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Costureiro e historiadora discutem “Circo e Moda”

 

 

O costureiro Rodrigo Fagra e a historiadora Erminia Silva falam do estilo e da história do circense no Centro de Memória do Circo   

Antonio Gaspar, especial para Panis&Circus

O costureiro Rodrigo Fraga anunciou que estuda relançar a coleção produzida há 14 anos inspirada no circo e, em especial, nos figurinos do palhaço Benjamin Oliveira. A revelação foi feita durante o encontro “Circo e Moda”, promovido pelo Centro de Memória do Circo, em São Paulo, que contou ainda com a participação da historiadora Erminia Silva, em 25/8.

“Benjamin fez estilo com seus figurinos ousados, contextualizados, com o cuidado de discutir com os autores das peças todos os detalhes da indumentária. Foi assim que o picadeiro se abriu para as artes do palco”, explicou Fraga, que mergulhou no universo estético do palhaço para produzir a sua coleção.

 

Benjamin Oliveira e seus personagens / Foto Divulgação

 

“Quando lancei minha coleção não tinha as condições de hoje. Penso em relançá-la me valendo dos meios que disponho agora”, disse Fraga, que doou ao Centro os trabalhos gráficos em que se baseou para produzir seus figurinos.

 

Desenhos da coleção de Fraga inspirados no Palhaço Benjamin / Fotos Asa Campos

 

 

Benjamin e a coroa de capim

O primeiro contato do mineiro Fraga com o circo foi logo após a sua chegada de Londres, onde passou anos estudando. Convidado a desenvolver um figurino para um espetáculo de uma escola de circo de Belo Horizonte, ele mergulho no mundo circense. “Um dia, vi um pôster muito bonito na escola, com uma figura muito bacana, de cartola, muito elegante. Achei a figura instigante”, conta o estilista.

 

Modelos da coleção de Fraga sobre Benjamin Oliveira / Foto Asa Campos

 

A pesquisa o levou à Funarte, no Rio. “Foi assim que começou minha história sobre o palhaço Benjamin. Aí pensei: posso usar a moda como instrumento de comunicação”, explica Fraga.

Na Funarte descobriu uma das facetas mais importantes de Benjamin, antes de ser famoso. Um palhaço importante adoeceu.  Benjamin teve de substitui-lo. Não conseguia sucesso com a plateia até que lançaram uma coroa feita de capim para ofendê-lo. “Foi aí que ele pega a coroa e disse: se deram a Jesus uma cora de espinhos, porque não a mim uma coroa de capim.” A partir desse dia, segundo Fraga, começou a crescer como artista e a ter inúmeros seguidores.

 

Divergências na história do artista

Ronaldo Fraga e Erminia Silva / Foto Asa Campos

 

Se há divergências sobre se Benjamin Oliveira foi o primeiro palhaço negro do Brasil e criador do circo-teatro, há consenso sobre a importância e o papel desempenhado pelo personagem na história do circo.

Com base em pesquisa realizada na Fundação Nacional de Artes (Funarte), no Rio, Fraga afirmou que Benjamin foi o primeiro palhaço negro do mundo e o primeiro ator negro do Brasil. A historiadora Erminia Silva, quarta geração de uma tradicional família de circo, explicou que Benjamin não foi o primeiro palhaço negro do país. Antes dele, inúmeros negros anônimos trabalharam em circos.

Fraga salientou que Benjamin viveu em um mundo em transição. Filho de escravos, viu a chegada da República, “encantou o presidente Floriano Peixoto”, e levou espetáculos a um Rio de Janeiro desolado pela gripe espanhola. Morreu em 13 de maio de 1954, aos 84 anos.

 

Coleção de Fraga inspirada no Palhaço Benjamin / Foto Asa Campos

 

 

Protagonismo do circo na cultura brasileira  

Durante o encontro mediado por Verônica Tamaoki, do Centro de Memória do Circo,  Erminia Silva, autora do livro “Circo-Teatro: Benjamin de Oliveira e a Teatralidade Circense no Brasil”, contou que, quando escrevia sua tese de mestrado, queria falar da história do circo a partir do olhar circense. “E a figura de Benjamim passou por mim. ”

No doutorado, a historiadora lembrou que já tinha uma visão diferente da questão da pesquisa sobre o circo e da produção circense. “Quando comecei a fazer a pesquisa de mestrado eu era uma das pessoas que dizia que não havia nada escrito sobre o circo no Brasil”, afirmou.

Mas aí descobriu que havia muita coisa escrita e a ser escrita. “Uma das principais fontes que já existia e de que lancei mão foi a fonte oral dos próprios circenses”, conta Erminia. A partir delas, a pesquisadora começou a conhecer um circo e uma produção circense por ela desconhecidos e a perceber o protagonismo dessa atividade no patrimônio cultural brasileiro.

“Peguei na ‘mão’ de Benjamin não para fazer uma biografia, se bem que sempre tem traço biográfico nas pesquisas que a gente faz, mas para entrar naquele circo que eu desconhecia. E o que ele me revela? Primeiro que não foi o primeiro palhaço negro, que não foi com ele que começou o circo-teatro.” Mas a questão que ficava era a seguinte: qual a razão do senso comum em torno do nome dele?

 

Erminia Silva autografa seu livro "Circo Teatro - Benjamin Oliveira e a Teatralidade Circense no Brasil" /Foto Divulgação

 

 

Benjamin fugiu com o circo aos 12 anos

Erminia relembrou alguns aspectos da história que descobriu de Benjamin, um garoto que, aos 12 anos, fugiu da família ao ser arrebatado pelo encantamento de um circo que chegou à sua cidade.

Era o ano de 1882 e a cidade, Pará de Minas.  Benjamin tinha como pai um caçador de escravos fugidos e uma escrava doméstica com mãe. Ao pesquisar sobre Benjamin na cidade mineira, Ermínia descobriu a existência de uma rua com o nome Artista Benjamin de Oliveira. O ex-vereador, autor do projeto, disse ter proposto o nome porque alguém havia dito que se tratava de um artista muito importante no Rio.

Ao fazer a pesquisa nos arquivos locais o personagem ganhou vulto. “Hoje tem estátua, festejos populares”, conta Ermínia. “Quando pego na mão de Benjamin, é para contar a história dos circenses. Quando falo dele, falo no coletivo, nos grupos de homens, mulheres e crianças que construíram essa história.”

 

Artista negro só tinha lugar no circo  

Segundo Erminia, “o único lugar em que os negros eram artistas era no circo”.  Um mês depois de ter entrada para o circo, Benjamin já fazia número simples de trapézio e volume nas pantominas. “Nesse período, era impensável estar no circo e não ser artista. Ser artista significava conhecer todo o processo de produção daquilo que se chamava espetáculo de circo.”

O circo foi fundamental ainda na disseminação de ritmos, conforme revela a sua pesquisa. “Não teríamos essa diversidade se não fossem os palhaços cantores”, explicou a historiadora. “Os primeiros a gravar discos no Brasil foram os palhaços cantores, em 1903.” O pai de Pixinguinha foi um palhaço cantor. “Noventa por cento dos artistas que estão na história oficial do teatro e da música até 1950 passaram pelo circo.”

 

Verônica Tamaoki, Ronaldo Fraga, Erminia Silva e Marlene Querubin (Circo Spacial) / Foto Asa Campos

 

 

Clique aqui para ler a reportagem de Erminia Silva que fala do palhaço Benjamin

 

 

Postagem – Alyne Albuquerque

 

 

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One Response to "Costureiro e historiadora discutem “Circo e Moda”"

  1. Verônica Tamaoki disse:

    Adorei. Parabéns, Pannis & Circus pela bela reportagem!

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