movimentos antagônicos, os moradores da casa demonstram as ações do dia: ele come, ela escreve, ele tenta ler o que ela escreve, ela tenta comer a comida dele. Trocam e destrocam os afazeres. Iniciam precisos movimentos circenses realizados a partir de objetos como cadeiras e mesas.
Varal, que se torna um fio, em cenas de equilíbrio do cotidiano/Foto Asa Campos
A mulher se equilibra com perfeição de ponta cabeça, em um movimento de força e concentração. O homem senta-se na poltrona para ler e se diverte com a leitura. De repente o livro desaparece e ele é engolido pelo sofá, que se transforma em um trampolim. E o livro literalmente pega fogo em suas mãos.
Em dado momento, o varal de roupas situado no centro do cenário, passa a ser o arame no qual a mulher equilibra-se passo a passo, em uma metáfora com a vida em corda bamba, e gera apreensão ao trocar de roupa sobre o fio suspenso, utilizando apenas uma das mãos.
Os Vizinhos vão demonstrando por meio de movimentos dançados e números de circo, situações cotidianas. Eles mesclam cenas leves e divertidas, a cenas conflituosas e até de puro “nonsense”.
Não falta uma chuva de plumas, originária de uma guerra de travesseiros, ao som de “He Venido”, com Los Zafiros.
Guerra de travesseiros em “Vizinhos”/Foto Asa Campos
“A estética circense está presente em “Vizinhos”, só que fundida à arte conceitual e à popular, como na cena da ginasta dançarina com a cabeça de touro, com coreografia ao som do sertanejo, meio forró, “Você Não Vale Nada”, de Dorgival Dantas na versão da cantora Tiê”, segundo comentário da jornalista Mônica Rodrigues da Costa.
O espetáculo é repleto de imagens de impacto, acrobáticas e de equilíbrio, e faz referência a uma gravação que fala da relação entre os escritores franceses Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Privilegia a ironia e brinca com a emoção.
Ficha técnica: “Vizinhos”
Duração: 60 min.
No Teatro Anchieta – Sesc Consolação – rua Dr. Vila Nova, 245 – Vila Buarque
01.04 – sábado – às 21 horas
02.04 – domingo – às 18 horas
R$ 12,00 – comerciários
R$ 20,00 – meia entrada
R$ 40,00 – inteira
* Colaborou Luciana Gandelini