Arte em Movimento
Virada: Zanni fica longe de seu grande público
Da Redação*
O novo modelo de Virada Cultural adotado pela Prefeitura de São Paulo, com descentralização dos eventos por bairros e zonas centrais da cidade, mostra que pode ser uma saída interessante para artistas e público, mas tem um caminho a percorrer e requer mais empenho dos organizadores para atingir esse objetivo.
No caso das artes circenses, os organizadores recuperaram um histórico território para o mundo do circo com a programação de apresentações no Largo do Paissandu. Mas a descentralização imaginada com o uso de espaços no Parque do Anhembi não deu certo e frustrou público e artistas.
Um dos circos mais prestigiados do país, o Zanni, escolhido para apresentação no Anhembi, sofreu com o tipo de palco definido para apresentação de shows musicais, distante da plateia, a falta de energia e a dificuldade de acesso do público. Uma pane elétrica deixou o palco sem luz por volta das 21h50, no sábado, 20/5.
Antes do apagão foram apresentados alguns números como malabares, poltrona e bambolê.
“Sem luz no palco não enxergamos nada. Vamos parar até que o problema seja resolvido”, avisou um dos integrantes da trupe. A demora na solução desmobilizou o público e os artistas. O show acabou por não ser retomado.
Mas esse foi apenas um dos problemas enfrentados pelo grupo circense, conforme reportagem publicada pela Folha de S. Paulo. O outro se refere à escolha do local de apresentação dos artistas circenses: um palco distante do público entre shows de Daniela Mercuri e Fafá de Belém.
“Fazemos um tipo de arte para ficarmos próximo ao público, mas aqui tivemos de nos apresentar distante das pessoas e ainda entre shows musicais”, lamentou Marcelo Lujan, um dos integrantes do Zanni, grupo que tem entre seus fundadores o ator Domingos Montagner, que perdeu a vida durante as filmagens de uma novela no Rio São Francisco, em setembro de 2016.
Pablo Nordio, outro membro da trupe, indica o caminho a ser observado pelos organizadores na próxima Virada. “Sempre participamos da Virada, mas em locais onde havia apresentações de teatro, circo, com um público voltado para esses tipos de arte.”
A artista Lu Menin descreveu para o Panis & Circus o vivenciado no Anhembi. “O roteiro contava com a banda e os músicos convidados Nereu Afonso e Renato Farias, números como o da poltrona acrobática (Daniel Pedro), bambolê (Daniela Rocha-Rosa), cadeira (comigo), mesa acrobática (Daniel Pedro e Maíra Campos) e equilíbrio de pratos (Érica Stoppel), malabares e palhaçaria. Mas, um erro de programação esvaziou a plateia. No centro da cidade estava o palco do circo. E o Zanni entre Daniela Mercury e Fafá de Belém. Não fazia sentido. Não fez.” E finalizou afirmando: “pensar em levar o espetáculo para periferias e lugares que não têm acesso à cultura, sim! Mas levar pro Anhembi isolando e enfraquecendo o evento, não!”
O próprio secretário Municipal de Cultura, André Sturm, admitiu falhas ao tratar da pouca visitação registrada no Anhembi. “É claro que a inovação comporta parte de risco”, disse em artigo publicado na Folha de S. Paulo.
Público critica organização
Quem conseguiu chegar ao local da apresentação para ver o Zanni se mostrava aborrecido, segundo a Folha de S.Paulo. A documentarista Laila Valoiz, que levou o marido e o filho para ver o espetáculo criticou a estruturada do local. “Tive de pagar R$ 40 e deixar o carro superlonge. Essa apresentação, que seria mais infantil, ficou longe da gente, lá no palco, difícil para as crianças acompanharem. Meu filho pouco pode ver.”
A atriz Estefania Zanaro, reclamou da dificuldade para chegar ao Anhembi. Ela e seus três amigos tiveram de descer na Estação Tietê e depois seguir a pé até o local. “Aqui é superdifícil de chegar usando transporte público. É desgastante e desrespeitoso”, disse.
Se o Anhembi não foi uma escolha acertada para o Zanni, o Paissandu foi elogiado por Elisa Betti, professora, ao afirmar ao Panis & Circus que “essa Virada privilegiou o circo mais que as anteriores e pena que o Zanni ficou tão longe da gente”.
*Colaborou Antonio Gaspar e Lu Menin