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Abertos editais do ProAC 2013, informa Mattos Araújo

Marcelo Mattos Araújo toma posse como secretário estadual da Cultura e recebe os cumprimentos do governador Geraldo Alckmin / Foto Divulgação

Festival Paulista de Circo é o único do país patrocinado integralmente pelo governo do Estado de São Paulo, diz Marcelo Mattos Araújo, secretário estadual de Cultura
Bruna Galvão

 

As inscrições para os editais do Programa de Ação Cultural (ProAC), para os projetos circenses estão abertas e se estendem até o dia 16 de outubro, informa o secretário Marcelo Mattos Araújo, em entrevista ao Panis & Circus.

Os editais abrangem as áreas de montagem e temporada, artes cênicas para rua e manutenção para circo itinerante. As inscrições podem ser feitas no site, clicando aqui.   

Em 2012, “o ProAC beneficiou 55 projetos por meio de um investimento de R$ 1,7 milhão de reais”, destaca Araújo.

Entre os investimentos governamentais feitos na área circense, o secretário cita o Festival Paulista de Circo. Segundo ele, esse festival “é um 

dos poucos – se não o único do país – que tem patrocínio integral do  governo do Estado. E mais, acontece apenas no interior e dá igual peso ao circo tradicional paulista e ao circo contemporâneo”.

A 6ª edição do evento ocorreu de 12 a 15 de setembro, em Piracicaba, distante 160 km da capital.

Clique aqui para ler a reportagem Festival Paulista de circo fez a festa em Piracicaba. 

Clique aqui para ler a reportagem Um dia na vida do circo.

 

 

O secretário destaca também as Fábricas de Cultura, que ensinam técnicas de circo e devem abrir duas unidades até o final do ano em Brasilândia e Cidade Tiradentes. O Circuito Cultural Paulista, lembrou Araújo, incentiva os grupos circenses a percorrerem todo o Estado. Até o final do ano, cerca de 150 espetáculos vão ter sido realizados dentro do circuito.

Apesar disso, na visão do entrevistado, o circo ainda sofre com a falta de recursos por parte dos órgãos públicos e a burocracia para o repasse de verba é uma das justificativas. Ele dá sua opinião sobre projetos municipais e federais, como a sugestão da emenda feita pelo deputado Tiririca à capacitação dos circenses. Está tudo pronto, informa, falta apenas a aprovação do Ministério da Cultura para ser colocado em prática.

Sobre o Vale Cultura, o secretário afirma estar curioso para ver o resultado, uma vez que o “programa inverte a lógica do incentivo ao colocar o investimento na mão do consumidor em vez do produtor cultural”.

Araújo defende uma agenda suprapartidária é o caminho para superar os graves entraves ao desenvolvimento da cultura no país.

Confira a entrevista:

 

Panis& Circus: Qual o incentivo do Estado para as atividades circenses?

Marcelo Mattos Araújo: Nós trabalhamos com o circo em vários programas da Secretaria como o de formação, de difusão, de fomento. Todas as unidades das nossas Fábricas de Cultura oferecem aulas de circo em várias modalidades, sempre com um número grande de aprendizes interessados. Hoje já são oito Fábricas e mais duas serão inauguradas até o fim do ano [Cidade Tiradentes e Brasilândia] – bairros da periferia de São Paulo.  

Espetáculos de circo também são presença marcante na programação de nossos eventos de difusão cultural, como a Virada Cultural Paulista e o Circuito Cultural Paulista. Entre agosto e setembro, por exemplo, seis grupos circenses fazem oito apresentações no Circuito Cultural, sempre em cidades do interior e litoral.

Na área de fomento, temos editais do ProAC [Programa de Ação Cultural] especificamente destinados a espetáculos circenses e apoio à manutenção de circos itinerantes. No ano passado, o investimento foi de R$ 1,75 milhão, beneficiando 55 projetos. Os editais deste ano já foram lançados. [Esses editais foram lançados em 2/9 e se estendem até 16/10].

E, claro, temos o Festival Paulista de Circo, que desde o ano passado acontece em Piracicaba. Este ano, ele ocorreu de 12 a 15 de setembro.

 

 

Circus: Como vê os Festivais de Circo de Belo Horizonte e Recife que tem o patrocínio dos governos dos Estados e dão grande destaque ao circo contemporâneo. O Festival de Piracicaba está mais centrado no circo tradicional? Tem espaço para o circo novo?

Araújo: São todos festivais importantes e muito interessantes, mas eles diferem do Festival Paulista de Circo em um ponto importante: o nosso é inteiramente realizado pelo Governo do Estado de São Paulo, sem patrocínios externos. Contamos apenas com o apoio da Prefeitura. É um dos poucos – se não o único do País – que acontece exclusivamente no interior e que dá igual peso ao circo tradicional paulista e ao circo contemporâneo. Eventualmente, há uma ou outra atração internacional, mas nosso foco é a valorização dos artistas locais e a promoção da oportunidade de convivência e troca entre os grupos das duas vertentes. Além disso, todas as apresentações são gratuitas para a população. Junto com a Prefeitura, organizamos atividades pedagógicas para as escolas locais, o que tem uma importância muito grande para a formação de novas plateias para o circo.

 

Circus: O Festival de Circo que ocorreu em Piracicaba, de 12 a 25/9, deve ser considerado o grande investimento do Estado na atividade circense?

Araújo: Não diria que há um projeto que se destaque em termos de investimento. Nosso trabalho com o circo, como eu disse, é contínuo.

 

Circus: A Secretaria de Cultura do Estado tem um programa anual de incentivo aos grupos circenses que percorre cidades do interior e do litoral a exemplo do que é feito hoje pelo Sesc?  

Araújo: Temos, sim. O Circuito Cultural Paulista tem exatamente esta finalidade. Trata-se de um programa contínuo que promove um espetáculo por mês em cada uma das 95 cidades participantes, totalizando 38 apresentações em cada cidade. A temporada vai de março a novembro – com uma pausa em julho – abrangendo várias linguagens artísticas. O circo entra no programa com o mesmo peso da música, da dança e do teatro. Apenas no  bimestre (agosto e setembro) vamos ter 38 apresentações circenses. Em um ano, são cerca de 150.

 

Circus: O 1º Festival Internacional de Circo do Sesc, que aconteceu, em maio de 2013, em São Paulo, teve todos os espetáculos lotados e trouxe grupos nacionais e internacionais de qualidade. Ou seja, tem público para a cultura circense de qualidade. Como vê o fato de muitos afirmarem que o Sesc tornou-se uma das principais referências culturais de São Paulo?   

Araújo: O Sesc tem um papel bastante importante na circulação da cultura em São Paulo e vem sendo parceiro da Secretaria de Estado da Cultura em diversas de nossas iniciativas. Governo e Sesc não são concorrentes, pelo contrário, e nem poderiam ser. Todo o investimento em cultura é bem-vindo e necessário. A cultura é a expressão da identidade de um povo e, por isso, ela não pode e nem deve ser fomentada exclusivamente por um ente ou outro. Quanto maior a participação de todos na produção e promoção da cultura – poder público, empresários, sociedade civil, artistas independentes – melhor.

 

Marcelo Mattos Araújo e Rosângela Camolese, secretária municipal da Ação Cultural, durante Festival Paulista de Circo, em Piracicaba/2012 / Foto Divulgação

 

Circus: O senhor afirmou que o circo é uma área que tem surpreendido pela vitalidade, mas que enfrenta enormes carências. Quais são as carências e vitalidades do circo tradicional e do circo novo?

Araújo: As duas vertentes do circo têm características próprias e carências também específicas. Mas, em comum, acredito que ambas padecem de dificuldades em encontrar financiamento e apoio externo para suas atividades. Do que tenho observado como secretário, vejo que o circo tradicional itinerante tem mais dificuldades, por exemplo, de acessar os recursos disponibilizados pelo poder público. Mesmo que seja mínima, há sempre alguma burocracia envolvida no repasse do dinheiro público via leis de incentivo, e alguns grupos ainda estão aprendendo a trilhar esse caminho. Nesse sentido, a atuação das cooperativas tem sido importante na orientação aos grupos circenses sobre como formatar um projeto e organizar a documentação necessária.

Além da questão do financiamento, o circo tradicional enfrenta a ausência quase completa de infraestrutura em suas itinerâncias – espaço para armar a lona com energia elétrica e instalações hidráulicas, por exemplo.

O circo contemporâneo, por sua vez, faz produções mais caras, o que torna seu financiamento difícil em função do volume de recursos necessários.

 

Verônica Tamaoki, do Centro de Memória do Circo, recebe o prêmio "Governador do Estado" de Marcelo Mattos Araújo / Foto Divulgação

Circus:  A emenda do deputado Tiririca no valor de R$ 3 milhões está sendo destinada à capacitação de técnicos?

Araújo: Esta é a proposta. À pedido do próprio deputado, 50% desta verba será investido em um projeto de capacitação de grupos circenses, que ocorrerá durante uma semana em uma lona montada na Capital. A ideia é selecionar nove grupos por meio de editais, sendo três de pequeno porte, três de médio e três grandes, para trocar experiências entre si e com artistas convidados, inclusive internacionais.

No fim de semana, haverá apresentações gratuitas para a população.

Os 50% restantes iriam para o Projeto Guri, nosso programa de formação musical para crianças.

O projeto foi submetido ao Ministério da Cultura, respondemos todas as dúvidas, enviamos todos os documentos necessários e agora estamos aguardando a aprovação para que a emenda seja liberada.

 

Circus: Em 2012, o site Panis & Circus questionava  o então secretário de Cultura do Município, Carlos Augusto Calil, se o circo não ficaria órfão com a saída dele da secretaria. E ele respondia: “Vocês conhecem o novo secretário estadual da Cultura? Marcelo Mattos Araújo tomou posse, ele é um luxo, então, às vezes, as surpresas podem ser boas…”  O senhor conversou com Calil sobre o circo?

Araújo: Fico muito feliz com o elogio do Calil. Sim, conversei com ele sobre varias questões, entre elas sobre o circo.

 

Circus: Por que é tão difícil criar a Praça do Circo e a Escola do Circo defendidos por Calil? Ele acreditava que existia um preconceito contra o circo tradicional. O senhor acredita que exista mesmo o preconceito?   

Araújo: Os projetos mencionados são da Prefeitura e eu não os conheço em detalhes suficientes para dizer qual foi o ponto de dificuldade na implantação. Mas concordo, sim, que há algum preconceito contra o circo tradicional, que tem a ver com uma certa resistência da sociedade ao modo de vida itinerante. Daí a importância do apoio do poder público para garantir a continuidade dos grupos tradicionais. Eles têm um saber que é muito próprio e deve ser preservado e estimulado.

 

Circus: Já ouviu falar do Novo Polo Europeu do Circo na Itália – Festivais de Mirabilia e Pennabilli? E do Festival de Demain na França? E o de Monte Carlo?  

Araújo: Ainda não conheço esses festivais, mas, evidentemente, adoraria a oportunidade.

 

Clique aqui para ler reportagens do Panis & Circus sobre o Festival de Mirabilia e Penabilli na Itália.

Clique aqui para ler reportagem do Panis & Circus sobre o Festival de Monte Carlo, “New Generation” comandado pelas princesas de Mônaco.     

 

Circus: O senhor afirmou em entrevista, no começo do ano, que o grande desafio é a constituição de um público para a Cultura. E não acredita que o Vale Cultura vá ter um grande papel nesse ponto. Continua com a mesma opinião?

Araújo: Na verdade, eu disse que estou bastante curioso com o resultado do Vale Cultura, pois o programa inverte a lógica do incentivo ao colocar o investimento na mão do consumidor em vez do produtor cultural.

Agora, há um grande desafio a ultrapassar: em grande parte do Brasil não há teatros, cinemas ou mesmo livrarias. Ou seja, falta oferta de bens culturais que possam ser acessados por meio do Vale Cultura. Esta dificuldade já foi identificada e mencionada pela própria ministra Marta Suplicy.

 

Circus: Está sendo possível construir uma agenda suprapartidária na questão cultural com o secretário Juca Ferreira e a ministra Marta Suplicy?  

Araújo: O diálogo é aberto tanto com a Ministra quanto com o secretário Juca Ferreira. Temos todos, penso, a mesma crença de que a cultura tem desafios enormes a ultrapassar e que apenas com uma agenda suprapartidária será possível conquistar avanços.

 

Circus: Quais as principais referências que o senhor tem na arte circense?

Araújo: Tenho as referências de infância e juventude dos circos que faziam temporada em São Paulo. Já adulto, tive contato com o trabalho desenvolvido pelos Parlapatões. E agora, como secretário, tenho o privilégio de retomar o contato com o mundo circense de uma forma muito mais ampla e profunda. 

 

 

Postagem: Alyne Albuquerque 

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